Arquivo mensal: junho 2021

3 – A Consciência Quântica

O advento da Física Quântica causou e tem causado enormes transformações na vida de todos nós. Nem sempre e nem todos estamos conscientes dos modos pelos quais uma revolução científica iniciada há cem anos pode nos afetar ainda hoje, mas provavelmente já ouvimos falar de seu impacto na evolução da própria Física e de toda controvérsia gerada pelas dificuldades conceituais de interpretação dos fenômenos quânticos. Seus efeitos, porém, se estenderam para além da Física, com desdobramentos importantes na Química, com a teoria de orbitais quânticos e suas implicações para as ligações químicas, e na Biologia, com a descoberta da estrutura do DNA e a inauguração da genética molecular, apenas para citar dois exemplos. – Mesmo conscientes disso tudo, estaríamos preparados para mais essa:
para a possibilidade de que a própria consciência possa operar com base em princípios ou efeitos quânticos?
– Pois é o que andam conjecturando algumas das mentes mais brilhantes de nosso tempo… e alguns franco-atiradores também. A descoberta do mundo quântico, que tanto impacto teve nas ciências e tecnologias, ameaça agora envolver o “etéreo”universo da psique.
– É preciso dizer desde logo que, na verdade, essa história não é assim tão nova. Desde o início de sua formulação, a Física Quântica apresentou uma dificuldade essencial: a necessidade de se atribuir um papel fundamental para a figura do observador (aquele que está realizando um experimento quântico). Isso decorre do fato da teoria quântica ser de caráter não determinístico, ou seja, trata-se de uma teoria para a qual a fixação do estado inicial de um sistema quântico (um átomo, por exemplo) não é suficiente para determinar com certeza qual será o resultado de uma medida efetuada posteriormente sobre esse mesmo sistema. Pode-se, contudo, determinar a probabilidade de que tal ou qual resultado venha a ocorrer. Mas, quem define o que estará sendo medido e tomará ciência de qual resultado se obtém-se com uma determinada medida é o observador. Com isso, nas palavras de E. P. Wigner, “foi necessária a consciência para completar a mecânica quântica”.

A INFLUÊNCIA DA TEORIA QUÂNTICA
Sob alguns aspectos importantes, — como a física quântica se relaciona com nossa experiência da vida diária-iremos direto ao coração do problema filosófico central da própria teoria quântica. Até agora, passados sessenta anos de sua jovem história, os físicos quânticos ainda se sentem absolutamente incapazes para explicar até mesmo como pode existir um mundo do cotidiano — o mundo de mesas e cadeiras, pedras e árvores etc. — ,quanto mais para explicar como sua ciência se relaciona com este mundo.
A teoria quântica é teoria física de maior sucesso até hoje. Ela pode prever corretamente resultados experimentais com um acerto de várias casas decimais. No entanto, sua inabilidade em explicar, quer as predições, quer os resultados, significa que nenhum quadro novo, uno da realidade, emergiu de todas as equações geradas, e menos ainda uma nova visão de mundo na qual as descobertas da física quântica se enraízem para instigar a imaginação das pessoas comuns. Realmente, na maior parte dos sessenta anos passados desde que a teoria quântica se completou, o consenso entre os físicos quânticos tem sido o de que eles não podiam nem deveriam dizer coisa alguma sobre o mundo real e que sua única tarefa “segura” seria continuar prevendo resultados através de suas equações.
Essa posição “anti-realista”, que ficou conhecida como a Interpretação Copenhagen da teoria quântica por causa do físico dinamarquês Niels Bohr, seu grande defensor, está influenciada pela natureza bizarra e indeterminada dos eventos no nível quântico, onde nada em particular pode ser declarado existente em um local determinado e tudo flutua num mar de possibilidades. Isso levou a conversas absurdas entre os físicos quânticos e seus seguidores filosóficos, incluindo-se aí a negação de uma realidade no nível subatômico ou mesmo, em alguns casos, a negação da existência de qualquer realidade. Entretanto, há um mundo real onde as “coisas” existem. As cadeiras são corpos sólidos e identificáveis, sobre os quais podemos nos sentar. Para que a teoria quântica esteja realmente completa, e para que substitua, não só a física newtoniana como também toda a cosmovisão newtoniana enquanto filosofia central de nossa era, ela deve ser conduzida a um diálogo mais estreito com tais fatos do mundo cotidiano. O argumento central desta premissa é o de que nós, seres humanos conscientes, somos a ponte natural entre o mundo da experiência diária e o mundo da física quântica, e que um exame mais acurado da natureza e do papel da consciência no esquema das coisas conduzirá a uma compreensão filosófica mais profunda do dia-a-dia e a um quadro mais completo da teoria quântica.

E A CONSCIÊNCIA?
A existência da consciência foi sempre um problema. O que ela é, por que ela existe no mundo e como, de fato, pode tal coisa existir? Algumas respostas a estas questões são necessárias a qualquer compreensão da vida ainda que em seu sentido mais primário, como a “vida” de uma ameba. Num sentido mais amplo, algumas respostas são necessárias para iluminar o significado e o propósito da vida, os porquês de nossa cultura e o lugar de um único indivíduo num universo maior. Elas também são necessárias para se obter alguma compreensão do universo em si.Podemos considerar muito sériamente a possibilidade de que a consciência, assim como a matéria, emerge do mundo dos acontecimentos quânticos e que ambas, embora completamente diferentes uma da outra, têm uma “mãe” em comum na realidade quântica.
Se assim for, nossos padrões de pensamento e, mais do que isto, nosso relacionamento com nós mesmos, com os outros e com o mundo como um todo, poderão em alguns casos ser explicados pelas mesmas leis e padrões de comportamento que governam o mundo de prótons e elétrons, em outros casos podem refletir essas mesmas leis e padrões. Se de fato nosso intelecto tira suas leis da natureza, segue-se que nossa percepção dessas leis deve, em alguma medida, refletir a realidade da própria natureza.

Se tal possibilidade existe, então, podemos retirar dela uma visão similar àquela dos antigos gregos:
Quando o homem está no mundo, é do mundo, está na matéria, é da matéria, ele não é um estranho mas um amigo, um membro da família, um igual… Os gregos viviam num Universo conciliado, onde a ciência das coisas e a ciência do homem coincidem. Podemos dizer que que temos hoje na física quântica os fundamentos de uma física sobre a qual podemos basear nossa ciência e nossa psicologia, e que através de uma comunhão da física e da psicologia também poderemos viver num Universo conciliado, um Universo em que nós e nossa cultura seremos plena e significativamente parte do esquema das coisas.

O QUE HÁ DE NOVO NA” NOVA FÍSICA”
Certa vez Einstein disse que a teoria quântica lhe sugeria “um sistema de ilusões de um paranóico extremamente inteligente, maquinado a partir de elementos de pensamento incoerentes”. Todos os adjetivos comumente aplicados a essa física são do mesmo tipo: absurda, bizarra, assustadora, incrível, inacreditável etc. Até mesmo encontrar a maneira verdadeiramente apropriada para se descrever as descobertas neste campo parece ser uma tarefa ardilosa. A nova física é tão nova que os próprios físicos quânticos ainda não se entenderam inteiramente a respeito das mudanças conceituais que ela determina, refugiando-se na linguagem menos exigente das matemáticas. Mas é justamente aí, no cunhar de uma nova estrutura conceitual para a nova física, que está o verdadeiro desafio cultural da ciência moderna. É difícil perder os velhos hábitos intelectuais. As categorias newtonianas de tempo, espaço, matéria e causalidade impregnaram tão profundamente toda nossa percepção da realidade que emprestam sua cor a todos os aspectos de nossa forma de pensar sobre a vida, e não é fácil imaginar um mundo que arremede sua realidade.
Exemplo: – Cada vez que dirigimos um automóvel de um ponto a outro estamos, em alguma medida, conscientes do espaço entre os dois pontos e do tempo que levamos para percorrer o trajeto. O simples ato de abrir e fechar uma porta nos torna subliminarmente conscientes tanto da existência material da porta como de nossa mão, e ainda da relação de causa e efeito entre uma e outra. Como, então, lidar com a alegação de que não há espaço entre dois objetos distintos e, mais ainda, que não há objetos da forma como normalmente os concebemos e que toda a noção de “distintos” não tem nenhuma base na realidade? Como falar sobre acontecimentos ou relacionamentos se temos de renunciar a toda esta conversa de tempo e nunca dizer que uma coisa causou outra?

Da primeira vez que se apresentam tais problemas, eles provocam uma espécie de torpor intelectual a que se segue uma tentativa de lidar com eles de alguma forma conhecida. Mesmo os físicos quânticos, quando procuram entender o que suas equações estão indicando, inadvertidamente tentam colocar conceitos quânticos novos dentro de categorias newtonianas antigas, o que por sua vez faz que vejam o próprio trabalho com a mesma estranheza dos leigos. Até agora, nenhum deles conseguiu dizer realmente o que é que tudo isto significa.
Ao longo desta série , tentaremos expressar os conceitos da teoria quântica numa linguagem corriqueira e em termos do dia-a-dia sem, no entanto, cair na armadilha comum de tentar colocar “pinos redondos em buracos quadrados”. A radical novidade de tudo ficará instantaneamente evidente quando examinarmos as noções básicas de ser, movimento e relacionamento no contexto da nova física, e esperamos que nossa capacidade de assimilação dessas noções como parte integrante de nossa experiência pessoal cresça nos posts posteriores.

SER- A MAIS REVOLUCIONÁRIA
A mais importante afirmação que a física quântica faz acerca da natureza da matéria, e talvez do próprio ser, provém de sua descrição da dualidade onda—partícula — a afirmativa de que todo ser, no nível subatômico, pode ser igualmente bem descrito como partículas sólidas, como um certo número de minúsculas bolas de bilhar, ou como ondas, como as ondulações na superfície do oceano. Mais que isto, a física quântica prossegue dizendo que nenhuma das duas descrições tem real precisão quando isolada e que tanto o aspecto onda como o aspecto partícula do ser devem ser levados em conta quando se procura compreender a natureza das coisas. É a própria dualidade o aspecto mais básico. A “substância” quântica é, essencialmente, ambos: o aspecto onda e o aspecto partícula simultaneamente.

Esta natureza do Ser Quântico está condensada numa das colocações mais fundamentais da teoria quântica, o princípio da complementaridade, que declara que cada modo de descrever o ser, como onda ou como partícula, complementa o outro e que o quadro completo surge somente do “pacote”. Como os hemisférios direito e esquerdo do cérebro, cada uma das descrições fornece um tipo de informação que feita à outra. Se, num dado momento, o ser elementar se mostra como uma ou como a outra, isso depende das condições gerais — o crucial nisso, como veremos mais adiante, pode ser que qualquer uma das duas ou que nenhuma esteja observando, ou, quando elas estão, o que estão procurando.

Mais do que qualquer outra coisa, a física quântica promete transformar nossas noções sobre relacionamento. Tanto o conceito do Ser enquanto dualidade indeterminada de onda— partícula como o conceito de movimento que deriva das transições virtuais, pressagiam uma revolução em nossa percepção de como as coisas se relacionam. Coisas e acontecimentos que antes eram concebidos como entidades separadas pelo espaço e pelo tempo, agora são vistos pelo teórico quântico como tão integralmente ligados que sua ligação faz as vezes de ambos, espaço e tempo. Eles se comportam como aspectos múltiplos de um todo maior, sendo que suas existências “individuais” ganham definição e sentido através do contato com esse todo. A nova noção mecânico-quântica de relacionamento vem co mo conseqüência direta da dualidade onda—partícula e da tendência de que uma “onda de matéria” (ou “onda de probabilidades”) deve se comportar como se estivesse espalhada por todo espaço e tempo. Mas, se todas as “coisas” potenciais se estendem indefinidamente em todas as direções, como se poderá falar em alguma distância entre elas ou conceber alguma separação? Toda as coisas e todos os momentos tocam uns nos outros em todos os pontos; a unidade do sistema completo é suprema. Segue-se disto que a noção antigamente fantasmagórica do “movimento á distância”, em que um corpo influencia o outro instantaneamente apesar de inexistir troca aparente de força ou de energia, é um fato banal e corriqueiro para o físico quântico — um fato tão estranho a qualquer estrutura de tempo e espaço que permanece um dos maiores desafios conceituais levantados pela teoria quântica.

Uma visão da realidade que aceita o movimento instantâneo á distância ou a não-localidade, como é mais adequadamente chamada (princípio que diz que algo pode ser afetado mesmo na ausência de uma causa local), tem uma coloração obviamente mística. Na verdade, ela afronta violentamente o bom senso e a física clássica. Ambos repousam no princípio intuitivo de que, em algum nível, a realidade é composta de componentes básicos, indivisíveis, inerentemente distintos entre si e que qualquer efeito experimentado por uma parte tem uma causa que a explique em outra parte. Além disso, segundo a teoria da relatividade, nenhuma causa (digamos, sinal) é capaz de viajar de um pedaço de realidade para afetar outro mais rapidamente que a velocidade da luz. Assim, quaisquer idéias de influências instantâneas deveriam estar fora de cogitação. Todo o problema da não-localidade é tão difícil que nem sequer foi levantado nos primórdios da teoria quântica, e somente nos últimos anos é que os físicos vêm tentando entender-se com ele. Foi Einstein quem primeiro demonstrou que as equações da teoria quântica prediziam a necessidade de não-localidade instantânea. Para ele, isto era impossível (“fantasmagórico e absurdo”, como disse) e jamais sentiu-se à vontade com as implicações metafísicas mais amplas da física quântica. A previsão da não-localidade era a prova clara de que ele precisava para dizer que a teoria quântica estava “incompleta e mal pensada”, e ele se empenhou para que isso fosse reconhecido.

Num dos famosos paradoxos da física — o Paradoxo de Einstein, Podolsky e Rosen ou E.P.R. — ele demonstrou, de uma vez por todas, como supôs, que a presumida existência das influências não-locais levava a uma contradição. O teor do Paradoxo de E.P.R. pode ser compreendido se imaginarmos o destino de um hipotético par de gêmeos idênticos; nascidos em Londres, mas separados desde o nascimento. Um deles continua morando em Londres. O outro foi viver na Califórnia. Ao longo dos anos não há contato entre os gêmeos; na verdade, um ignora a existência do outro. O bom senso dirá que os gêmeos vêm levando vidas completamente distintas. Mas, apesar de sua separação e da ausência de comunicação entre eles, um psicólogo que vem estudando a vida dos gêmeos observou uma impressionante correlação em seus estilos de vida. Ambos adotaram o apelido de “Badger”, ambos trabalham como advogados no escritório de um procurador da prefeitura, ambos se vestem quase exclusivamente em tons de marrom e ambos casaram-se com loiras de nome Jane na idade de 24 anos. Como se explica tudo isso? O físico quântico não teria nenhuma dificuldade em acreditar na correlação das vidas dos gêmeos. Ele diria que suas equações sempre previram isto e que todas as ligações entre eles são satisfatoriamente explicada pelo fato de suas existências individuais serem aspectos de um todo maior. Mas Einstein achava que isto não bastava. Em sua teoria das variáveis escondidas sugeriu como alternativa (continuaremos utilizando a analogia dos gêmeos) que devia haver algum fator; Na realidade, o Paradoxo de E.P.R. diz respeito a um experimento mental proposto por Einstein, Podolsky e Rosen no qual um físico tentaria medir posição e momento linear de dois prótons que se projetam em direções opostas partindo de uma fonte comum.

David Bohm revisou isto mais tarde sugerindo que o físico medisse o spin de dois prótons, e sua sugestão tornou-se a base para experimentos de real correlação, realizados na década de 70, com fótons ou “partículas de luz”. comum, talvez o material genético comum, que predeterminava a similaridade de suas vidas. A controvérsia foi enfim resolvida por um físico chamado John Bell, que sugeriu uma experiência conhecida como teorema de Bell. Para obedecer ao teorema de Bell, que determina que se interfira com um dos elementos do par para ver o que acontece com o outro, teríamos de escolher um momento e dar um bom empurrão no gêmeo que mora em Londres, fazendo-o cair da escada e quebrar a perna. Ninguém pode sustentar que a herança genética explicaria o fato de o outro gêmeo sofrer uma queda similar lá na Califórnia. Portanto, se o gêmeo da Califórnia continuar são e salvo enquanto sua contrapartida londrina sofre o acidente, então a teoria quântica está errada e Einstein certo; porém, se o gêmeo da Califórnia cair, Einstein está errado e a teoria quântica correta.

Na verdade o que ocorre é que, quando o gêmeo londrino leva o empurrão, o da Califórnia também cai exatamente da mesma forma, no mesmo momento e também quebra a perna, embora ninguém tenha lhe dado um empurrão. Todos os aspectos de suas vidas são inseparáveis. No nível subatômico, tais experimentos de correlação foram realizados muitas vezes usando-se pares de fótons correlatos. As influências não-locais que unem seus “estilos de vida” foram provadas muitas e muitas vezes. Os padrões de comportamento dos fótons são tão extraordinariamente ligados mesmo através de qualquer separação espacial — poderia ser uns poucos centímetros ou todo o Universo — que parece não haver nenhuma distância entre eles. Experiências similares foram realizadas para provar os mesmos efeitos espantosos de correlação no tempo. Eles conseguem vencer o tempo numa espécie de dança sincronizada que desafia toda nossa imaginação tão atrelada ao bom senso; Imagine, por exemplo, o caso de dois barqueiros que transportem mercadorias de um lado para outro do rio, cada qual com seu barco. O barqueiro A com um barco, o barqueiro B com outro. Quando há muito movimento de mercadorias ambos trabalham em período integral, mas nos períodos de movimento fraco decidem trabalhar em turnos. O barqueiro A trabalha de manhã e o barqueiro B à tarde. Nos períodos de muito movimento, quando os dois trabalham o dia todo, escolhem arbitrariamente o barco que irão usar, sendo que nenhum dos dois considera um dos barcos o “seu”. Quando passam a trabalhar em turnos esta arbitrariedade na seleção dos barcos persiste — mas com uma peculiaridade decisiva. Quando o barqueiro A chega para o turno da manhã, escolhe arbitrariamente um dos barcos para usar; quando B chega para cumprir o turno da tarde sempre pega o barco que A não usou pela manhã (embora não tenha meios de saber que barco A usou). Assim, embora os dois barqueiros cheguem ao trabalho em horas diferentes durante o dia, continuam a usar os dois barcos como se ambos estivessem presentes. Seus comportamentos estão ligados, apesar da diferença de tempo entre seus turnos, de tal modo que sempre são correlatos. As correlações demonstradas por um experimento com fótons seguindo esta mesma idéia dos barqueiros hipotéticos foram sempre tão exatamente simétricas que não faz sentido dizer que o barqueiro A escolheu um certo barco prevendo que B escolheria o outro, ou que B escolheu tal barco por algum conhecimento misterioso de qual barco A escolhera antes. Só se pode afirmar que as correlações mostram que dois eventos podem estar relacionados através do tempo de tal modo que garanta que seu comportamento seja sempre “sintonizado”, sendo inútil tentar estabelecer um vínculo de causa e efeito. Tal relacionamento sincrônico é a base de todo o relacionamento mecânico-quântico, o que empresta uma nota bastante moderna à noção grega pré- socrática da “unidade do ser”. Em que medida existem influências não-locais correlatas entre dois corpos ou eventos aparentemente distintos é algo que depende da medida em que um sistema esteja num estado de “partícula” ou de “onda”.

As partículas comportam-se mais como indivíduos e são menos correlatas; as ondas apresentam um padrão de comportamento correlato mais do tipo grupal. Voltarei a esta questão em capítulos posteriores ao discutirmos a identidade pessoal e as raízes da alienação. A existência de correlações quânticas não-locais abalou o mundo da física e é um dos principais fatores que impossibilitaram os físicos quânticos de dizer o que significa sua teoria. Será, então, importante nos perguntarmos se o novo conceito de relacionamento alicerçado na não-localidade não nos estará oferecendo uma chave para uma compreensão completamente nova de nós mesmos.

Quem Somos
Existe a realidade? O experimento que indica que, no nível quântico, não há  fatos objetivos

Existe a realidade? O experimento que indica que, no nível quântico, não há fatos objetivos.

Na vida cotidiana vemos fatos que não dão espaço para qualquer discussão. Eles são como são e ponto. No nível quântico, no entanto, a realidade é um conceito muito mais enigmático, no qual um mesmo evento pode desencadear muitas realidades ao mesmo tempo, dependendo de quem o observa.

A REALIDADE ACONTECE QUANDO A VEMOS

Desde seus primórdios, a teoria quântica sugeria que algo muito estranho e de suma importância acontece quando observamos um sistema quântico. Fenômenos quânticos inobservados são radicalmente diferentes dos observados — este é um dos pontos principais da história que envolve o gato de Schrödinger. No momento da observação, ou da medição, elétrons previamente inobservados que são tanto ondas como partículas tornam-se ou onda ou partícula; fótons solitários não vistos, que de alguma forma misteriosa haviam conseguido passar por duas aberturas ao mesmo tempo, de repente decidem escolher uma abertura em vez da outra, e o gato vivo e morto se torna algo com o qual podemos nos relacionar. 

Em suma, o momento em que uma indefinida função de onda quântica de muitas possibilidades é vista (ou medida) tem alguma coisa que a faz “colapsar” para uma única realidade fixa. O gato de Schrödinger não foi simplesmente encontrado já morto quando abrimos a jaula. De alguma maneira estranha que ninguém compreende ainda, ele morreu porque olhamos para ele. A observação matou o gato. Isto é fato quântico comprovado — algo no ato da observação (ou da medição) faz colapsar a função de onda quântica• — e este feto isolado tem implicações que examinaremos mais tarde. Mas por ser um fato sem explicação, e na verdade um fato que não deveria existir, ele deixa todas as perguntas interessantes sem resposta e leva, compreensivelmente, a um bocado de especulação quântica — e a alguma confusão quântica também. 

Embora naturalmente curiosos para saber por que, afinal, o olhar pode matar, não há motivo para nos perdermos nesta confusão. Solucionar o problema do colapso da função de onda é algo bem além da intenção desta série do blog.O argumento é no sentido de que há uma física da consciência, e que esta física nos sugere muitas coisas sobre a ligação entre nós mesmos e a realidade física. A base deste argumento, contudo, é muito diferente daquela utilizada pelos que alegam que foi a própria consciência que matou o gato de Schrödinger. Sua utilização da consciência como um eficaz exterminador de gatos repousa numa compreensão inteiramente diversa da natureza da consciência do que aquela que estarei apresentando mais adiante.

Uns poucos físicos (e muitos de seus divulgadores) propõem que, pelo fato de a teoria quântica demonstrar que nada físico poderia ter exterminado o gato, deve haver alguma explicação não física para sua morte. Algum deus ex- máquina, por assim dizer, entra na história, vindo de fora das leis da física para salvar Schrödinger, seu gato e todos nós de um excesso de possibilidades. Este agente metafísico da realidade não pode ser o aparelho de medição do observador nem seu cérebro ou sua mente, que são todos do mundo físico e, portanto, previstos na equação de Schrödinger. Assim, deve ser o próprio observador quem mata o gato — isto é, a consciência incorpórea, imaterial do observador.

Segundo esta visão, proposta principalmente pelos físicos quânticos John Archibald Wheeler e Eugene Wigner , a consciência humana é o elo perdido entre o bizarro mundo dos elétrons e a realidade do cotidiano. Ironicamente, esta conclusão se aproxima muito da minha, mas as razões pelas quais cheguei a ela são radicalmente diferentes, e esta diferença é importante para tudo o que vem mais adiante neste livro. Aqueles que concluem que a consciência provoca o colapso da função de onda porque sua natureza é essencialmente não física comprometem-se e comprometem a física quântica com a velha visão cartesiana de que a mente e a matéria são entidades distintas. Eles vêem a consciência como algo necessariamente externo ao mundo físico e, portanto, como algo alheio a ele — um “fantasma dentro da máquina”. Também deixam a porta aberta para especulações anti-realistas no sentido de que “a realidade só existe na mente” e que não existe nenhum mundo se não houver alguém observando, deixando-nos a imaginar como é que nós surgimos, então. Que ser consciente estava aqui no início de tudo para provocar o colapso da primeira função de onda?

Os argumentos para sugerir que a consciência é um elo de ligação importante entre o mundo quântico e o da nossa experiência diária ,têm uma origem muito diferente. Todo o projeto de definir um novo “ser quântico” repousa na argumentação de que a física quântica, e mais especificamente um modelo mecânico-quântico da consciência, permite que vejamos a nós mesmos — nossas almas, se quiser — como parceiros integrais dos processos da natureza, “tanto na matéria como da matéria”. Este item de argumentação tem implicações muito diferentes para quem está procurando compreender como nós, criaturas conscientes, nos relacionamos com tudo o mais no Universo. 

Como a realidade acontece depende de como a vemos

Já vimos que o ato de observar um sistema quântico o transforma num objeto comum. Nossa mera interferência na natureza a transforma, e este simples ato nosso exigiria que mudássemos totalmente nossa maneira de nos vermos e a nosso lugar dentro do mundo natural. Mas, ainda pior para aqueles que gostam de pensar que o mundo “é desse jeito mesmo e pronto”, nossa interferência tem uma dimensão inesperada. Não só a observação de alguma maneira traz o colapso da função de onda, ajudando-nos assim a ter um mundo, mas ocorre que o modo especial que escolhemos para observar a realidade quântica determina parcialmente o que veremos. 

A função de onda quântica contém muitas possibilidades e depende de nós qual delas será realizada. Um fóton, por exemplo, tem ambas as possibilidades: de posição (com sua natureza partícula) e de momentum (com sua natureza onda). Um físico poderá armar seu experimento para medir, e portanto determinar, qualquer uma delas — embora ao determinar uma delas ele perderá a outra (princípio da incerteza de Heisenberg). Fonte

Consciência e a Ilusão de Tempo e Espaço

Magnetic Fields of the Human Body and Their Functions | Manly P. Hall –  earthempaths
  • O que é realidade?

Realidade significa em uso comum “aquilo que é”, ou ainda “tudo o que existe” seja ou não perceptível, acessível ou entendido pela ciência, filosofia ou qualquer outro sistema de análise.
Mas o que é? Nós sabemos tudo que existe? Claramente não, e isto torna esse conceito algo muito relativo.

  • A Ilusão

Quando Buda disse “Tudo é ilusão”, ele não quis dizer que nada é real. Ele quis dizer que as nossas projeções mentais sobre o que achamos que é a realidade são ilusões, e também quis dizer que os elementos que formam o universo e cada forma que nós vemos (solida, liquida, gasosa ou plasmática) se forem pegas e vistas a nível subatômico elas não existem de fato, ou pelo menos não existem como nós imaginávamos que elas existiam, como “matéria física”, rígida. Portanto tudo que vemos é uma ilusão, por causa de seu molde ou forma e não por sua essência real. Para o Budismo tudo é a mente, e essa ideia vem ganhando espaço no âmbito cientifico atualmente, pois mesmo que haja um mundo fora de nós mesmos, toda a nossa percepção da realidade é um acontecimento dentro do nosso sistema nervoso.

Graças a física, a física quântica e a lógica, podemos começar entender de forma cientifica e simples como a realidade funciona e que esse termo pode ser muito relativo. Basta saber que todo universo conhecido é composto por átomos, e os átomos não são sólidos. Os elétrons orbitam em volta do núcleo, mas eles nunca se encostam, assim como você nunca encostou em nada na sua vida, pois os elétrons que orbitam o átomo se repelem (cargas negativas se repelem e o elétron é uma partícula negativa), logo o que você sente através do sentido não é nada mais que impulsos elétricos que trafegam em nosso sistema nervoso em direção ao cérebro, que por sua vez decodifica esses impulsos.

Toda essa “realidade física” de 3 dimensões(Alturalargura e profundidade = Espaço. São 4 se você contar o Tempo. Não confundir Dimensões com Densidades/Planos) é percebida pelos nossos 5 sentidos, visão, audição, olfato, tato e paladar, que são todos apenas sinais elétricos interpretados por nossos cérebros.

Um bom exemplo disso são as imagens que você está vendo no seu computador, que são criadas a partir da interpretação digital de códigos binários. Em 1713  um matemático suíço, chamado Leibnitz, criou as bases do sistema matemático binário, onde os valores são expressos em função dos estados “1” (ligado, positivo) e “0” (desligado, negativo). Foi a partir daí que foi possível o desenvolvimento dos sistemas binários que é a base dos computadores.
Como podem meros números criarem tudo que vemos digitalmente? Como alguém criou isso? Foi possível porque a mente humana é programada para reproduzir padrões, a realidade digital é uma réplica mais ou menos similar a realidade que chamamos de “material”. O próprio Leibnitz indicou a semelhança entre seu sistema binário e o I-Ching, que são 64 variações de Yin e Yang, ou seja, vazio e o conteúdo, negativo e positivo.
Sendo assim, podemos dizer que TUDO que ocupa espaço são partes de um sistema de códigos. Nossos corpos são um conjunto de códigos programados para interpretar mais codigos. Esse conglomerado ou esse conjunto de códigos que forma quem nós somos está contido numa “chave biológica” chamado DNA, o nosso Código Genético.

Ao meu ver, devido a perfeição de toda criação em sua total complexidade, é seguro dizer que a estrutura do universo em que nós estamos tem um design inteligente por trás de sua criação, não de um “deus” que pensa e criou o universo, mas da consciência que É o universo.
Como vimos antes (Spirit Science), existem padrões matemáticos e geométricos específicos que se repetem em todos os aspectos da existência em uma forma ou de outra. Esses padrões são partes da estrutura, e são as chaves para compreendermos melhor a nossa consciência e como funciona essa matrix complexa que é a existência em si, mas isso é algo para o futuro, vamos manter o foco no tópico.
Também é importante destacar que esse texto expressa apenas uma visão sobre como essa estrutura de tempo e espaço funcionam, não é algo definitivo, estou dividindo meus estudos, vocês devem tirar suas conclusões baseadas em seus estudos.

  • A Estrutura

 física cartesiana considera espaço-tempo um sistema de coordenadas, dando a entender que o tempo também é um “local”. Segundo a física cartesiana o universo funciona como uma máquina perfeita, um relógio cósmico com todas as suas engrenagens funcionando harmônica e automaticamente, sem intervenção de nenhuma força externa, a não ser a que originou essa estrutura (Singularidade), mas está força pode ser considerada também a estrutura em si, e não algo à parte dela. Se esse for o caso, isso significaria então que tudo já está determinado? Se tudo já está determinado como podemos fazer escolhas? Essa é a principal questão que quero abordar nesse texto: Escolhas.
De fato, o “relógio” que chamamos de universo é perfeito (do latim: Perfetus – completo, acabado, feito, sem defeito, ideal), significando que está completo, não pode ser modificado, pelo menos não de dentro da estrutura. Essa afirmação não quer dizer que a sua vida já foi determinada, mas sim todas as possibilidades que a sua vida pode tomar dentro dessa máquina estão determinadas. Para entender isso é necessário compreender que somos nós que estamos atravessando o tempo e espaço, vivenciando sequências de eventos relativos a nossas escolhas(a nível consciente e inconsciente). Enquanto não existe um observador para perceber o que chamamos de realidade tudo se mantem em um estado de possibilidades (Pesquisar: Gato de Schrödinger) e não como fatos palpáveis.

Existem dois principais modelos sob qual as pessoas tendem a enxergar o Universo, o primeiro é a visão do mundo como uma criação, algo criado por um criador. Com a vinda da renascença e o surgimento da ciência foi descartada a ideia de um criador pelos intelectuais da época, mas o mesmos decidiram manter a ideia de criação, e então nasceu o segundo modelo, o qual podemos chamar de “totalmente automático”, um Universo que fez a si mesmo. Essas duas visões são as que moldaram o pensamento ocidental nos últimos séculos.
Além destes dois modo de enxergar a existência, como uma “criação” ou como algo “totalmente-automático”, eu gostaria de propor um terceiro modelo, que é muito comum em filosofias orientais como o Budismo e o Hinduísmo, algo que poderia ser chamado de “modelo dramático”, onde o mundo não é algo feito ou criado, mas atuado, como uma peça em um teatro. A existência em si é o “drama” de deus, são bilhões de histórias sendo contadas das mais variadas maneiras, para que “tudo que é” enxergue as suas várias partes sem que elas anulem umas as outras. Deus nesse caso não seria apenas o criador, mas a própria criação, em outras palavras, a consciência está experimentando a si mesma dentro de si mesma, pois ela é tudo que existe.

  • Tempo e Espaço
Geometria do Torus.

Singularidade

Stephen Hawking cita no livro Uma Breve História do Tempo: “assim como o universo teve um princípio, nós poderíamos supor que tenha um criador”, mas o criador que ele cita não é o deus bíblico, não é um deus pessoal, mas sim a Singularidade, a força por trás do Big Bang. Para Hawking, o Universo criou a si mesmo e não necessita de um criador à parte da sua criação. Também cita “estas leis (padrões pré-estabelecidos no momento da criação) podem ter sido decretadas originalmente por “deus”, mas parece que ele tem deixado o universo evoluir segundo elas e não interveio até agora”.
Um exemplo muito interessante que ele usou para explicar essa estrutura é o seguinte: Imagine uma bola com dois pontos, um representando o “começo”(Big Bang, a matéria sendo “expelida” da Singularidade) e o outro o “fim”(A matéria sendo comprimida de volta). Dentro dessa bola estão TODOS os eventos possíveis, e todas as possibilidades para esses eventos, sempre respeitando as leis da estrutura. Hawking disse que mesmo que a bola tenha um “começo” e um “fim”, ela nunca termina, está sempre existindo, pois todos os momentos, todos os tempos e todos os espaços estão dentro dela.

Seguindo essa lógica, de que só pode ser a nossa consciência que está em constante movimento através dessa realidade, e que o tempo não está em movimento, nós estamos, é importante destacar a importância de percebermos a eminente presença no agora, pois toda a percepção do passado está na nossa mente em forma de lembranças e formas-pensamento que montam a estrutura do ego, e todo futuro existe somente como projeções criadas baseadas em experiências passadas ou vindo da imaginação em si, a conexão com a sua Fonte, mas ainda assim, todos esses processos acontecem agora!
Cada momento é imóvel por natureza, nossa consciência vivencia momento após momento, assim como quando nós vemos um filme, vivenciamos frame por frame. Toda experiência é uma possibilidade valida para o universo, a variações geradas pelas nossas escolhas criam infinitas realidades paralelas, levando em consideração que cada movimento que fazemos é uma escolha, que todo acontecimento é algum tipo de intenção consciente ou não, fica óbvio então que existem infinitas realidades paralelas que nós trocamos infinitas vezes por dia, por hora, por segundo, ou frações de segundo…
Cada realidade paralela pode ser considerada como UM FRAME de todo o “filme” que é o conjunto de todas possibilidades dentro da nossa realidade. 
A maquina do corpo humano foi programada pra se manter em uma linha de eventos similares pra evitar que o programador dentro do corpo fique louco e não exerça sua função como ser limitado.A idéia de continuidade só existe por causa da ilusão de tempo e espaço. Na realidade, todos eventos são simultâneos, ou seja, existem no agora, esse momento universal é a nossa essência, é o que está observando a si mesmo. Nós somos os observadores, os programadores dessa Matrix, seguindo a ilusão de continuidade por questões de aprendizado, ou simplesmente para termos a experiência de nós mesmos através de infinitos diferentes olhos.
Como o universo segue padrões pré-estabelecidos, é natural pensar que todos momentos já estão de certo modo pré-estabelecidos também, digo de certo modo pois como foi dito antes, isso não diz respeito a sua experiência, essa é a característica desse universo, existem infinitas possibilidades de sequências de eventos dentro dessa estrutura, nossas escolhas que nos direcionam através desse mar de possibilidades, mas toda experiência que nós humanos temos é necessariamente uma experiência no presente, o resto são projeções na nossa mente.

O tempo não está em movimento, os anos de sua vida não foram a lugar algum, VOCÊ FOI!
Nós estamos limitados a receber apenas uma pequena porção de “bits”(informação) porque o nosso corpo não consegue conter tanta energia/informação, isso destruiria o ego antes dele estar pronto pra ser transformado.

Nós somos os programas sencientes criados para vivenciar e descobrir o universo, somos como sementes germinando para um dia brotar pra fora da limitação de Tempo e Espaço, talvez seja por isso nosso planeta se chama Terra, tendo em vista que os ocultistas tem plena consciência disso e a linguagem ocidental tem influencia direta dessas fraternidades. 
É por isso estamos passando por todas essas dificuldades/oportunidades, para aprendermos a sermos Luz na Escuridão e transformar a sujeira que criamos (individual e coletivamente).

Tendo em vista a existência de infinitas possibilidades e de que é a consciência que está atravessando o tempo/espaço, isso então significa que cada pessoa está vivenciando sua própria realidade paralela especifica dentro do Multiverso (totalidade de universos possíveis), isso significa que cada um de nós está no seu própria simulação de realidade, criado pela sua própria consciência.
Obviamente existem eventos onde nossas consciências “colapsam”, em outras palavras se chocam ou se encontram, mas mesmo dentro desses eventos existem inúmeras possibilidades a serem vivenciadas, e cada consciência vivencia aquilo que for relevante para ela. Nossas simulações estão interagindo umas com as outras para se auto-descobrirem e revelarem seu algo a mais, seus diferenciais.
As escolhas sobre quais experiências serão relevantes não cabem somente ao lado consciente(ego), na verdade a maior parte é feita pelo lado inconsciente(Explicação Sobre a Dualidade). O trabalho do ego é escolher entre as opções oferecidas pela sua Fonte, que é a responsável pela criação da experiência em si, pois tudo está acontecendo dentro da Singularidade, dentro de você. Nossa essência sabe o que é melhor pra nós, pois ela sabe de tudo. Como? Porque ela É TUDO!

A Realidade está dentro da sua Consciência

Importante ressaltar: nada está traçado, o SEU futuro está sempre mudando. Todas possibilidades existem, a sua vida pode tomar qualquer rumo, pra melhor ou pior, o que define como você vai desenvolver o seu caminho e aprendizado é o personagem que você cria pra você, as suas escolhas em geral, o seu estado de consciência, se você alimenta sensações positivas, ou negativas, densas, isso que direciona sua vida.
Essa é a ideia verdadeira ideia da “Lei da Atração”, você não só atrai as pessoas pra você, ou atrai as situações em geral, mas você É as pessoas e situações que tem experiencia. Isso não significa que estava traçado conhecer tais pessoas, ou vivenciar tal situação, pois muitas vezes devido a nossas escolhas acabamos por rejeitar ou até nem chegar as pessoas e situações que poderiam mudar a nossa vida pra melhor ou pior.
Nós estamos boa parte do tempo inconscientes das nossas escolhas, mesmo assim elas não deixam de ser escolhas.
O que podemos considerar como destino é a escolha do caminho que você fez a nível espiritual, o ego ainda tem o “livre arbítrio“(que na verdade é uma ilusão) de ignorar o que você oferece a si mesmo (em termos de experiência) e buscar satisfazer os desejos pessoais que ele acredita ser dele. Na Cabala, isso se chama inclinação para o “mal” (principio da segregação) é essa inclinação junto com a inclinação para o “bem” (principio da união) que permite ao individuo perceber a sua escolhas, e esse é o JOGO dessa realidade. Emboras ambos os caminhos são somente uma percepção (ponto de vista, opinião), o que realmente é importante é a lição. Buda ensinava os seus discípulos a caminharem pela estrada do meio, somente essa realmente liberta, pois enquanto estamos presos na dualidade, entre “bom e ruim“, “certo e errado“, estamos negando parte de nós, o que significa não iluminar a nossa sombra, e essa é a razão do sofrimento em todos os seus aspectos, é a segregação, a exclusão de nossas infinitas partes.

Oráculo explica o Livre Arbítrio ao Neo [Matrix: Reloaded]
  • Sobre o conceito de Ilusão

Ilusão é um termo que é erroneamente associado a mentira. Mas neste caso, o termo significa tudo aquilo que não é a “verdade absoluta”, que é a soma de TODAS as verdades relativas.
É interessante compreender que ilusão não é algo “mal”, mas sim algo passageiro, é efêmero. A palavra “Ilusão” vem do Latin “ludare” (brincadeira) ou “iludare”(“em jogo”/”brincando com…”), que também deu origem a palavra “iludir”. Todo esse plano físico, e os outros planos também, são ilusões. Não são a verdade absoluta, mas sim uma forma dela. Esses planos foram criados para “deus”, ou em outras palavras, nós mesmos brincarmos. Para nós fazermos de conta que somos aquilo que não somos e jamais poderemos ser na realidade.

Tudo é um jogo, é só uma brincadeira, nada é real, todos sofrimentos e alegrias são ilusões, são oscilações criadas para dar a ilusão de movimento e de diferença.
O ego( e você quando acredita que é só o seu corpo ou a sua mente) pode não gostar disso, e achar que é injusto, mas essa não é uma escolha que cabe a nós, seres imperfeitos e incapazes de compreender, através do intelecto, a perfeição da existência. Mas é um erro colocar a culpa no ego, já que o mesmo só faz o que você manda (consciente e inconscientemente). Se o ego nos controla é porque nós demos tal permissão, demos tal poder a essa função mental que chamamos de “eu”.

Então se qualquer coisa acontece na sua vida, aproveite ela como uma oportunidade.
Se você se enxergar como vitima (dos outros ou de si mesma) estará apenas se afastando da verdade e entrando em mais “brincadeiras”, e com uma mente indisciplinada e identificada com a vida física não será uma brincadeira divertida pra você.
A realidade física é um espelho do seu estado de consciência, arrume a sua consciência e você irá arrumar a sua vida.

Não Há Evolução Através do Medo

Veja que é “antinatural” qualquer estrutura que fragmente o grande fluxo da vida. E sendo antinatural, não pode haver a unidade, não pode haver a volta ao Uno. E nada é mais distorcido que o medo. Sua essência é a própria poluição da naturalidade da existência.

Logo, a evolução não se dá através de uma distorção, não se dá através do medo. Sendo a evolução o expandir da matéria a fim de que ela se una com a própria Divindade. Nada que contraia pode conter ou dar ignição a essa evolução. O medo é um agente da contração. Então, quem alimenta ou espalha o medo não apenas está estagnado, como também está ajudando a estagnação das pessoas ao redor. É um atentado contra a própria vida.

Perceba que não há evolução através do medo, e isso ocorre nas duas viasno sentido de quem o propaga e no sentido de quem o alimenta. Se há um mito moderno sobre evolução, é justamente a ideia de que a pressa e o medo podem auxiliar num possível abrir de olhos. Mais que um mito, é pura ignorância.

Se a raiz de um processo está corrompida, todo o processo também o estará. Deste modo, a própria ideia de que há evolução através do medo só pode existir em uma mente poluída e preenchida pelo mesmo sentimento. Aqui então está o equívoco de um pseudoconsciente, cuja ignorância, no sentido de desconhecimento, induz o “pequeno eu” à falsa impressão de evolução.

A proposta para que isso possa ser revertido é o reconhecimento não apenas do erro, mas também da própria ignorância. Todavia, isso não é possível de acontecer a menos que haja um Impacto. Em não havendo a faísca causadora de uma mudança de visão, difícil será para que a pessoa egoica/ególatra reconheça sua estagnação.

Não há problema em cometer erros, erros são os portais para a descobertas, como Carl Jung disse “erros são, no final das contas, fundamentos da verdade. Se um homem não sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento saber o que ela não é”. Assim como não há problema em ter medo, tudo isso faz parte do processo. O problema está em se manter preso em um ponto de vista, estagnado na mesma perspectiva, impedindo o fluxo de consciência, é estar preso em um ciclo vicioso, caçando o próprio rabo, inconsciente de si mesmo e de toda magnificência da existência acontecendo a sua volta.

Aquele que é consciente não morre; Aquele que é inconsciente já está morto.
O Dhammapada

Para alguns é difícil imaginar que tudo isso é apenas uma ilusão, estamos tão apegados a esse tipo especifico de existência, mas a realidade física é sim um tipo de ilusão mantida pela crença coletiva. Quando entendermos que cada um tem a sua realidade particular, a compreensão da ilusão ficará mais simples e a realidade mais “suave”. Mesmo que existam eventos onde encontramos outras consciências dentro das nossas simulações de realidade, as pessoas que encontramos são versões adaptadas pela nossa própria consciência. Dentro desse “colapso”, do encontro entre consciências, existem inúmeras possibilidades de experiências, a realidade de cada um depende do que fazemos, vivenciamos o que for relevante para o nosso desenvolvimento.
São as nossas crenças, opiniões, apegos e lições que ignoramos que influenciam em nos manter presos a coisas que dizemos que não gostamos, colocamos a culpa dos problemas enfrentados na realidade como sendo criado por uma causa externa, mas é justamente o oposto, uma, ou inúmeras deficiências internas geraram o desequilíbrio generalizado dos indivíduos, e do coletivo.
Nós criamos a prisão, nós temos que aprender a sair, ou melhor, transforma-la em algo mais produtivo do que prejudicial.

É por essa inconsciência que acabamos ficando presos em ilusões dentro de ilusões, caímos em quase completo esquecimento sobre a nossa essência, ficamos tão identificados com a ilusão que perdemos a parte mais importante de nós, com isso nosso mundo caiu em desgraça e acabamos por atrair as forças que controlam a sociedade atual.

Gostaria de dar enfase que tentem compreender a existência de realidades paralelas e como isso se aplica na sua vida, como isso afeta a sua percepção da realidade. Devido a nossa aproximação do Ponto Zero, as realidades estão entrando em sincronia,  significa que nossas escolhas estão ficando cada vez mais definitivas e a realidade que iremos vivenciar será cada vez mais marcada pelas nossas intenções.
Ponto Zero não é o fim do mundo, e nem o começo de um novo, mas sim, um update na nossa consciência e por consequência na nossa realidade, é um período de “não-tempo”, onde todas as portas estão acessíveis para todos, por isso é preciso prestar atenção no que desejamos, pois podemos receber e descobrir que não é o que queríamos. Se lembrarmos que é a consciência que está atravessando o tempo e espaço, então se mudarmos nossa consciência mudaremos o mundo que vivenciamos, a realidade que estamos é simplesmente um reflexo das nossas crenças, nossas escolhas, nossa visão do mundo em geral. Isso pode parecer uma coisa difícil de acreditar, mas qualquer um que parar para refletir verá que é possível, e não é só possível, mas extremamente provável.

Uma das maiores lições aqui na Terra, se não a principal, é responsabilidade, por nossas ações, nossos pensamentos, nossas opiniões, nossos irmãos, nossas escolhas em geral.
Tudo que vivenciamos é resultado de uma intenção, a realidade que vivemos é o resultado das intenções que cultivamos, podemos nos enganar e dizer que somos vitimas da vida, das pessoas, situações, ou até negar a existência de uma parte nossa que desconhecemos, mas isso só fará a nossa situação piorar, e a prova disso está na sociedade atual. Para sermos livres precisamos aprender a lição desse mundo. Precisamos assimilar, unificar, e não continuar segregando e criando cada vez mais divisões.“Cuide de seus pensamentos; Eles se tornam suas palavras.Cuide de suas palavras; Elas se tornam suas ações.Cuide de suas ações; Elas se tornam seus habitos.Cuide de seus hábitos; Eles criam o seu personagem.Cuide de seu personagem, ele determina o seu destino.”
— Lao Tzu“Você é o que escolheu se tornar” — Carl Jung“O problema é a escolha” — Neo

O funcionamento desse universo de tempo e espaço vai muito além da lógica convencional que estamos acostumados e que podemos ver com os nossos sentidos, o que foi expressado no texto acima é só uma breve analise e não deve ser tomada como algo absolutomas sim como um ponto de vista, é preciso sair da caixa e se abrir para todas as possibilidades, precisamos lembrar do nosso infinito poder de criação, e retomar as rédeas da nossa responsabilidade.
É importante entender que todos os mundos imagináveis são possíveis, pois o que não existe não pode sequer ser imaginado.

Não tenho a intenção que aceitem o que foi dito como a verdade absoluta, mas tenho certeza que se pararem para refletir e estudar o assunto abertos para essas possibilidades tratadas irão ver que somente assim as coisas irão fazer sentido, por mais “louco” que esse sentido seja. Lembremos que até a loucura segue padrões, portanto uma lógica, a questão é que nós ainda não captamos os padrões então desconsideramos como sendo algo lógico e racional.

OBS: Por comentários de alguns leitores no antigo blog, venho esclarecer que esse não é um “artigo cientifico”, mas sim uma perspectiva sobre o modo que a existência funciona, baseada nos meus estudos sobre diversos assuntos. Não tenho a intenção de convence-los da minha perspectiva, cada ser humano é capaz de julgar por si mesmo se quer manter-se aberto para as possibilidades, ou não, eu só estou dividindo uma visão. Fonte

Vídeo Relacionado:

A  Disfunção da Vida Após a Morte
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Todo sofrimento psicológico é... Buda - Pensador

Pois a raiz fundamental de uma evolução consciente está justamente na purificação dos sentimentos. Logo, o amor é a base de qualquer processo evolutivo. Estou falando de amor não no sentido de relação sexual, ou no sentido de atração emocional ou intelectual, ou uma “troca de energias”. O amor que estou falando não é a fome do coração pelo afeto, mas sim uma poderosa vibração vindo direto da Fonte.

É a percepção do que você realmente é, e portanto também é a percepção da conexão que existe entre tudo. Eckhart Tolle colocou dessa maneira, “amor é simplesmente reconhecer o outro como sendo você próprio, o reconhecimento da unidade é amor”.

Mesmo não havendo total conhecimento de que sua presença está dentro de você, se neste instante o seu caminho é mais harmônico que outrora, significa que em breve você terá essa noção e perceberá o amor fluindo através do seu Ser.

Mas note que ao conhecer um sacerdote do medo, alguém que se apraz, mesmo que inconscientemente, em propagar o medo, você não deve tentar mudá-lo por caminhos diretos. Devido à complexidade em que se encontra a mente deste alguém, o mais sábio será manter-se neutro e possivelmente distante.

Quem vive pelo medo só tem olhos para o medo. Uma mudança de olhos se dará apenas quando o objeto que dá início ao processo se desfizer. Logo, o tempo e as situações que favoreçam essa percepção são o caminho para que o agente do medo se dê conta de sua total inconsciência. Pois isso, invariavelmente, é inerente apenas a ele.

Evite julgar aqueles que não seguirem o caminho que você julga certo, esteja consciente que você também poderia está na situação deles, com a perspectiva deles, por isso esteja presente em si mesmo, e julgue a si mesmo.

A única maneira de mudarmos algo no mundo é mudando a nós mesmos e servindo de exemplo. Não adianta julgar e punir as pessoas por coisas que nós mesmos fizemos, poderíamos ter feito e fazemos ainda. Estamos todos passivos a errar, pressionar alguém que errou não é produtivo, busque criticar apenas de maneiras construtivas, jamais para machucar. Não seja parte do problema, seja parte da solução, ao invés de derrubar, ajude a levantar. Fonte

Lembre-se que o perigo pode ser real, mas o medo é uma escolha!!!

Estados holotrópicos de consciência de Stanislav Grof – parte II

Stanislav Grof, MD , é psiquiatra com mais de cinquenta anos de experiência em pesquisas sobre estados incomuns de consciência. Ele nasceu em Praga, Tchecoslováquia, onde também recebeu sua formação científica – um diploma de doutorado pela Escola de Medicina da Universidade Charles e um doutorado. (Doutor em Filosofia em Medicina) – da Academia de Ciências da Tchecoslováquia. Suas primeiras pesquisas foram nos usos clínicos de drogas psicoativas, conduzidas no Instituto de Pesquisa Psiquiátrica de Praga. Lá ele foi o principal investigador de um programa que explorava sistematicamente o potencial heurístico e terapêutico do LSD e outras substâncias psicodélicas.

Em 1967, ele foi convidado para ser clínico e pesquisador na Johns Hopkins University, Baltimore, MD. Após a conclusão desta bolsa de dois anos, ele permaneceu nos Estados Unidos e continuou suas pesquisas como Chefe de Pesquisa Psiquiátrica no Centro de Pesquisa Psiquiátrica de Maryland e como Professor Assistente de Psiquiatria na Clínica Henry Phipps da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, MD. Em 1973, o Dr. Grof tornou-se Scholar-in-Residence no Esalen Institute em Big Sur, Califórnia, onde viveu até 1987. Ele passou esse tempo escrevendo livros e artigos, dando seminários e palestras em todo o mundo e desenvolvendo a Respiração Holotrópica com Christina Grof , agora falecido.

Stanislav Grof é um dos fundadores e principais teóricos da psicologia transpessoal e presidente fundador da International Transpersonal Association (ITA). Nessa função, ele organizou, juntamente com Christina, grandes conferências internacionais nos Estados Unidos, Índia, Austrália, Tchecoslováquia e Brasil. Atualmente, é professor de psicologia no Instituto de Estudos Integrais da Califórnia (CIIS), lecionando no departamento de Filosofia, Cosmologia e Consciência.

Na Convocação do 25º Aniversário da Associação de Psicologia Transpessoal (ATP), realizada em agosto de 1993 em Asilomar, Califórnia, Stanislav Grof recebeu um Prêmio Honorário pelas principais contribuições e desenvolvimento do campo da psicologia transpessoal. Em 5 de outubro de 2007, ele recebeu o prestigioso Prêmio >> Visão 97 << da Fundação Vaclav e Dagmar Havel em Praga. Ele também foi convidado como consultor especial para os filmes de Hollywood Brainstorm e Millenium .

Stan e Brigitte Grof

Em 2016, Stan se casou com Brigitte Grof.  O casal divide seu tempo entre Mill Valley, Califórnia, e Wiesbaden, Alemanha. Stan continua escrevendo e conduzindo palestras e seminários.

Entre suas publicações estão mais de 150 artigos em periódicos profissionais e muitos livros , que foram traduzidos para alemão, francês, italiano, espanhol, português, holandês, sueco, dinamarquês, russo, tcheco, polonês, húngaro, búlgaro, romeno, estoniano, Letão, grego, turco, chinês, coreano e japonês.

Use o Tradutor de Legenda do vídeo.

(continuação do mesmo artigo de Coluna – parte I)

5. Domínio transpessoal da psique

O segundo maior domínio que tem que ser acrescentado à car­tografia da psique humana dominante quando traba­lhamos com estados holotrópicos é hoje conhecida com o nome de transpessoal, querendo dizer, literalmente, além do pessoal ou transcendendo o pessoal. As experiências que se originam nesse nível envolvem a transcendência dos limites normais do indiví­duo (seu corpo e ego), e das limitações do espaço tridimensional e do tempo linear que restringem nossa percepção do mundo no es­tado normal da consciência. A melhor maneira de definir as expe­riências transpessoais é contrastá-Ias com a experiência cotidiana de nós mesmos e do mundo – como devemos vivenciar a nós mes­mos e ao ambiente, para que passemos por “normais” de acordo com os padrões de nossa cultura e da psicopatologia contemporânea (Grof, 1975; 1988).

No estado ordinário ou “normal” da consciência, nos vivencia­mos como objetos newtonianos, existindo dentro dos limites de nossa pele. Como mencionei anteriormente, Alan Watts referiu-se a essa experiência de nós mesmos como associada ao ego encapsu­lado pela pele. Nossa percepção do ambiente é restrita pelas limita­ções fisiológicas de nossos órgãos sensoriais e pelas características físicas do ambiente.

Não podemos ver objetos de que estejamos separados por uma parede sólida, ou navios que estejam além do horizonte, ou o outro lado da lua. Se estivermos em Praga, não poderemos ouvir o que nossos amigos estão conversando em São Francisco. Não podemos sentir a maciez de uma pele de cordeiro a não ser que a superfície de nosso corpo esteja em contato direto com ela. Além disso, só po­demos sentir vividamente, e com todos nossos sentidos, os eventos que estão acontecendo no momento presente. Podemos nos lem­brar do passado e antecipar eventos futuros ou fantasiar sobre eles; no entanto, essas são experiências muito distintas da experiência imediata e direta que temos do momento presente. Nos estados transpessoais da consciência, no entanto, nenhuma dessas limita­ções é absoluta e qualquer uma delas pode ser ultrapassada.

As experiências transpessoais podem ser divididas em três gran­des categorias.

A primeira delas envolve primordialmente a trans­cendência das barreiras espaciais comuns, ou das limitações do ego encapsulado pela pele. A esta categoria pertencem as experiên­cias de fusão com outra pessoa em um estado que pode ser chama­do de unidade dual, em que se assume a identidade da outra pessoa, identificando-se com a consciência de todo um grupo de pessoas (ex. todas as mães do mundo, toda a população da Índia, ou todos os internos dos campos de concentração), ou até mesmo vivencian­do uma ampliação da consciência que parece abranger toda a hu­manidade. Experiências desse tipo já foram descritas inúmeras ve­zes na literatura espiritual mundial.

Da mesma maneira, podemos transcender os limites da expe­riência especificamente humana e identificar-nos com a consciên­cia de vários animais, plantas ou até uma forma de consciência que parece ser associada com objetos e processos inorgânicos. Nos ca­sos extremos, é possível sentir a consciência de toda a biosfera, de nosso planeta, ou de todo o universo material. Por mais incrível e absurdo que isso possa parecer a um ocidental envolvido com o materialismo monístico, essas experiências sugerem que tudo que nós vivenciamos em nosso estado de consciência cotidiano como sendo um objeto tem, nos estados não-ordinários da consciência, uma representação subjetiva correspondente. É como se tudo no universo tivesse seu aspecto objetivo e seu aspecto subjetivo, como é descrito nas grandes filosofias espirituais orientais (por exemplo, no hinduísmo, tudo que existe é uma manifestação de Brahma, ou, no taoísmo, uma transformação do Tao).

No vídeo a seguir Grof descreve brevemente em primeira pessoa como foi esta sua primeira experiência culminante:

A segunda categoria de experiências transpessoais caracteri­za-se, sobretudo pela ultrapassagem de limites temporais em vez de limites espaciais, através da transcendência do tempo linear. Já fala­mos sobre a possibilidade de uma revivência vívida de memórias da primeira infância e do trauma do nascimento. Essa regressão históri­ca pode ir mais além e envolver memórias autênticas fetais e embriô­nicas, de períodos distintos da vida intra-uterina. Tampouco é inco­mum vivenciar, no nível de consciência celular, uma identificação to­tal com o espermatozóide e o óvulo no momento da concepção.

Mas a regressão histórica não pára aqui, e é possível ter expe­riências de vida de nossos antepassados humanos ou animais, ou até aquelas que parecem vir do inconsciente coletivo e racial como foi descrito por C.G. Jung (Jung, 1956; 1959). Com bastante fre­qüência, as experiências que parecem estar ocorrendo em outras culturas e períodos históricos são associadas com uma sensação de lembrança pessoal. Nesse caso, as pessoas falam que estão revi­vendo memórias de vidas passadas, de encarnações anteriores.

Nas experiências transpessoais descritas até aqui, o conteúdo reflete vários fenômenos que existem no espaço-tempo. Elas en­volvem elementos da realidade cotidiana familiar – outras pessoas, animais, plantas, materiais e eventos do passado. O que é surpreen­dente aqui não é o conteúdo dessas experiências e sim o fato que podemos observar ou nos identificarmos plenamente com algo que normalmente não é acessível a nossa experiência. Sabemos que existem baleias grávidas no mundo, mas não deveríamos ser capa­zes de ter uma experiência autêntica de ser uma delas. O fato de a Revolução Francesa ter existido é facilmente admissível, mas não deveríamos poder ter uma experiência vívida de estar lá, deitados e feridos nas barricadas de Paris. Sabemos que há muitas coisas acontecendo no mundo em lugares onde não estamos presentes, mas é normalmente considerado impossível vivenciar algo que está ocorrendo em localidades remotas (sem a mediação da televi­são e de um satélite). Podemos também ter a surpresa de encontrar a consciência associada com animais inferiores, plantas e com a natureza inorgânica.

A terceira categoria de experiências transpessoais é, no entanto, ainda mais estranha que as duas anteriores. Aqui a consciência parece estender-se a domínios e dimensões que a cultura industrial ocidental não considera “reais”. A essa categoria pertencem as inú­meras visões de seres arquetípicos e paisagens mitológicas, encon­tros ou até identificação com divindades e demônios de várias cul­turas e comunicação com seres desencarnados, guias espirituais, entidades supra-humanas, extraterrestres e habitantes de universos paralelos. Nos seus casos extremos, a consciência pode se identifi­car com a Consciência Cósmica, ou com a Mente Universal, co­nhecida sob muitos nomes diferentes – Brahma, Buda, o Cristo Cósmico, Keter, Alá, o Tao, o Grande Espírito e muitos outros. A experiência máxima parece ser a identificação com o vazio supra­cósmico ou metacósmico, o vazio misterioso e primordial e o nada que é consciente de si mesmo e é o berço último de toda existência. Ele não tem um conteúdo concreto e, no entanto, parece conter tudo que existe em uma forma germinal e potencial.

As experiências transpessoais têm muitas características es­tranhas que rompem todas as premissas metafísicas mais básicas do paradigma newtoniano-cartesiano e da visão materialista do mundo. Os pesquisadores que estudaram esses fenômenos fasci­nantes – ou os vivenciaram pessoalmente – compreendem que as tentativas da ciência oficial de menosprezá-Ios considerando-os produtos irrelevantes da fantasia e imaginação humanas ou como alucinações – produtos erráticos de processos patológicos no cé­rebro – são ingênuas e inadequadas. Um estudo não preconcei­tuoso da esfera transpessoal da psique tem de chegar à conclusão de que essas observações representam um desafio crucial, não só para a psiquiatria e para a psicologia, mas também para toda a fi­losofia da ciência ocidental.

Embora as experiências transpessoais ocorram no processo de profunda auto-exploração individual, não é possível interpre­tá-Ias simplesmente como fenômenos intrapsíquicos no sentido convencional. Por um lado, elas aparecem no mesmo contínuo ex­periencial das experiências biográficas e perinatais e, portanto, vêem de dentro da psique individual. Por outro lado, elas parecem ser capazes de recorrer, diretamente e sem a mediação dos senti­dos, a fontes de informação que estão claramente muito além do alcance convencional do indivíduo. Em algum lugar no nível peri­natal da psique, um estranho estremecimento como o do matemáti­co Moebius parece ocorrer e aquilo que até então era uma investi­gação intrapsíquica passa a ser uma vivência do universo como um todo através de meios extra-sensoriais.

Essas observações indicam que podemos obter informações sobre o universo de duas maneiras radicalmente diferentes: além da possibilidade convencional de aprender através da percepção sensorial e da análise e síntese de dados, podemos também desco­brir a respeito de vários aspectos do mundo através de uma identifi­cação direta com eles em um estado holotrópico da consciência. Cada um de nós, portanto, parece ser um microcosmo contendo, de uma maneira holográfica, a informação sobre o macrocosmo. Nas tradições místicas, isso era expresso por frases tais como “tudo o que está em cima é igual a tudo o que está embaixo” ou “tudo o que está fora, é igual a tudo o que está dentro”.

Relatos de sujeitos que vivenciaram episódios de existência embriônica, o momento da concepção, e elementos de consciência celular, tecidual e dos órgãos, abundam em insights médicos apu­rados sobre os aspectos anatômicos, fisiológicos e bioquímicos dos processos envolvidos. Da mesma forma, memórias ancestrais, raciais e coletivas e experiências de encarnações passadas nos dão muitas vezes detalhes muito específicos sobre arquitetura, costu­mes, armas, formas artísticas, estrutura social e práticas religiosas e rituais das culturas e períodos históricos envolvidos, ou até mes­mo sobre eventos históricos concretos.

As pessoas que vivenciam experiências filogenéticas ou iden­tificação com formas de vida existentes não só acham que elas são extraordinariamente autênticas e convincentes, mas também ad­quiriram nessa experiência insights extraordinários relacionados com a psicologia, a etologia, hábitos específicos ou ciclos reprodu­tivos pouco comuns de animais. Em alguns casos, isso era acompa­nhado por inervações musculares arcaicas não características dos seres humanos, ou mesmo comportamentos tão complexos como o desempenho de uma dança de “fazer a corte”.

O desafio filosófico associado com as observações já descritas, por mais extraordinário que possa ser em si mesmo é ainda maior pelo fato de que as experiências transpessoais que refletem correta­mente o mundo material, muitas vezes aparecem no mesmo contí­nuo e intimamente emaranhadas com outras que contêm elementos que o mundo ocidental industrial não considera verdadeiros. Aqui pertencem, por exemplo, as experiências que envolvem divindades e demônios de várias culturas, domínios mitológicos tais como céus e paraísos, e seqüências lendárias ou de contos de fadas.

Podemos, por exemplo, ter uma experiência do céu de Shiva, do paraíso de Tlaloc, o deus da chuva asteca, do submundo sumeri­ano, ou de um dos infernos quentes budistas. É possível também sentirmos como se fôssemos Jesus na cruz, ou termos um encontro surpreendente com a deusa hindu Kali, ou identificar-nos com Shi­va Dança. Esses episódios podem até fornecer novas informações corretas sobre simbolismo religioso e temas míticos que eram ante­riormente desconhecidos pela pessoa envolvida. Observações des­se tipo confirmam a idéia de C.G. Jung de que, além do inconscien­te freudiano individual, podemos também acessar o inconsciente coletivo que contém o patrimônio cultural de toda a humanidade (Jung, 1959).

A existência e natureza das experiências transpessoais violam algumas das premissas mais básicas da ciência mecanicística. Envolvem noções tão aparentemente absurdas como a relativida­de e a natureza arbitrária de todos os limites físicos, as conexões não-locais no universo, a comunicação através de meios e canais desconhecidos, a memória sem um substrato material, a não-linea­ridade do tempo, ou a consciência associada com todos os organis­mos vivos, e até com a matéria inorgânica. Muitas experiências transpessoais envolvem eventos do microcosmo e do macrocos­mo, domínios que normalmente não podem ser atingidos pelos sentidos humanos sozinhos, ou de períodos históricos que prece­dem a origem do sistema solar, a formação do planeta Terra, a apa­rição de organismos vivos, o desenvolvimento do sistema nervoso e a emergência do Homo sapiens.

A pesquisa dos estados holotrópicos, portanto, revela um para­doxo desconcertante com relação à natureza dos seres humanos. Ela claramente demonstra que, de uma maneira misteriosa e ainda inexplicável, cada um de nós contém a informação sobre o universo inteiro e sobre toda a existência, tem acesso experiencial potencial a todas suas partes e, em certo sentido, na medida em que somos apenas uma parte infinitesimal da rede cósmica e uma entidade bio­lógica separada e insignificante, somos também a rede cósmica em sua totalidade. A nova cartografia reflete esse fato e retrata a psique individual humana como sendo essencialmente equivalente ao cos­mos inteiro e à totalidade da existência. Por mais absurda e implau­sível que possa parecer essa idéia a um cientista qualificado e ao nosso sentido comum, ele pode ser reconciliado, sem muita dificul­dade, com os novos desenvolvimentos revolucionários que são nor­malmente chamados de o novo ou emergente paradigma (Bohm, 1980; Sheldrake, 1981; Laszlo, 1994).

A cartografia ampliada esboçada acima é de importância cru­cial para qualquer abordagem a fenômenos tais como o xamanis­mo, os ritos de passagem, o misticismo, a religião, a mitologia, a parapsicologia, as experiências de quase-morte e estados psicodé­licos. Esse novo modelo de psique não é apenas uma questão de in­teresse acadêmico. Como veremos nas sessões que se seguem, ele tem implicações profundas e revolucionárias para a compreensão de distúrbios emocionais e psicossomáticos, inclusive psicoses, e oferece perspectivas novas e excitantes para a terapia.

6. A natureza e a arquitetura das doenças emocionais e psi­cossomáticas

A psicologia clínica e a psiquiatria tradicionais usam, como explicação para os vários distúrbios que não têm uma base orgânica (“psicopatologia psico­gênica”) modelos explicativos que se limitam à biografia pós-natal e ao inconsciente freudiano individual. Esses modelos dão ênfase a fatores tais como influências traumáticas na primeira infância e na infância em geral e, da vida tardia, o potencial patogênico do con­flito psicológico, a importância da dinâmica familiar e dos relacio­namentos interpessoais e o impacto do ambiente social.

As observações do estudo de estados holotrópicos de cons­ciência mostram que os distúrbios emocionais e psicossomáticos, inclusive muitos estados atualmente diagnosticados como psicóti­cos, não podem ser adequadamente compreendidos apenas através das dificuldades no desenvolvimento pós-natal. Segundo aos no­vos insights, essas condições têm uma estrutura multidimensional e de vários níveis, com raízes importantes adicionais no nível peri­natal (trauma do nascimento) e no domínio transpessoal (memó­rias ancestrais, raciais e coletivas, experiências cármicas e dinâmi­ca arquetípica). Levando esses elementos em consideração temos um quadro radicalmente novo muito mais amplo e completo da “psicopatologia”.

O reconhecimento das raízes perinatais e transpessoais dos distúrbios emocionais não implica que os fatores biográficos pós­natais, descritos pela psicanálise, sejam irrelevantes para seu de­senvolvimento. Os eventos na primeira infância e na infância em geral certamente continuam a desempenhar um papel importante no quadro geral. No entanto, em vez de representar a fonte des­ses distúrbios, eles passam a ser determinantes importantes para a emergência de material psicológico de níveis mais profundos do inconsciente.

O registro inconsciente das experiências associadas com o nascimento representam uma rede universal de emoções difíceis e sensações físicas que constituem uma fonte potencial para várias formas de psicopatologia. Se sintomas e síndromes manifestas irão realmente se desenvolver, e que forma irão tomar, depende, en­tão, da influência reforçadora de eventos traumáticos na história pós-natal ou, ao contrário, dos efeitos mitigantes dos vários fatores biográficos. Além disso, os distúrbios emocionais e psicossomáti­cos podem ser co-determinados por vários fatores transpessoais, tais como elementos cármicos, arquetípicos ou filogenéticos. Eles são, assim, o resultado de uma rede complexa de influências recí­procas entre fatores biográficos, perinatais e transpessoais.

Assim, por exemplo, uma pessoa que sofre de asma psicogené­tica pode atribuir a origem desse distúrbio a uma situação de quase afogamento na idade de sete anos, memórias de ser quase estrangu­lado por um irmão mais velho, um episódio de coqueluche na pri­meira infância, asfixia durante o parto e experiências de vidas pas­sadas envolvendo estrangulamento e enforcamento. Da mesma ma­neira, o material subjacente à claustrofobia pode incluir memórias infantis de ser trancado repetidamente em um armário ou em um porão na infância, o uso de cueiros, um parto difícil e episódios de vida passada de encarceramento em uma masmorra medieval e um campo de concentração nazista, e assim por diante.

A abrangência deste trabalho não me permite demonstrar quão profundamente as novas observações mudam nossa compreensão de um espectro amplo de distúrbios emocionais e psicossomáticos específicos. Tenho de sugerir ao leitor interessado que leia uma pu­blicação anterior minha onde fiz essa demonstração com um deta­lhamento considerável (Grof, 1985). Neste contexto, posso apenas enfatizar que o novo modelo conceitual nos oferece explicações, muito mais completas e convincentes para muitas formas de “psico­patologias” e seus vários aspectos, que não poderiam ser adequada­mente explicados pelas escolas existentes de psicologia profunda.

7. Mecanismos terapêuticos e o processo de cura

O novo entendimento das dimensões da psique humana e da arquitetura dos distúrbios emocionais e psicossomáticos descritos acima tem implicações profundas para a terapia. A psicoterapia tradicional conhece apenas mecanismos terapêuticos que operam no nível do material biográfico, tais como a lembrança de eventos esquecidos, a remoção da repressão, a reconstrução do passado através de sonhos, a revivência de memórias traumáticas da in­fância e a análise de transferência. O trabalho com estados holo­trópicos revela muitos outros mecanismos importantes adicionais para a cura e a transformação da personalidade que se tornam dis­poníveis quando nossa consciência atinge os níveis perinatais e transpessoais.

Essa abordagem pode ser denominada de estratégia holotrópi­ca de psicoterapia. Ela representa uma alternativa importante às técnicas de várias escolas de psicologia profunda, que enfatizam o intercâmbio verbal entre o(a) terapeuta e o paciente, assim como àquelas terapias experienciais que são levadas a cabo em estados ordinários da consciência. O princípio básico da terapia holotrópi­ca é que os sintomas dos distúrbios emocionais representam uma tentativa do organismo de se livrar de impressões traumáticas anti­gas, de se curar, e de simplificar seu funcionamento. Portanto, não são unicamente um incômodo e complicação na vida, mas também uma oportunidade importante.

A terapia eficaz, portanto, consiste em ativação temporária, in­tensificação e subseqüente resolução dos sintomas. Esse é um prin­cípio que a terapia holotrópica compartilha com a homeopatia. Um terapeuta homeopata tem a tarefa de identificar e utilizar o remédio que, em pessoas saudáveis, durante os chamados tes­tes, produz exatamente os sintomas manifestados pelo paciente (Vithoulkas, 1980). O estado holotrópico da consciência tende a funcionar como um remédio homeopático universal no sentido de que ele ativa quaisquer sintomas existentes e exterioriza os sinto­mas que estão latentes.

Esse entendimento não se aplica unicamente a neuroses e dis­túrbios psicossomáticos, mas também a muitas condições que clínicos psi da corrente oficial diagnosticariam como psicótico e con­siderando como sendo manifestações de doença mental séria (mas, na verdade, são crises psicoespirituais ou “emergências espirituais”). A incapacidade de reconhecer o potencial de cura dessas condições extremas reflete a estreiteza do modelo conceitual da psicopatologia ocidental que é limi­tada à biografia pós-natal e ao inconsciente individual. As expe­riências para as quais esse modelo não fornece uma explicação ló­gica são então atribuídas a um processo patológico de origem des­conhecida.

Uma análise cuidadosa da fenomenologia das emergências es­pirituais demonstra que elas constituem várias combinações de experiências perinatais, transpessoais e biográficas. Como a nova cartografia ampliada inclui os elementos de todos esses domínios, um modelo conceitual que o incorpora não tem de explicar a ori­gem do conteúdo desses episódios. Seus elementos experienciais pertencem a níveis profundos da psique humana per se, compreen­didos dessa forma abrangente (a anima mundi de Jung).

A explicação teórica só deve explicar o fato de que algumas pessoas necessitam envolver-se em práticas espirituais sistemáti­cas, respirar mais rápido ou ingerir uma substância psicodélica para atingir esses níveis da psique, enquanto que para outras o con­teúdo mais profundo emerge no meio de sua vida cotidiana. Os pa­drões específicos das experiências que constituem esses episódios podem ser entendidos através dos princípios gerais que governam a dinâmica da psique (coex) (sistemas, matrizes perinatais, dinâ­mica arquetípica, etc.).

8. A estratégia da psicoterapia e da auto-exploração

O objetivo na psicoterapia tradicional é alcançar uma compre­ensão intelectual de como a psique funciona e por que os sintomas se desenvolvem e extrair dessa compreensão uma técnica e uma es­tratégia que tornaria possível corrigir o funcionamento emocional dos pacientes. Um sério problema com essa abordagem é a falta ex­traordinária de acordo entre os psicólogos e psiquiatras sobre ques­tões fundamentais, o que resulta em um número surpreendente de escolas de psicoterapia que competem entre si. O trabalho com es­tados holotrópicos nos mostra uma alternativa radical surpreen­dente – a mobilização da inteligência interna profunda dos pró­prios pacientes que guia o processo de cura e transformação.

Uma premissa importante da estratégia holotrópica é que em nossa cultura uma pessoa média opera de um modo muito abaixo de seu real potencial e capacidade. Esse empobrecimento ocorre porque elas se identificam apenas com um aspecto de seu ser, o cor­po físico e o ego. Essa falsa identificação leva a um modo de vida inautêntico, pouco saudável e insatisfatório e contribui para o de­senvolvimento de distúrbios emocionais e psicossomáticos de ori­gem psicológica. O surgimento de sintomas que não têm qualquer base orgânica pode ser considerado como uma indicação de que o indivíduo que opera com premissas falsas chegou a um ponto onde ficou óbvio que sua antiga maneira de ser no mundo não funciona mais e tornou-se insustentável.

À medida que a orientação com relação ao mundo externo en­tra em colapso, o conteúdo do inconsciente começa a emergir na consciência. Esse colapso pode ocorrer em certa área limitada da vida – tal como o casamento, a vida sexual, a orientação profis­sional e a busca de realização de várias ambições pessoais – ou afli­gir simultaneamente a totalidade da vida do indivíduo. A abrangência e profundidade dessa situação correlaciona-se, aproxima­damente, com a seriedade da doença resultante – desenvolvimento de fenômenos neuróticos ou psicóticos. Uma situação como essa representa uma crise ou até uma emergência, mas também uma grande oportunidade.

O objetivo principal da estratégia holotrópica de cura é ativar o inconsciente e libertar a energia presa aos sintomas emocionais e psicossomáticos, que converte esses sintomas em uma corrente de experiência. A tarefa do facilitador ou terapeuta na terapia holotró­pica, então, é dar apoio ao processo experiencial com total confian­ça em sua natureza curadora, sem tentar direcioná-Io ou modifi­cá-lo. Esse processo é orientado pela própria inteligência curadora do paciente. O termo terapeuta é usado aqui no sentido do grego therapeutes, que significa a pessoa que ajuda no processo de cura, e não um agente ativo cuja tarefa é “consertar o paciente”.

Algumas experiências curadoras e transformadoras poderosas podem não ter qualquer conteúdo específico; consistem de seqüên­cias de construção intensa de emoções e de tensão física e subseqüente libertação e relaxamento profundo. Com freqüência, os in­sights e conteúdos específicos emergem mais tarde no processo ou mesmo nas sessões seguintes. Em alguns casos a resolução ocorre no nível biográfico, em outras em conexão com o material perina­tal ou com vários temas transpessoais. Curas dramáticas e transfor­mações pessoais com efeitos duradouros muitas vezes resultam de experiências que totalmente eludem a compreensão racional. É im­portante que o terapeuta apóie o desdobramento experiencial, mes­mo se ele ou ela não o entendem racionalmente. Naturalmente, com mais experiência, o terapeuta acumula um conhecimento sig­nificativo dos princípios gerais que servem de base ao processo, mas isso não evita que ele, ou ela, tenha surpresas. A dinâmica da psique é maravilhosamente criativa e não pode ser capturada em um conjunto de fórmulas rígidas aplicáveis de forma rotineira.

9. O papel da espiritualidade na vida humana

Na visão do mundo da ciência materialista ocidental só a maté­ria existe realmente e não há lugar para qualquer forma de espiri­tualidade. Ser espiritual é visto como um sinal de falta de instrução, de superstição, de um pensamento mágico primitivo, de fantasias ambiciosas e imaturidade emocional. Experiências empíricas das dimensões espirituais da realidade são consideradas como mani­festações de doença mental séria, de psicoses. A pesquisa sobre es­tados holotrópicos da consciência trouxe evidências de que, se pro­priamente compreendida e praticada, a espiritualidade é uma di­mensão natural e importante da psique humana e do esquema uni­versal das coisas.

Para evitar a confusão e o desentendimento que no passado atormentou as discussões sobre a vida espiritual e criou um falso conflito entre religião e ciência é essencial deixarmos bem clara a diferença entre espiritualidade e religião. A espiritual idade é ba­seada em experiências diretas de dimensões da realidade que nor­malmente estão ocultas. Ela não exige, necessariamente, um lugar especial, ou uma pessoa especial mediadora do contato com o divi­no, embora os místicos possam certamente se beneficiar de uma orientação espiritual e de uma comunidade de pessoas que buscam a mesma coisa. A espiritualidade envolve um relacionamento es­pecial entre o indivíduo e o cosmos e é em sua essência algo pes­soal e privado. No advento de todas as grandes religiões ocorreram as experiências visionárias (perinatais e transpessoais) de seus fun­dadores, profetas, santos e até mesmo seguidores comuns. Todas as grandes escrituras espirituais – os Vedas, o Canon Pali Budista, o Alcorão, o Livro dos Mórmons e muitas outras – são baseadas em revelações em estados holotrópicos.

Por comparação, a base da religião organizada é uma atividade gru­paI institucionalizada que ocorre em um local designado (templo, igreja, sinagoga, mesquita), e envolve um sistema de mediadores oficiais. Idealmente, as religiões deveriam dar a seus membros acesso a ex­periências espirituais diretas, e apoio durante essas experiências. No entanto, o que ocorre muitas vezes é que, tão logo a religião se torna organizada, ela mais ou menos perde a conexão com sua fon­te espiritual e passa a ser uma instituição secular explorando as necessidades espirituais humanas sem satisfazê-Ias. Em vez disso, ela cria um sistema hierárquico que tem como foco a busca do po­der, do controle, da política, do dinheiro e outras possessões. Nes­sas circunstâncias, a hierarquia religiosa tende a desencorajar ati­vamente, e até a suprimir, as experiências espirituais diretas de seus membros, porque elas estimulam a independência e não po­dem ser controladas de maneira eficaz.

As observações do estudo dos estados holotrópicos confir­mam as idéias de C.G. Jung referentes à espiritualidade. Segundo ele, as experiências de níveis mais profundos da psique (em minha terminologia, experiências perinatais e transpessoais) têm certa qualidade que Jung denominou de numinosidade (conforme Rudolph Otto). Os sujeitos que estão tendo essas experiências sen­tem que estão encontrando uma dimensão que é sagrada, santa, ra­dicalmente diferente da vida cotidiana, pertencente a uma outra or­dem da realidade. O termo numinosidade é relativamente neutro e com isso preferível a outros, tais como “religioso”, “místico”, “mágico”, “santo”, “sagrado”, “oculto”, e outros mais, que foram usados muitas vezes em contextos problemáticos e podem facil­mente levar a erro.

As pessoas que têm experiências de dimensões numinosas da realidade abrem-se à espiritualidade encontrada nas ramificações místicas das grandes religiões do mundo ou em suas ordens monásticas, não necessariamente em suas organizações oficiais.

A verda­deira espiritualidade é universal e abrange tudo e baseia-se em uma experiência mística pessoal, e não em um dogma ou nas escrituras religiosas. As religiões oficiais organizadas unem as pessoas loca­lizadas na área de seu raio, mas tendem a ser divisoras porque colo­cam seu próprio grupo contra todos os demais e muitas vezes ten­dem a convertê-Ios ou a erradicá-Ios.

Não pode existir nenhum conflito entre a verdadeira espiritualidade e a ciência entendida corretamente. As experiências transpessoais são uma manifesta­ção natural da psique humana e não há nada não-científico em sub­metê-Ias a um estudo sério.

10. A natureza da realidade

As revisões necessárias que discutimos até este momento fo­ram relacionadas com a teoria e a prática da psiquiatria, da psicolo­gia e da psicoterapia. No entanto, o trabalho com estados holotró­picos traz desafios de uma natureza muito mais básica. Muitas das experiências e observações que ocorrem durante esse trabalho não podem ser compreendidas no contexto da abordagem materialista

monística da realidade e, com isso, solapam as premissas metafísi­cas mais fundamentais da ciência ocidental.

O mais sério desses desafios conceituais refere-se à afirmação, por parte da ciência materialista, de que a matéria é a única realida­de e de que a consciência é seu produto. Essa tese já foi apresentada muitas vezes com grande autoridade como um fato científico que já está comprovado sem qualquer dúvida razoável (Dennett, 1991; Crick, 1994). No entanto, quando o submetemos a um exame mais minucioso, fica claro que essa afirmação não é e nunca foi uma de­claração científica séria e sim uma premissa metafísica disfarçada de afirmação científica. A brecha entre matéria e consciência é tão radical e tão profunda que é difícil imaginar que a consciência pos­sa simplesmente surgir como um epifenômeno da complexidade de processos materiais no sistema nervoso central.

Temos ampla evidência clínica e experimental que mostra cor­relações profundas entre a anatomia, a fisiologia e a bioquímica do cérebro e os processos conscientes. No entanto, nenhuma dessas descobertas nos dá uma indicação clara de que a consciência é ver­dadeiramente gerada pelo cérebro. A origem da consciência na ma­téria é simplesmente presumida como um fato óbvio e auto-eviden­te, com base na crença do primado da matéria no universo. Em toda a história da ciência, ninguém jamais ofereceu uma explicação plausí­vel sobre a geração da consciência através de processos materiais, ou até mesmo sugeriu uma abordagem viável para o problema.

Induzindo um estado psicodélico sem psicodélicos: a Respiração Holotrópica  • Trance e Cultura Psicodélica

A idéia de que a consciência é um produto do cérebro natural­mente não é totalmente arbitrária. Seus proponentes normalmente se referem aos resultados de muitos experimentos em neurociência e psi­quiátricos, e a um corpo vasto de observações clínicas específicas oriundas da neurologia, neurocirurgia e psiquiatria para sustentar sua posição. Quando questionamos essa crença tão profundamente enraizada, estaremos querendo dizer que duvidamos da veracidade dessas observações? A evidência para uma forte conexão entre a anatomia do cérebro, a neurofisiologia e a consciência é inquestio­nável e avassaladora.

O que é problemático não é a natureza da evi­dência apresentada, e sim a interpretação de seus resultados, a lógica do argumento e as conclusões que são extraídas dessas observações.

Embora esses experimentos mostrem claramente que a cons­ciência está intimamente ligada aos processos neurofisiológicos e bioquímicos do cérebro, eles têm pouca relação com a natureza e a origem da consciência. Examinemos mais detalhadamente as observações clínicas relevantes e os experimentos de laboratório, bem assim como as interpretações da evidência fornecida pela ciência tradicional. Não há dúvida de que os vários processos no cérebro estão intimamente associados e correlacionados com mu­danças específicas na consciência. Um golpe na cabeça que provo­que uma concussão cerebral ou uma compressão das artérias caró­tidas limitando assim o fornecimento de oxigênio para o cérebro pode causar perda de consciência. Uma lesão ou tumor no lobo temporal do cérebro é freqüentemente associado com mudanças muito características da consciência que são surpreendentemente diferentes daquelas observadas nas pessoas com um processo pa­tológico no lobo pré-frontal.

Os sintomas associados com as várias lesões do cérebro são muitas vezes tão diferentes que podem ajudar o neurologista clínico e/ou cirurgião a identificar a área afetada pelo processo patológico. Às vezes uma intervenção neurocirúrgica bem-sucedida pode corrigir o proble­ma e a experiência consciente volta ao normal. Esses fatos são nor­malmente apresentados como evidência conclusiva de que o cére­bro é a fonte da consciência humana. À primeira vista, essas obser­vações podem aparecer impressionantes e convincentes. No entan­to, elas não se sustentam se as submetermos a um exame mais minu­cioso. Para ser mais preciso, tudo o que esses dados demonstram inequivocamente é que mudanças no funcionamento do cérebro estão intimamente e bem especificamente relacionadas com mu­danças na consciência. Mas eles dizem muito pouco com relação à natureza da consciência e sobre sua origem. Na verdade, deixam essas questões totalmente em aberto. É certamente possível pensar em interpretações alternativas que usariam os mesmos dados, mas chegariam a conclusões diferentes.

Isso pode ser ilustrado se examinarmos o relacionamento entre o aparelho de TV e a programação. A situação aqui é muito mais clara, já que envolve um sistema que é feito pelo homem e incom­paravelmente mais simples. A recepção final do programa de TV, a qualidade da imagem e do som dependem de uma maneira muito crítica do funcionamento adequado do aparelho e da integridade de seus componentes. Mau funcionamento de suas várias partes terá como resultado mudanças muito diferentes e específicas na quali­dade do programa. Algumas delas levam a distorções na forma, na cor, no som, outras à interferência entre os canais. Como o neurolo­gista que usa mudanças na consciência como uma ferramenta para ajudar o diagnóstico, um mecânico de televisão pode inferir, pela natureza das anomalias, que partes do aparelho e que componentes específicos estão funcionando mal. Quando o problema é identifi­cado, o conserto ou a substituição desses elementos corrigirá as distorções.

Como conhecemos os princípios básicos da tecnologia da te­levisão, é óbvio para nós que o aparelho simplesmente intermedeia o programa, e que ele não o cria, nem contribui em nada para ele. Nós riríamos de alguma pessoa que tentasse examinar e esmiuçar todos os transístores, relés, e circuitos do aparelho de televisão e analisar todos os seus fios na tentativa de descobrir como ele cria os programas. Mesmo se estendermos esse esforço mal-orientado até os níveis molecular, atômico ou subatômico, ainda assim não teremos a menor idéia de por que, em um determinado momento, um desenho animado do camundongo Mickey, ou um capítulo do Star Trek, ou um clássico de Hollywood aparecem na tela. O fato de que existe uma correlação assim tão próxima entre o funcionamento do aparelho de televisão e a qualidade do programa não significa necessariamente que todos os segredos do programa estão no pró­prio aparelho. No entanto, é exatamente esse tipo de conclusão que a ciência materialista tradicional extraiu de dados comparáveis a respeito do cérebro e sua relação com a consciência.

Portanto, a ciência materialista ocidental ainda não foi capaz de produzir nenhuma evidência convincente de que a consciência é um produto de processos neurofisiológicos no cérebro. Aliás, ela só foi capaz de manter sua posição atual resistindo, censurando e até ridicularizando um corpo vasto de observações indicando que a consciência pode existir e funcionar independentemente do corpo e dos sentidos físicos. Essa evidência vem da parapsicologia, da antropologia, da pesquisa sobre LSD, da psicoterapia experiencial, da tanatologia e do estudo de estados holotrópicos da consciência que ocorrem espontaneamente.

Todas essas disciplinas colecionaram dados impressionantes que demonstram claramente que a consciência humana é capaz de fazer muitas coisas que o cérebro (como ele é entendido pela ciên­cia oficial) não poderia fazer de jeito algum. Há, por exemplo, am­pla evidência sugerindo que a consciência tem acesso à informação que não está – e nem poderia estar – armazenada no cérebro. Ao discutir as características das experiências transpessoais, referi-me a várias situações nas quais estados visionários davam acesso a as­pectos precisos do universo que eram anteriormente desconheci­dos do sujeito e que não poderiam ter sido adquiridos por meio dos canais convencionais. Estudos de caso específicos ilustrando esse fenômeno podem ser encontrados em muitos de meus livros (Grof, 1975; 1985; 1988; 1992; 1998).

No entanto, deixem-me focalizar em evidência ainda mais surpre­endente que sugere que a consciência pode, em certas circunstân­cias, desempenhar funções que vão muito mais além das capacida­des do cérebro. O que tenho em mente é a existência de experiên­cias fora-do-corpo (Obes) com percepção exata do ambiente. Essas experiências podem ocorrer espontaneamente, ou em uma varieda­de de situações facilitadoras que incluem o transe xamânico, ses­sões psicodélicas, hipnose, psicoterapia experiencial e particular­mente experiências de quase-morte (NDE) (Moody, 1975; Ring, 1982; 1985; Sabom, 1982). Em todas essas situações a consciência pode se separar do corpo e manter sua capacidade sensorial, ao mesmo tempo em que se movimenta livremente para lugares pró­ximos ou distantes.

De interesse especial são as OBE verídicas em que verifica­ção independente prova a exatidão da percepção do ambiente nes­sas circunstâncias. Recentemente os tanatólogos Ring & Cooper (1997) publicaram um estudo fascinante indicando que tais expe­riências podem ocorrer até mesmo em pessoas que são congenita­mente cegas. Inúmeros relatos que confirmam a possibilidade des­sa “aparente visão sem olhos”, como Ring a chamou, deve, por si só, dar aos cientistas oficiais razões suficientes para questionar se­riamente suas crenças referentes ao relacionamento entre a cons­ciência e o cérebro e, em geral, entre a consciência e a matéria. [indico aos meus leitores da RedePsi o “IPPB”, localize no Google, onde trabalhamos exatamente com Experiências fora do corpo]

Conclusões

Neste trabalho, tentei fazer um breve sumário de algumas das observações mais surpreendentes e desafiadoras dos mais de qua­renta anos de minha pesquisa sobre os estados holotrópicos da consciência, focalizando, primordialmente, três áreas: terapia psi­codélica, trabalho de respiração holotrópica e trabalho clínico com indivíduos passando por crises psicoespirituais espontâneas (“emer­gências espirituais”). O escopo deste artigo não me permitiu in­cluir exemplos específicos e histórias de caso para sustentar minha posição. No entanto, espero que, mesmo nessa forma sintética, eu tenha conseguido demonstrar que os estados holotrópicos mere­cem a séria atenção de pesquisadores e teóricos.

Os fenômenos associados com os estados holotrópicos são verdadeiramente extraordinários, e não há dúvida de que eles não podem ser explicados em termos das teorias atuais de psiquiatria e psicologia. Além disso, eles também questionam seriamente as premissas filosóficas básicas da ciência ocidental, especialmente seu materialismo monístico. Os círculos acadêmicos ignoraram ou não levaram a sério a evidência que foi coletada por várias verten­tes da pesquisa moderna sobre consciência a esse respeito. Foram assim capazes de evitar a crise conceitual radical que teria sido pro­vocada por uma avaliação crítica e não preconceituosa dos dados existentes. Creio firmemente que essa avaliação levaria a uma mu­dança radical em nosso entendimento da natureza humana e da na­tureza da realidade, que se assemelharia, em sua profundidade e significância, aos efeitos da revolução na física que ocorreu no co­meço do século vinte.

Observação: Dou fé e assino tudo o que Stanislav Grof escreveu. É o primeiro cientista, como o foram JB Rhine, Ian Stevenson, Edmundo Guimarães Andrade, a demonstrar coragem suficiente para expor “as boas novas”. O “IPPB” (Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas) vem mostrando e ratificando todo esse material aqui explanado, há anos aqui em São Paulo-SP-BR. Fonte

Estados Holotrópicos da Consciência de Stanislav Grof – parte I

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Stanislav Grof Nascimento: 1 de julho de 1931 (idade 89 anos), Praga, Tchéquia

Stanislav Grof é um psiquiatra checo que desenvolveu nos Estados Unidos pesquisas sobre os estados alterados de consciência, através de experiências com o ácido lisérgico, LSD, como meio de atingir esses estados. Segundo o médico, quando pacientes atingiam outros estados de consciência, emergia-se o subconsciente de maneira intensa, importante para a recuperação da saúde mental, visto que experiências traumáticas e demais bagagens emocionais desfavoráveis poderiam ser trabalhadas de forma mais incisiva e direta. Ao término de sua experiência pessoal com o composto químico, o paciente era capaz de ter uma complexa cadeia de novas compreensões pessoais, “insights”, que ajudavam na sua recuperação. Mais tarde desenvolveu uma técnica chamada respiração holotrópica, através da qual é possível atingir estados de consciência semelhantes através da hiperventilação, como alternativa ao uso clínico do LSD, tornado ilegal.

A pesquisa moderna de estados holotrópicos (um grande sub­grupo especial de estados não-ordinários de consciência) tais como psicoterapia experiencial, trabalho clínico e de laboratório com substâncias psicodélicas, antropologia de campo, tanatologia, e terapia com indivíduos passando por crises psicoespirituais (“emer­gências espirituais”) gerou uma pletora de observações extraordi­nárias que abalaram algumas das premissas mais fundamentais da psiquiatria, psicologia e psicoterapia modernas.

Introdução

1) Ao contrário do que diz a ciência acadêmica, o software da psique humana não se limita à biografia pós-natal e ao inconsciente individual freudiano. A psique individual humana, incluídas ou­tras dimensões importantes – o domínio perinatal, intimamente re­lacionada com o trauma do nascimento, e o reino transpessoal, a fonte de experiências que transcendem o corpo-ego – e é essencial­mente equivalente a toda a existência.

2) Os distúrbios emocionais e psicossomáticos de origem psi­cogenética não podem ser explicados de forma adequada por even­tos traumáticos pós-natais; eles têm raízes perinatais e transpesso­ais significativas. Por esse motivo, a psicoterapia, para ser eficaz, precisa incluir esses domínios transbiográficos que vão mais além da biografia e não pode se restringir ao trabalho com o material da vida pós-natal.

3) Além da manipulação do material biográfico que é usado atualmente pelas várias escolas de psicoterapia ocidental, os esta­dos holotrópicos oferecem mecanismos de cura experiencial pode­rosos, que se tornam disponíveis nos níveis perinatais e transpesso­ais da psique, tais como reviver o nascimento biológico e a expe­riência da morte e renascimento psicoespiritual, experiências de vidas passadas, seqüências arquetípicas, episódios de unidade cós­mica e outros mais.

4) Os estados holotrópicos, sejam espontâneos ou induzidos, mobilizam forças de cura intrínsecas ao organismo. Quando com­preendidos e apoiados de forma adequada, eles podem resultar em curas emocionais e psicossomáticas, transformações positi­vas da personalidade e evolução da consciência. Oferecem possi­bilidades terapêuticas que são radicalmente diferentes e superio­res aos esforços convencionais para entender racionalmente a di­nâmica dos distúrbios emocionais e tratá-Ios por meio de inter­venções verbais psicoterapêuticas que refletem as crenças das vá­rias escolas de psicoterapia.

5) A espiritualidade em sua forma genuína é uma dimensão le­gítima e importante da existência e é incorreto rejeitá-Ia como pro­duto da ignorância, da superstição, do pensamento mágico primiti­vo ou da patologia. Experiências místicas não devem ser conside­radas indicações de doença mental, e sim manifestações normais e altamente desejáveis da psique humana que possui um potencial extraordinário para curas e transformações.

6) Muitas experiências em estados não-ordinários da cons­ciência contestam seriamente não só as atuais teorias psiquiátricas e psicológicas, como também as premissas filosóficas básicas da ciência materialista ocidental referente à natureza da realidade e à relação entre matéria e consciência. À luz de novas descobertas, a consciência não é um produto dos processos neurofisiológicos do cérebro, mas sim um aspecto fundamental da existência que é me­diada, mas não produzida, pelo cérebro.

1. Experiências holotrópicas e seu potencial heurístico e de cura

A fonte das observações examinadas neste artigo tem sido um estudo sistemático de longo prazo, daquilo que a psiquiatria acadê­mica chama de “estados alterados de consciência” ou “estados não-ordinários da consciência.” Os focos primordiais dessa pes­quisa foram experiências que representam uma fonte útil de dados sobre a psique humana, e aquelas que têm um potencial de cura, transformador e evolucionário. Para esse objetivo, o termo “esta­dos não-ordinários da consciência” é demasiado geral; inclui uma série muito ampla de condições que não são interessantes ou rele­vantes para nosso ponto de vista.

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A consciência pode ser profundamente modificada por uma variedade de processos patológicos – por traumas cerebrais, por in­toxicações com produtos químicos venenosos, por infecções, ou por processos degenerativos e circulatórios no cérebro. Tais condi­ções podem provocar mudanças mentais profundas que seriam in­cluídas na ampla categoria de “estados não-ordinários da consciên­cia”. No entanto, eles causam “delírios triviais” ou “psicoses orgâ­nicas”, estados associados com desorientação geral, deterioração do intelecto e amnésia subseqüente. Essas condições são muito im­portantes do ponto de vista clínico, mas não são de grande interesse para os pesquisadores da consciência.

Este capítulo sumariza as observações que dão ênfase a um subgrupo amplo e importante de estados não-ordinários da cons­ciência para os quais a psiquiatria contemporânea não tem um ter­mo específico. Cheguei à conclusão que, devido a suas característi­cas peculiares, eles merecem ser diferenciados dos demais e colocados em uma categoria especial. Por esse motivo, eu lhes dei o nome de holotrópicos. Essa palavra composta significa literalmen­te “orientado para a totalidade” ou “indo na direção da totalidade” (do grego holos = todo, e trepein = indo para, ou na direção de algo). O significado geral do termo e a justificativa para seu uso ficarão mais claros mais adiante neste trabalho. Este nome sugere que, em nosso estado de consciência cotidiano, estamos fragmentados e nos identificamos apenas com uma pequena fração daquilo que re­almente somos.

Nos estados holotrópicos, a consciência é modificada qualita­tivamente de uma maneira muito profunda e fundamental, mas não sofre uma deterioração grosseira como no caso de psicoses orgâni­cas ou de delírios triviais. Vivenciamos a invasão de outras dimen­sões da existência que podem ser muito intensas e mesmo engol­fantes. No entanto, ao mesmo tempo, em geral permanecemos to­talmente orientados, e não perdemos totalmente o contato com a realidade cotidiana. Os estados holotrópicos caracterizam-se por uma transformação específica da consciência associada com mu­danças perceptuais dramáticas em todas as áreas sensoriais, emo­ções intensas e muitas vezes incomuns e alterações profundas nos processos do pensamento. Eles são também comumente acompa­nhados por uma variedade de intensas manifestações psicossomá­ticas e formas não convencionais de comportamento.

O conteúdo dos estados holotrópicos é muitas vezes espiritual ou místico. Podemos vivenciar seqüências de morte psicológica e renascimento e um amplo espectro de fenômenos transpessoais, tais como sentimentos de união e identificação com outras pessoas, com a natureza, com o universo e com Deus. Podemos descobrir o que parecem ser memórias de outras encarnações, encontrar figu­ras arquetípicas poderosas, comunicar-nos com seres desencarna­dos e visitar inúmeras paisagens mitológicas. Nossa consciência pode se separar de nosso corpo e ainda assim manter a capacidade de perceber o ambiente imediato e lugares remotos.

Os psiquiatras ocidentais estão cientes da existência de expe­riências holotrópicas, mas, devido a sua estrutura conceitual estrei­ta, limitada à biografia pós-natal e ao inconsciente individual freu­diano, não têm qualquer explicação adequada para eles. Conside­ram-nos como produtos patológicos do cérebro, sintomáticos de uma doença mental séria, a psicose. Essa conclusão não é corrobo­rada por evidência clínica e, no mínimo, é altamente problemática. Referir-se a essas condições como “psicoses endógenas” pode pa­recer extraordinário para uma pessoa leiga, mas é pouco mais do que uma admissão da ignorância dos profissionais com relação à etiologia dessas condições.

OS ESTADOS INCOMUNS DE CONSCIÊNCIA E SEUS POTENCIAIS CURATIVOS - STANISLAV  GROF

É difícil imaginar o que e como um processo patológico afe­tando o cérebro possa produzir o rico e intrigado espectro de expe­riências holotrópicas, envolvendo fenômenos como seqüências devastadoras de morte e renascimento psicoespiritual, encontros com seres arquetípicos, visitas a reinos mitológicos, cenas da vida passada de outras culturas, ou visões de discos voadores e expe­riências de seqüestro por alienígenas. Além disso, um estudo cui­dadoso da natureza dessas experiências e a informação que elas transmitem diretamente contradizem tal interpretação. Um dos ob­jetivos deste trabalho é explorar o estado ontológico das experiên­cias holotrópicas e demonstrar que elas são fenômenos sui generis – manifestações normais da psique humana que têm um grande po­tencial heurístico e de cura.

Culturas antigas e aborígines gastaram muito tempo e energia desenvolvendo técnicas poderosas de alteração da mente que podem induzir estados holotrópicos. Essas “tecnologias do sagrado” com­binam de várias maneiras o canto, respiração, tambores, danças rít­micas, jejum, isolamento social e sensorial, dor física extrema e ou­tros elementos (Eliade, 1964; Campbell, 1984). Com esse objetivo, muitas culturas usavam materiais botânicos contendo alcalóides psi­codélicos (Stafford, 1977; Schultes & Hofmann, 1979).

Os mais famosos exemplos dessas plantas são várias varieda­des de cânhamo, cogumelos “mágicos”, o cacto mexicano conhe­cido como peiote, o rapé sul-americano e caribenho, o arbusto afri­cano eboga e o cipó da floresta amazônica, Banisteriopsis caapi, a fonte do iagê ou ayahuasca. Entre os materiais psicodélicos de ori­gem animal estão as secreções da pele de algumas rãs e a carne do peixe Kyphosus fuscus, do Oceano Pacífico.

Outros importantes desencadeadores de experiências holotró­picas são as várias formas de práticas espirituais sistemáticas que envolvem meditação, concentração, respiração e exercícios de movimento corporal, que são usados nos vários sistemas do ioga, Vipassana ou Zen Budismo, a Vajrayana tibetana, o Taoísmo, o misticismo cristão, o Sufismo e a Cabala. Outras técnicas eram usadas nos mistérios antigos da morte e renascimento, tais como as iniciações dos templos egípcios de Ísis e Osíris e a bacchanalia grega, os ritos de Attis e Adonis e os mistérios de Elêusis. Os deta­lhes dos procedimentos envolvidos que esses ritos secretos conti­nuam em sua maior parte desconhecidos, embora seja provável que as preparações psicodélicas tenham desempenhado um papel importante neles (Wasson & cols., 1978).

Entre meios modernos de induzir estados holotrópicos de cons­ciência estão os princípios ativos puros isolados das plantas psico­délicas (mescalina, psilocibina, e derivados da triptamina, har­malina, ibogaina, cânabis e outros). Substâncias sintetizadas no laboratório [LSD, anfetamina e ketamina (Shulgin & Shulgin, 1991)] e formas experienciais poderosas de psicoterapia, tais como a hipnose, abordagens neo-reichianas, terapia primal e o renasci­mento. Minha esposa Cristina e eu desenvolvemos um trabalho de respiração holotrópica, um método poderoso que pode desencade­ar estados holotrópicos profundos por meios muito simples – res­piração consciente, música evocativa e trabalho corporal focado (Grof, 1988).

Existem também técnicas de laboratório muito eficazes para alterar a consciência. Uma delas é o isolamento sensorial, que en­volve redução significativa de estímulos sensoriais importantes. Em sua forma extrema, o indivíduo é privado de qualquer estímulo sensorial submergindo-a em um tanque escuro à prova de som, cheio de água na temperatura corporal (Lilly, 1977). Outro método bem conhecido para alterar a consciência é o biofeedback, onde o indivíduo é guiado por sinais eletrônicos de feedback até que entre em estados não-ordinários de consciência caracterizados pela pre­ponderância de certas freqüências específicas de ondas cerebrais (Green & Green, 1978). Poderíamos também mencionar aqui as técnicas de privação do sono e de sonhos e o sonho lúcido (La Ber­ge, 1985).

É importante enfatizar que episódios de estados holotrópi­cos de duração variada podem também ocorrer espontaneamente, sem qualquer causa específica identificável e muitas vezes contra a vontade das pessoas envolvidas. Como a psiquiatria moderna não diferencia entre os estados místicos e espirituais e as doenças men­tais, pessoas vivenciando esses estados são muitas vezes conside­radas psicóticas e são hospitalizadas e submetidas a tratamentos psicofarmacológicos supressivos. Minha esposa e eu considera­mos esses estados como crises psicoespirituais ou “emergências espirituais”. Acreditamos que se eles forem apoiados adequada­mente e tratados, podem ter como resultado curas emocionais e psicossomáticas, transformação positiva da personalidade e evolu­ção da consciência (Grof & Grof, 1989; 1990).

Culturas antigas e pré-industriais valorizavam os estados holotrópicos imensamente, praticavam-nos regularmente em con­textos socialmente sancionados, e gastavam muito tempo e energia desenvolvendo técnicas seguras e eficazes para induzi-Ios. Esses estados têm sido o veículo principal para sua vida ritual e espiritu­al, como um meio de comunicação direta com os domínios arquetí­picos de divindades e demônios, forças da natureza, o reino animal e o cosmos. Usos adicionais incluíam o diagnóstico e a cura de do­enças, o desenvolvimento da intuição e da percepção extra-senso­rial (PES), e a obtenção de inspiração artística, bem como objeti­vos práticos, tais como a localização da caça e de objetos ou pes­soas perdidas. Segundo o antropólogo Victor Turner, partilhar es­ses estados em grupos também contribui para a união tribal e tende a criar uma sensação de conexão profunda (communitas).

A psiquiatria e a psicologia ocidentais não consideram os esta­dos holotrópicos (à exceção de sonhos que não são recorrentes ou assustadores) como fontes potenciais de informações valiosas so­bre a psique humana e sobre a cura, e sim, basicamente, como fenô­menos patológicos. Os clínicos tradicionais tendem a usar indiscri­minadamente os rótulos patológicos e a medicação supressiva sempre que esses estados ocorrem espontaneamente. Michael Har­ner, um antropólogo com excelente reputação acadêmica, que se submeteu a uma iniciação xamânica durante seu trabalho de campo na selva amazônica e pratica o xamanismo, sugere que a psiquiatria ocidental é seriamente preconceituosa em pelo menos dois modos significativos (Harner, 1980).

Ela é etnocêntrica, o que significa que considera que a sua própria visão da psique humana e da realidade é a única correta e superior a todas aquelas compartilhadas por outros grupos cultu­rais. Dessa perspectiva, as experiências e comportamentos para os quais não existe nenhuma explicação psicanalítica ou behaviorista, são atribuídas à doença mental. Segundo Harner, a psiquiatria oci­dental também é cognicêntrica (uma palavra mais exata poderia ser “pragmacêntrica”), querendo dizer com isso que ela só leva em consideração experiências e observações no estado ordinário da consciência. A falta de interesse e o menosprezo que a psiquiatria tem pelos estados holotrópicos teve como resultado uma aborda­gem culturalmente insensível, e uma tendência a considerar como patologia todas as atividades que não podem ser compreendidas no estreito contexto do paradigma materialista monístico. Isso inclui a vida espiritual e ritual das culturas antigas e pré-industriais e toda a história espiritual da humanidade.

Se estudarmos sistematicamente as experiências e observa­ções associadas com os estados holotrópicos, veremos que isso le­vará a uma revisão radical de nossas idéias básicas sobre a cons­ciência e sobre a psique humana e a uma abordagem totalmente nova à psiquiatria, à psicologia e à psicoterapia. As mudanças que teríamos de fazer em nosso pensamento se dividem em várias gran­des categorias: 1) Nova compreensão e nova cartografia da psi­que humana; 2) A natureza e arquitetura dos distúrbios emocio­nais e psicossomáticos; 3) Mecanismos terapêuticos e o processo de cura; 4) A estratégia da psicoterapia e auto-exploração; 5) O pa­pel da espiritualidade na vida humana; 6) A natureza da realidade.

2. Nova compreensão e cartografia da psique humana

A psiquiatria e a psicologia acadêmicas tradicionais usam um modelo da psique que é restrita à biografia pós-natal e ao inconsci­ente individual freudiano. Para explicar todos os fenômenos que ocorrem em estados holotrópicos, nosso entendimento das dimen­sões da psique humana tem de ser ampliado drasticamente. Eu mesmo sugeri uma cartografia ou modelo da psique que contém, além do nível biográfico comum, dois domínios transbiográficos: o domínio perinatal, relacionado com o trauma do nascimento bio­lógico; e o domínio transpessoal, que explica fenômenos tais como a identificação experiencial com outras pessoas, animais e plantas, visões de seres e reinos arquetípicos e mitológicos, experiências ancestrais, raciais e cármicas e identificação com a mente univer­sal ou o vazio (Grof, 1975). Essas são experiências que foram des­critas através dos tempos na literatura religiosa, mística e ocultista.

3. Biografia pós-natal e o inconsciente individual

O nível biográfico da psique não exige muita discussão, já que é bem conhecido através da literatura profissional oficial. Aliás, é aquilo de que tratam a psiquiatria, a psicologia e a psicoterapia tradicionais. No entanto, existem algumas diferenças importantes entre explorar esse domínio através da psicoterapia verbal e atra­vés de abordagens que usam estados holotrópicos. Primeiramen­te, em terapias experienciais intensas, nós não só lembramos de eventos significativos emocionalmente, ou os reconstruímos indi­retamente a partir dos sonhos, de lapsos lingüísticos ou de distor­ções de transferência. Vivenciamos as emoções originais, as sen­sações físicas e até as percepções sensoriais em uma regressão etária total. Isso significa que, quando revivemos um trauma im­portante da primeira infância ou da infância em geral, nós real­mente temos a imagem corporal, a percepção ingênua do mundo, as sensações e as emoções que correspondem à idade que tínha­mos à época.

A segunda diferença entre o trabalho com material biográfico em estados holotrópicos, quando comparado com psicoterapias verbais é que no primeiro, além de enfrentar os traumas psíquicos de sempre, as pessoas muitas vezes têm de reviver e integrar trau­mas que eram primordialmente de natureza física. Muitas pessoas têm de processar experiências de quase-afogamento, operações, acidentes e doenças infantis, principalmente aquelas associadas com sufocação, tais como a difteria, a coqueluche, ou a aspiração de um objeto estranho.

Esse material emerge bastante espontaneamente e sem qual­quer programação. À medida que ele vem à tona, as pessoas com­preendem que esses traumas físicos realmente desempenharam um papel significativo na psicogênese de seus problemas emocionais e psicossomáticos, tais como a asma, a enxaqueca, e uma variedade de dores psicossomáticas, fobias, tendências sadomasoquistas ou depressão e tendências ao suicídio. Reviver essas memórias trau­máticas, e sua integração, podem então ter conseqüências terapêuticas de longo alcance. Isso contrasta nitidamente com as atitudes da psiquiatria e psicologia acadêmicas que não reconhecem que in­júrias físicas podem ter uma influência direta na formação de trau­mas psíquicos.

Outra informação nova sobre o nível de relembranças biográ­ficas da psique que surgiu com minha pesquisa psicodélica e holo­trópica foi a descoberta de que as memórias emocionalmente rele­vantes não são armazenadas no inconsciente como um mosaico de impressões isoladas, mas na forma de constelações complexas e dinâmicas. Eu cunhei para essas constelações o nome sistemas coex que é uma abreviação de “sistemas de experiência condensa­da”. Um sistema coex consiste de memórias impregnadas de emo­ções de períodos diferentes de nossa vida que se parecem umas com as outras em termos da qualidade da emoção ou da sensação física que compartilham. Cada coex tem um tema básico que per­meia todas suas camadas e representa seu denominador comum. As camadas individuais contêm, então, as variações desse tema bá­sico que ocorreram nos vários períodos da vida da pessoa.

A natureza do tema central varia consideravelmente de um coex para outro. As camadas de um sistema específico podem, por exem­plo, conter todas as memórias mais importantes de experiências hu­milhantes, degradantes ou vergonhosas que prejudicaram nossa au­to-estima. Em outro sistema coex o denominador comum pode ser a ansiedade, vivenciada em várias situações chocantes ou aterradoras ou sentimentos de sufocação e claustrofobia evocados por circuns­tâncias opressivas e de confinamento. A rejeição ou a privação emo­cional que danifica nossa capacidade de confiar nos homens, nas mulheres ou nas pessoas em geral, é outro motivo comum. Situações que geraram em nós sentimentos profundos de culpa e uma sensação de fracasso, eventos que nos deixaram a convicção de que o sexo é perigoso ou asqueroso, e encontros com agressão e violência indis­criminada podem ser acrescentados à lista acima como exemplos ca­racterísticos. Particularmente importantes são os sistemas coex que contêm memórias de encontros com situações perigosas para a vida, para a saúde ou para a integridade do corpo.

Quando descrevi pela primeira vez os sistemas coex nas pri­meiras fases da minha pesquisa psicodélica, pensei que eles gover­nassem a dinâmica do nível biográfico do inconsciente. À medida que minha experiência com estados holotrópicos tomou-se mais rica e mais extensa, compreendi que as raízes dos sistemas coex são muito mais profundas. Cada uma das constelações coex parece superimpor um aspecto específico do trauma do nascimento, anco­rando-se nele. Além disso, um sistema coex típico vai ainda mais longe e tem suas raízes mais profundas nas várias formas de fenô­menos transpessoais, tais como experiências de vidas passadas, ar­quétipos junguianos, identificação consciente com vários animais, e outras. Atualmente eu considero os sistemas coex como princí­pios gerais organizadores da psique humana. O conceito de siste­mas coex parece, até certo ponto, com as idéias junguianas sobre complexos psicológicos (Jung, 1960) e com os sistemas dinâmi­cos trans- fenomenais de Hanskare Leuner (Leuner, 1962) mas têm muitas características que os diferenciam de ambos conceitos.

Os sistemas coex desempenham um papel importante na nossa vida psicológica. Podem influenciar a maneira como percebemos a nós mesmos, outras pessoas, e o mundo e como nos sentimos a res­peito deles. Eles são as forças dinâmicas por trás de nossos sinto­mas emocionais e psicossomáticos, dificuldades de relacionamen­to com outras pessoas e comportamento irracional. Existe uma in­teração dinâmica entre os sistemas coex e o mundo externo. Even­tos externos em nossa vida podem especificamente ativar sistemas coex correspondentes e, ao contrário, sistemas coex ativos podem nos fazer perceber e nos comportarmos de tal maneira que recria­mos seus temas centrais em nossa vida presente (Grof, 1975).

Antes de continuar nossa discussão da nova cartografia ampli­ada da psique humana, é importante mencionar brevemente uma característica muito importante e extraordinária dos estados holo­trópicos que desempenharam um papel muito significativo no ma­peamento dos territórios experienciais da psique e que também é inestimável para o processo de psicoterapia. Os estados holotrópi­cos tendem a “ligar” algo assim como um “radar interno” que auto­maticamente traz à consciência os conteúdos do inconsciente que têm a carga emocional mais forte e que são mais relevantes psi­codinamicamente naquele momento. Isso representa uma gran­de vantagem em comparação à psicoterapia verbal, onde o cliente apresenta uma série ampla de informação de vários tipos, e o tera­peuta tem de decidir o que é importante, o que é irrelevante e o que o paciente está bloqueando.

Como não há qualquer concordância geral sobre as questões teóricas básicas entre as várias escolas, tais avaliações serão sem­pre idiossincráticas, refletindo as perspectivas da escola do tera­peuta e suas visões pessoais. Os estados holotrópicos evitam que o terapeuta tenha de tomar essas decisões tão difíceis, e elimina mui­tas das tendências pessoais e profissionais das abordagens verbais. Essa seleção automática de material relevante por parte da psique do paciente também espontaneamente guia o processo de auto-ex­ploração mais além do nível biográfico e o orienta para os níveis perinatal e transpessoal da psique. Esses são domínios transbiográ­ficos que não são reconhecidos nem aceitos pela psiquiatria e psi­cologia acadêmicas.

4. O nível perinatal da psique

Quando nosso processo de profunda auto-exploração experi­encial vai além do nível das memórias dos primeiros anos e da in­fância e alcança o próprio nascimento, começamos a nos deparar com emoções e sensações físicas de intensidade extrema, que mui­tas vezes ultrapassam qualquer coisa que anteriormente considerá­vamos humanamente possível. A essa altura, as experiências tor­nam-se uma combinação estranha dos temas de nascimento e mor­te. Elas envolvem uma sensação de aprisionamento que ameaça a própria vida e uma luta desesperada e decidida para nos libertar­mos e sobreviver. Esse relacionamento íntimo entre o nascimento e a morte no nível perinatal reflete o fato de que o nascimento é um evento que pode ser um risco de vida. A criança e a mãe podem re­almente perder suas vidas durante o processo e crianças podem nascer arroxeadas por asfixia, ou até mesmo mortas e precisando ser ressuscitadas.

A revivência de vários aspectos do nascimento biológico pode ser muito autêntica e convincente e muitas vezes repetimos o pro­cesso em detalhe fotográfico. Isso pode ocorrer mesmo em pessoas que não têm qualquer conhecimento intelectual de seu nascimento e a quem faltam informações sobre obstetrícia, mesmo as mais ele­mentares. Podemos, por exemplo, descobrir através da experiência direta que nascemos de nádegas, que foi usado um fórceps durante o parto ou que nascemos com o cordão umbilical enrolado no pes­coço. Podemos sentir a ansiedade, a fúria biológica, a dor física e a sufocação associadas com esse evento atemorizador e até reconhe­cer, com precisão, o tipo de anestesia usada quando nascemos. Isso é, muitas vezes, acompanhado por várias posturas e movimentos da cabeça e do corpo que recriam corretamente a mecânica de um tipo específico de parto. Todos esses detalhes podem ser confirma­dos se existem registros precisos do nascimento ou testemunhas pessoais fidedignas.

A forte representação do nascimento e da morte em nossa psi­que e a íntima associação entre eles pode surpreender psicólogos e psiquiatras tradicionais, mas na verdade isso é lógico e facilmente compreensível. O parto termina bruscamente com a existência in­tra-uterina do feto. Ele ou ela “morrem” como organismo aquático e nasce como uma forma de vida que respira o ar, e é fisiológica e até mesmo anatomicamente diferente. E a própria passagem pelo canal do nascimento é uma situação difícil e que pode ameaçar a vida.

O que não é tão fácil de compreender é por que a dinâmica pe­rinatal também regularmente inclui um componente sexual. Quan­do estamos revivendo os estágios finais do parto no papel do feto, isso é tipicamente associado com uma excitação sexual extraordi­nariamente forte. O mesmo ocorre com as mulheres durante o par­to, que podem vivenciar uma combinação de medo da morte e de excitação sexual intensa. Essa conexão parece estranha e surpreen­dente, sobretudo no caso do feto, e certamente merece umas pala­vras de explicação.

Parece existir um mecanismo no organismo humano que trans­forma sofrimento extremo, especialmente quando é associado com sufocação em uma forma peculiar de excitação sexual. Essa cone­xão experiencial pode ser observada em uma variedade de situa­ções além do nascimento. Pessoas que tentaram se enforcar e fo­ram salvas no último momento tipicamente descrevem que, no auge da asfixia, sentiram uma excitação sexual quase insuportável. Sabe-se que homens que são executados por enforcamento normal­mente têm uma ereção e ejaculam.

A literatura sobre tortura e lavagem cerebral descreve que so­frimento físico desumano muitas vezes provoca êxtase sexual. Nas seitas de flagelantes, que regularmente se submetem à tortura au­to-infligida, e nos mártires religiosos que foram submetidos a tor­mentos inimagináveis, a dor física extrema, em um determinado momento, se transforma em excitação sexual e eventualmente pro­voca arroubos extáticos e experiências transcendentais. Em uma forma menos extrema, esse mecanismo opera em várias práticas sadomasoquistas que incluem estrangulamento e sufocação.

OS ESTADOS INCOMUNS DE CONSCIÊNCIA E SEUS POTENCIAIS CURATIVOS - STANISLAV  GROF

O espectro experiencial do domínio perinatal do inconsciente não se limita a emoções e sensações físicas que podem ser originá­rias de processos biológicos, envolvidos no parto. Também en­volve um rico imaginário simbólico que é extraído dos domínios transpessoais. O domínio perinatal é uma interface importante en­tre os níveis biográficos e transpessoais da psique. Representa uma passagem para os aspectos históricos e arquetípicos do inconscien­te coletivo no sentido junguiano. Como o simbolismo específico dessas experiências têm sua origem no inconsciente coletivo, e não nos bancos de memórias individuais, ele pode se originar de qual­quer contexto geográfico e histórico, assim como de qualquer tra­dição espiritual do mundo, de forma bastante independente de nos­so contexto racial, cultural, educacional ou religioso.

A identificação com o bebê enfrentando a penosa experiência da passagem através do canal do nascimento parece dar acesso a expe­riências de pessoas de outras épocas e culturas, de vários animais e até de figuras mitológicas. É como se, ao conectar com a experiência do feto lutando para nascer, atingíssemos uma conexão íntima, qua­se mística, com a consciência da espécie humana e com outros seres sencientes que estão, ou já estiveram, em um apuro semelhante.

A confrontação experiencial com o nascimento e a morte parece ter como resultado, automaticamente, uma abertura espiritual e a descoberta de dimensões místicas da psique e da existência. Parece não fazer qualquer diferença se esse encontro com o nascimento e a morte ocorre em situações reais da vida, tais como no caso de mulhe­res dando à luz e no contexto de experiências de quase morte, ou se é puramente simbólico. Seqüências perinatais intensas em sessões psicodélicas e holotrópicas ou durante crises psicoespirituais espon­tâneas (“emergências espirituais”) parecem ter o mesmo efeito.

O nascimento biológico tem três estágios distintos. No primei­ro, o feto é apertado pelas contrações uterinas sem ter qualquer chance de escapar dessa situação, já que o cérvix está firmemente fechado. As contrações contínuas empurram o cérvix sobre a cabe­ça do feto até que ele esteja suficientemente dilatado para permitir a passagem através do canal do nascimento. A dilatação total do cérvix e a descida da cabeça para encaixar-se na pelve marcam a transição do primeiro para o segundo estágio do parto que é carac­terizado pela gradual e difícil propulsão através das vias do nasci­mento. E finalmente, no terceiro estágio, o recém-nascido emerge do canal do nascimento e, depois que o cordão umbilical é cortado, ele ou ela se tornam um organismo anatomicamente independente.

Em cada um desses estágios o bebê vivencia um conjunto de emoções intensas e sensações fisicas específicas e típicas. Essas experiências deixam marcas inconscientes profundas na psique que, mais tarde, irão desempenhar um papel importante na vida do indivíduo. Reforçadas por experiências emocionalmente impor­tantes da primeira infância e da infância em geral, as memórias do nascimento podem formar a percepção do mundo, influenciar pro­fundamente o comportamento cotidiano e contribuir para o desen­volvimento de vários distúrbios emocionais e psicossomáticos.

Nos estados holotrópicos, esse material inconsciente pode vir à tona e ser vivenciado plenamente. Quando nosso processo de au­to-exploração profunda nos leva de volta ao nascimento, descobri­mos que reviver cada um dos estágios do parto se associa com um padrão experiencial distinto, caracterizado por uma combinação específica de emoções, sensações físicas e imagens simbólicas. Refiro-me a esses padrões da experiência como matrizes perinatais básicas (MPBs).

A primeira matriz perinatal (MPB I) é relacionada com a expe­riência intra-uterina que imediatamente precede o nascimento e as três matrizes restantes (MPB II – MPB IV) com os três estágios clí­nicos do parto descritos acima. Além de conter elementos que repre­sentam um replay da situação original do feto em um estágio especí­fico do nascimento, as matrizes perinatais básicas também incluem várias cenas naturais, históricas e mitológicas com qualidades expe­rienciais semelhantes extraídas de domínios transpessoais.

As conexões entre as experiências dos estágios consecutivos do nascimento biológico e várias imagens simbólicas associadas com elas são muito específicas e consistentes. O motivo pelo qual elas emergem juntas não faz sentido em termos da lógica conven­cional. No entanto, isso não quer dizer que as associações sejam ar­bitrárias ou ao acaso. Elas têm sua própria ordem profunda cuja melhor descrição é “lógica experiencial”. O que isso significa é que a conexão entre as experiências características dos vários está­gios do nascimento e os temas simbólicos concomitantes não estão baseados em alguma similaridade externa formal, mas sim no fato de que elas partilham os mesmos sentimentos emocionais e as mes­mas sensações físicas.

4.1. Primeira Matriz Perinatal Básica (MPB I)

Ao experimentar os episódios de uma existência embriônica serena (MPB I), muitas vezes encontramos imagens de vastas re­giões sem quaisquer fronteiras ou limites. Às vezes as identifica­mos com galáxias, espaço interestelar, ou o cosmos inteiro, outras vezes temos a sensação de estar flutuando no oceano ou de estar­mos nos transformando em vários animais aquáticos tais como pei­xes, golfinhos ou baleias. A experiência uterina serena pode também abrir para visões da natureza – seguras, belas e incondicionalmente nutritivas, como um bom útero (a Mãe Natureza). Podemos ver po­mares exuberantes, campos de milho maduro, terraços agrícolas nos Andes ou ilhas da Polinésia ainda não exploradas. A experiência do útero bom pode também dar acesso seletivo ao domínio arquetípi­co do inconsciente coletivo e mostrar imagens de paraísos ou céus como são descritos nas mitologias de culturas diferentes.

Quando estamos revivendo episódios de distúrbios uterinos, ou experiências de “útero mau” temos uma sensação de ameaça oculta e geral, e muitas vezes sentimos como se estivéssemos sen­do envenenados. Podemos ver imagens que retratam águas poluí­das ou depósitos de lixo tóxico. Isso reflete o fato de que muitos distúrbios pré-natais são causados por mudanças tóxicas no corpo da mãe grávida. A experiência do útero tóxico pode ser associada com visões de figuras demoníacas assustadoras do reino arquetípi­co do inconsciente coletivo. A revivência de interferências mais violentas durante a existência pré-natal, tais como um aborto natu­ral iminente, ou uma tentativa de aborto provocado, é usualmente relacionada com uma sensação de ameaça universal ou com visões apocalípticas e sangrentas do fim do mundo.

4.2. Segunda Matriz Perinatal Básica (MPB II)

Quando a regressão experiencial atinge a memória do começo do nascimento biológico, normalmente sentimos que estamos sen­do tragados por um rodamoinho gigantesco ou engolidos por algu­ma fera mítica. Podemos também sentir como se o mundo inteiro, ou até mesmo o cosmos estivessem sendo tragados. Isso pode ser associado com imagens de monstros arquetípicos que agarram ou devoram, tais como leviatãs, dragões, cobras gigantescas, tarântu­Ias e polvos. A sensação esmagadora de risco de vida pode provo­car ansiedade intensa e uma desconfiança de tudo que é quase como uma paranóia. Podemos também vivenciar uma queda nas profundezas do submundo, no reino da morte, ou no inferno. Como o mitólogo Joseph Campbell descreveu de forma tão eloqüente, esse é um tema universal nas mitologias da viagem do herói (Camp­bell, 1968).

Reviver o primeiro estágio do nascimento biológico em sua plena evolução, quando o útero está se contraindo, mas o cérvix ainda não está aberto (MPB II) é uma das piores experiências que um ser humano pode ter. Sentimo-nos presos em um pesadelo claustrofóbico monstruoso, sofremos dores físicas e emocionais extremas e temos uma sensação de impotência e desespero total. Nossos sentimentos de solidão, de culpa, do absurdo da vida e o de­sespero existencial podem atingir proporções metafísicas. Perde­mos conexão com o tempo linear e ficamos certos de que essa si­tuação nunca chegará ao fim e que não há absolutamente nenhuma saída. Não há dúvida em nossa mente que o que nos está ocorrendo é aquilo a que as religiões chamam de inferno – tormento físico e emocional insuportável sem qualquer esperança de redenção. Com efeito, isso pode ser ainda acompanhado por imagens arquetípicas de diabos e paisagens infernais de culturas diferentes.

SUPERPSICOEDUCADOR: LUZES DO MUNDO - STANISLAV GROF

Quando estamos enfrentando a situação de nenhuma saída e estamos nas garras das contrações uterinas, podemos nos conectar, experiencialmente, com seqüências do inconsciente coletivo que envolvem pessoas, animais e até seres mitológicos que estão em uma situação dolorosa e desesperada semelhante. Identificamo-­nos com prisioneiros em masmorras, internos de campos de con­centração ou de hospícios e com animais presos em armadilhas. Podemos vivenciar as torturas intoleráveis de pecadores no inferno ou de Sísifo rolando sua pedra gigantesca montanha acima, no mais profundo do Hades. Nossa dor pode transformar-se de Cristo perguntando a Deus por que Ele o havia aban­donado. Parece-nos que estamos enfrentando a perspectiva de condenação eterna. Este estado de escuridão e desespero profundos con­hecido na literatura espiritual como a Noite Escura da Alma. De uma perspectiva mais ampla, apesar dos sentimentos de total desespero que ele envolve, esse estado é um estágio im­portante de abertura espiritual. Se vivenciado em sua profundida­de total, pode ter um efeito expurgador e liberalizante para aqueles que o vivenciam.

4.3. Terceira Matriz Perinatal Básica (MPB III)

A experiência do segundo estágio do nascimento, a propulsão do canal do nascimento depois que o cérvix se abre e a cabeça desce (MPB III), é extraordinariamente rica e dinâmica. Enfrentando as energias conflitantes e as pressões hidráulicas envolvidas ­no parto, somos inundados com imagens do inconsciente coletivo representando seqüências de batalhas titânicas e cenas de violência e tortura sangrenta. É também nessa fase que nos defron­tamos com impulsos sexuais e energias de natureza problemática e intensidade extraordinária.

Já descrevemos anteriormente que a excitação sexual é uma parte importante da experiência do nascimento. Isso coloca nosso primeiro encontro com a sexualidade em um contexto muito precá­rio, em uma situação em que nossa vida está ameaçada, onde estamos sof­rendo e infligindo dor e em que não podemos respirar. Ao mesmo tempo, estamos vivenciando uma combinação de ansieda­de vital e fúria biológica primitiva, a última sendo uma reação compreensível por parte do feto a essa experiência dolorosa e ame­açadora de sua vida. Nos últimos estágios do nascimento, podemos também encontrar várias formas de material biológico – sangue, urina e até mesmo fezes.

Devido a essas conexões problemáticas, as experiências e imagens que encontramos nessa fase normalmente apresentam o sexo de uma maneira profundamente distorcida. A combinação estranha de excitação sexual com dor física, agressão, ansiedade vital e material biológico leva a seqüências que são pornográficas, aber­rantes, sadomasoquistas, escatológicas ou até mesmo satânicas. Podemos ser dominados por cenas dramáticas de abuso sexual, perversões, estupros e assassinatos por motivos eróticos.

Ocasionalmente essas experiências podem adotar a forma de participação em rituais de que participam bruxas e satanistas. Isso parece estar relacionado com o fato de que a revivência desse está­gio do nascimento envolve a mesma combinação estranha de emo­ções, sensações e elementos que caracterizam as cenas arquetípicas da Missa Negra e dos Sabás das Bruxas (Noite de Walpurgi). É uma mistura de excitação sexual, ansiedade aterrorizante, agressão, amea­ça vital, dor, sacrifício e encontro com materiais biológicos nor­malmente repulsivos. Esse amálgama experiencial peculiar é asso­ciado com uma sensação do sagrado ou numinoso que reflete o fato de que tudo isso está se desenvolvendo em muita proximidade a uma abertura espiritual.

Esse estágio do processo do nascimento pode também ser as­sociado com inúmeras imagens do inconsciente coletivo retratan­do cenas de agressão assassina, tais como batalhas cruéis, revolu­ções sangrentas, massacres ensangüentados e genocídio. Em todas as cenas violentas e sexuais que encontramos nesse estágio, alter­namos entre o papel do perpetrador e o da vítima. Esse é o momen­to de um encontro importante com o lado escuro de nossa persona­lidade, a Sombra de Jung.

À medida que essa fase perinatal culmina e se aproxima do fim, muitas pessoas vêem Jesus, o Caminho da Cruz e a crucifica­ção ou até mesmo vivenciam uma espécie de identificação total com o sofrimento de Jesus. A esfera arquetípica do inconsciente coletivo contribui para essa fase com figuras mitológicas heróicas e divindades representando a morte e o renascimento, tais como o deus egípcio Osíris, as divindades gregas Dionísio e Perséfone ou a deusa sumeriana Inana.

4.4. Quarta Matriz Perinatal (MPB IV)

A revivência do terceiro estágio do processo do nascimento, da verdadeira emergência no mundo (MPB IV) normalmente tem iní­cio com o tema fogo. É possível ter a sensação de que nosso corpo está sendo consumido e chamuscado pelo calor, temos visões de ci­dades e florestas pegando fogo, ou nos identificamos com vítimas de imolação. As versões arquetípicas desse fogo podem tomar a forma das chamas purificadoras do Purgatório ou do legendário pássaro Fênix, morrendo no calor de seu ninho queimado e emer­gindo das cinzas renascido e rejuvenescido. O fogo purificador pa­rece destruir tudo o que seja corrupto em nós e preparar-nos para o renascimento espiritual. Quando estamos revivendo o momento mesmo do nascimento, o vivenciamos como a extinção total e o re­nascimento e a ressurreição subseqüentes.

OS ESTADOS INCOMUNS DE CONSCIÊNCIA E SEUS POTENCIAIS CURATIVOS - STANISLAV  GROF

Para entender por que sentimos a revivência do nascimento biológico como se fosse morte e renascimento, temos de compre­ender que o que ocorre conosco é muito mais do que meramente um replay do evento original do nascimento. Durante o parto, esta­mos totalmente presos no canal do nascimento e não temos meios de expressar as emoções e sensações extremas que estão em jogo. Assim, nossa memória desse evento permanece psicologicamente mal-digerida e mal assimilada. Grande parte de nossa autodefini­ção futura e de nossas atitudes com relação ao mundo são forte­mente contaminadas pela lembrança constante e profunda da vul­nerabilidade, inadequação e fragilidade que vivenciamos durante o nascimento. Em certo sentido nascemos anatomicamente, mas, emocionalmente, não nos damos realmente conta de que a emer­gência e o perigo já passaram.

O “morrer” e a agonia durante a luta para o renascimento refle­te a verdadeira dor e ameaça à vida que ocorre no processo do nas­cimento biológico. No entanto, a morte do ego que imediatamente precede o renascimento é a morte de nossos antigos conceitos de quem somos e de como é o mundo, que são forjados pela marca traumática do nascimento. À medida que estamos expurgando es­ses programas antigos de nossa psique e de nosso corpo, deixan­do-os emergir na consciência, estamos diminuindo sua carga ener­gética e restringindo sua influência destrutiva em nossa vida. De uma perspectiva mais ampla, esse processo tem, na verdade, a ca­pacidade de curar e de transformar. E, no entanto, quando nos apro­ximamos de sua resolução final, podemos paradoxalmente sentir que, como as antigas impressões estão abandonando nosso siste­ma, estamos morrendo com elas. Às vezes, não só temos uma sen­sação de aniquilamento pessoal, mas também da destruição do mun­do como o conhecemos.

Embora só um pequeno passo nos separe da experiência de li­bertação radical, temos uma sensação de ansiedade que tudo per­meia e de uma iminente catástrofe de enormes proporções. A im­pressão de fim iminente pode ser muito convincente e arrebatadora. O sentimento predominante é que estamos perdendo tudo aquilo que conhecemos e que somos. Ao mesmo tempo, não temos nenhuma idéia do que pode estar do outro lado, ou mesmo se há qualquer coisa lá. É devido a esse medo que, nesse estágio, muitas pessoas, se po­dem, desesperadamente resistem ao processo. Em conseqüência dessa resistência, elas podem ficar psicologicamente presas nesse território problemático por um período indefinido de tempo.

O encontro com a morte do ego é um estágio da viagem espiri­tual em que provavelmente precisaremos de muito encorajamento e apoio psicológico. Quando conseguirmos vencer o medo metafísico associado com essa importante conjuntura e decidirmos dei­xar que as coisas aconteçam, vivenciamos extinção total em todos os níveis imagináveis. Isso inclui destruição física, desastre emoci­onal, derrota intelectual e filosófica, fracasso moral final e até con­denação espiritual. Durante essa experiência, teremos a sensação de que todos os pontos de referência, tudo que é importante e signi­ficativo em nossas vidas foi destruído impiedosamente.

Logo após a experiência de extinção total – “chegando ao fundo do poço cósmico” – seremos dominados por visões de uma luz que tem um brilho e beleza supernaturais e que normalmente é conside­rada sagrada. Essa epifania divina pode ser associada com a aparição de lindos arcos-íris, desenhos de penas de pavão diáfanas e visões de reinos celestiais com seres angélicos ou divindades surgindo na luz. Esse é também o momento quando podemos vivenciar um encontro profundo com a figura arquetípica da Grande Deusa Mãe ou com uma de suas muitas formas ligadas às várias culturas.

A experiência de morte e renascimento psicoespiritual é um passo importante na direção do enfraquecimento de nossa identifi­cação com o corpo-ego, ou com o “ego-encapsulado na pele”, como o chamou o escritor e filósofo anglo-americano Alan Watts, e da re-conexão com a esfera transcendental. Sentimo-nos redimi­dos, libertados e abençoados e temos uma nova percepção de nossa natureza divina e status cósmico. Normalmente também sentimos uma forte onda de emoções positivas com relação a nós mesmos, às outras pessoas, à natureza, a Deus e à existência em geral. Ficamos cheios de otimismo e temos uma sensação de bem-estar emocional e físico.

É importante enfatizar, também, que esse tipo de experiência de cura e de mudança de vida ocorre quando os estágios finais do nascimento biológico tiveram uma evolução mais ou menos natu­ral. Se o parto foi muito debilitante ou tornou-se confuso devido a uma anestesia muito forte, a experiência do renascimento não tem a qualidade de emergência triunfal na luz. Será mais semelhan­te a um despertar, ou como a recuperação de uma ressaca com tonteira, náusea e uma consciência confusa. Nesse caso, é prová­vel que muito esforço psicológico seja necessário para trabalhar essas questões adicionais e os resultados positivos serão muito me­nos surpreendentes.

A esfera perinatal da psique representa uma encruzilhada ex­periencial de importância crucial. Ele é não só o ponto de encontro de três aspectos absolutamente essenciais da existência biológica humana – o nascimento, o sexo e a morte – mas também a linha di­visória entre vida e morte, o indivíduo e a espécie e a psique huma­na individual e o espírito universal. A plena experiência consciente do conteúdo desse domínio da psique com uma boa integração sub­seqüente podem ter conseqüências de longo alcance e conduzir a uma abertura espiritual e a uma profunda transformação pessoal. Fonte

Livros publicados (português) de Stanislav Grof:
  • Variedades das experiências transpessoais: observações da psicoterapia com LSD. in. WEILL, Pierre (org.) Experiência cósmica e psicose. vol 5 / IV Pequeno tratado de psicologia transpessoal. RJ, Vozes, 1978
  • Além do Cérebro: Nascimento, Morte e Transcendência em Psicoterapia. SP, McGraw-Hill Brasil, 1987
  • com GROF, Christina. Emergência Espiritual. São Paulo: Cultrix, 1989.
  • com BENNETT, E. Hal Zina. A Mente Holotrópica: Novos Conhecimentos Sobre a Psicologia e Pesquisa da Consciência. (Coleção Arco do Tempo, Vol. 8). RJ, Rocco, 1994
  • Psicologia do futuro. São Paulo: Heresis, 2000.
  • Quando o impossível acontece. São Paulo: Heresis, 2007.
  • com GROF, Christina. Respiração Holotrópica: uma nova abordagem de autoexploração e terapia. Rio de Janeiro: Numina, 2011.
  • Cura Profunda – A Perspectiva Holotrópica. Rio de Janeiro: Numina, 2015..
Por ordem de publicação (em inglês)
  • Realms of the Human Unconscious: Observations from LSD Research. Viking Press, 1975.
  • The Human Encounter with Death. E. P. Dutton, 1977.
  • Beyond Death: Gates of Consciousness. (Além da Morte: Mitos, Deuses, Mistérios). Thames and Hudson, 1980.
  • LSD Psychotherapy. Hunter House, 1980.
  • Ancient Wisdom and Modern Science. SUNY Press, 1984.
  • Beyond the Brain: Birth, Death, and Transcendence in Psychotherapy. (Além do Cérebro: Nascimento, Morte e Transcendência em Psicoterapia). SUNY Press, 1985.
  • The Adventure of Self-Discovery. (A aventura da autodescoberta). SUNY Press, 1987.
  • Human Survival and Consciousness Evolution. SUNY Press, 1988.
  • Spiritual Emergency: When Personal Transformation Becomes a Crisis. (Emergência Espiritual: Crise e Transformação Espiritual). J. P. Tarcher, 1989.
  • The Stormy Search for the Self: a Guide to Personal Growth Through Transformational Crisis. (A tempestuosa busca do ser). J. P. Tarcher, 1990.
  • The Holotropic Mind: the Three Levels of Consciousness and How They Shape Our Lives. (A Mente Holotrópica: Novos Conhecimentos Sobre Psicologia e Pesquisa da Consciência). Harper Collins, 1992.
  • The Books of the Dead: Manuals for Living and Dying. Thames and Hudson, 1994.
  • The Cosmic Game: Explorations of the Frontiers of Human Consciousness. (O Jogo Cósmico: Explorações das Fronteiras da Consciência Humana). SUNY Press, 1998.
  • The Consciousness Revolution: a Transatlantic Dialogue. Element Books, 1999.
  • Psychology of the Future: Lessons from Modern Consciousness Research. (Psicologia do Futuro: Lições das Pesquisas Modernas da Consciência). SUNY Press, 2000.
  • The Ultimate Journey: Consciousness and The Mystery of Death. MAPS, 2006.
  • When the Impossible Happens: Adventures in Non-Ordinary Realities. (Quando o impossível acontece: histórias extraordinárias que desafiam a ciência). Sounds True, 2006.
  • LSD: Doorway to the Numinous: The Groundbreaking Psychedelic Research into Realms of the Human Unconscious. Park Street Press, 2009.
  • Holotropic Breathwork: A New Approach to Self-Exploration and Therapy. Excelsior Editions, 2010.
  • Healing Our Deepest Wounds: The Holotropic Paradigm Shift. Stream of Experience Productions, 2012.
  • The Way of the Psychonaut Volume One: Encyclopedia for Inner Journeys. MAPS, 2019.
  • The Way of the Psychonaut Volume Two: Encyclopedia for Inner Journeys. MAPS, 2019.

Consciência estendida de Rupert Sheldrake – parte III

Cientistas da Nova Era, Rupert Sheldrake & Nova Ciência da Vida… |  novaconsciência

Essa é uma área de pesquisa muito produtiva e o que demons­tra é que cães ou gatos ou outros animais podem captar as intenções de seus donos. Eles captam essas intenções quando os donos estão em casa, mas nesse caso, é claro, é muito mais difícil eliminar os efeitos de sugestões sutis, linguagem corporal, efeito Clever Hans, e assim por diante. Quando eles estão a quilômetros de distância, como no caso desse experimento que acabamos de ver com o JT, que foi feito com distâncias maiores que 8 quilômetros, muitas com 15 ou 20 quilômetros, quando estão a uma longa distância, a idéia de sugestões sutis, efeitos Clever Hans e outras coisas mais, é eliminado. O que eles mostram é que as intenções humanas podem ter um efeito à distância, a intenção de ir para casa irá afetar o ca­chorro e, se o cachorro pode reagir a uma intenção humana a mui­tos quilômetros de distância, pode ser que um ser humano também possa responder a uma intenção humana a muitos quilômetros de distância. A interconexão de pessoas através da intenção a grandes distâncias é, é claro, algo que as culturas tradicionais pressupõem. Mas é uma daquelas áreas que sempre foi um tabu para o tipo de dogmatismo racionalista da ciência moderna. Acho que esse estu­do de intenção à distância abre uma enorme área de diálogo poten­cial com tradições espirituais. No decorrer dos últimos anos, venho mantendo uma série de diálogos com Mathew Fox, um padre e teó­logo norte-americano, uma pessoa com mente aberta e interessan­te, e exploramos como essas novas idéias oriundas desse tipo de pesquisa pode nos dar uma idéia mais ampla da noção de alma e da psique em geral. Também abre uma nova possibilidade de pensa­mento sobre o poder da oração, que tem muito que ver com inten­ção. As pessoas que rezam acreditam que suas intenções podem ter resultados à distância sem saber bem como isso funciona e, se cães podem reagir a intenções à distância, então há uma nova área de diálogo abrindo-se aqui, que é extremamente interessante. Discuti­mos isso em nosso livro Natural grace, que é uma série de diálogos sobre questões desse tipo.

O ponto de vista convencional, é que, se você rezar, tudo o que acontece é uma série de pequenas mudanças elétricas e químicas em sua cabeça e é praticamente impossível que isso tenha algum efeito à distância. Bem, a meu ver a mente e os efeitos da mente se estendem no espaço, através da percepção, através da intenção e através daquilo que queremos que aconteça no mundo. Eu dei al­guns exemplos de experimentos simples que podem ser examina­dos e outros que podem também mostrar que a mente pode estar relacionada ao corpo, através do fato de que ela se estende espaci­almente por toda a área onde a imagem de nosso corpo está. Acho que esses efeitos são mediados por campos mórficos que mantêm unidas partes de sistemas auto-organizadores, e quando você está lidando com animais domésticos e seus donos, por exemplo, a maneira como os campos mórficos se organizam depende do fato de que cada sistema, em todos os níveis de organização, tem um campo mórfico, e esses poderiam estar em átomos, em moléculas, em cristais, em órgãos, em organismos, em sociedades, e acho mesmo que cada sociedade tem um campo mórfico para todo o agrupamento social. Um cão e um ser humano, quando formam uma união entre eles, são parte de um grupo social. Os cães são animais intensamente sociais, eles descendem dos lobos que têm uma vida social intensa. Portanto, eu acho que o que ocorre quando uma pessoa sai de casa, é que ela ainda continua conectada pelo campo mórfico da família, do qual o cão é parte. O campo mórfico se estica, por assim dizer, mas eles ainda estão ligados por esse campo mórfico, e é devido a essa conexão contínua invisível que a informação pode viajar, as intenções da pessoa podem afetar o ca­chorro em casa.

Portanto, eu interpreto tudo isso em termos de campos mórfi­cos. É claro, outras pessoas podem querer interpretá-lo em termos de outras coisas, e pode ser que isso esteja relacionado com a não-localidade quântica, ninguém sabe. Existem na física quânti­ca, fenômenos não-locais misteriosos, sistemas que foram conec­tados como parte do mesmo sistema, e quando são separados retêm essa conexão não-local e não separável à distância. Bem, uma pes­soa e um cachorro, que estiveram conectados por terem vivido jun­tos como companheiros, quando se separam podem ter uma cone­xão não-local semelhante. Mas ninguém sabe se essa não localida­de quântica se estende aos fenômenos macroscópicos ou não. Não há razão para que isso não aconteça, que eu saiba, mas, por enquan­to, eu falo sobre isso em termos de campos mórficos. Acho que es­ses campos têm uma espécie de memória, essa é minha idéia de res­sonância mórfica, o que significa que cada tipo de campo mórfico tem uma memória de sistemas passados semelhantes, por meio de um processo de ressonância através do espaço e do tempo. Os cam­pos são locais, estão dentro e ao redor do sistema que eles organi­zam, mas sistemas semelhantes têm uma influência não-local atra­vés do espaço e do tempo, oriunda da ressonância mórfica que dá uma memória coletiva para cada espécie. Não tenho tempo de ex­plicar os detalhes da teoria da ressonância mórfica, a não ser para dizer que cada espécie neste planeta teria uma memória coletiva. Todos os ratos extrairiam memórias da memória coletiva de ratos anteriores. Se ratos aprenderem um novo truque no laboratório, ou­tros ratos em outros locais deveriam ser capazes de aprender o mesmo truque mais rapidamente. Há já evidência, que eu discuti em meus livros, de que isso realmente ocorre. No reino humano, se as pessoas aprendem uma nova habilidade, como windsurf, ou an­dar de skate, ou programação de computador, o fato de que muitas pessoas já aprenderam a mesma coisa deveria fazer com que fosse mais fácil para os outros aprenderem. Bem, essa é uma teoria que, claramente, é muito polêmica, e eu a descrevi em detalhe em meus livros A new science of life e A presença do passado. A presença do passado foi traduzido em português e publicado pelo Instituto Piaget, portanto está disponível aqui.

Já houve um número considerável de testes experimentais e quando um número grande de pessoas está envolvido, eles dão re­sultados positivos; com uma amostra pequena (20, 30 pessoas) aprendendo algo novo, os resultados são às vezes positivos e às ve­zes não significativos. Esses efeitos são relativamente pequenos e difíceis de detectar no contexto de variações individuais. Mas há certos tipos de evidência que surgiram espontaneamente, que são relevantes aqui, e um deles está relacionado com testes de QI. Como vocês sabem, os testes padrão de QI vêm sendo ministrados por muitos anos para medir a inteligência e esses mesmos testes são aplicados ano após ano, todos os anos as médias expressas em porcentagens. Foram feitos estudos para examinar a contagem de testes de QI no decorrer do tempo; quando examinamos o desem­penho absoluto nesses testes – e aqui estamos falando de testes fei­tos por milhões de pessoas – os testes mostram um efeito muito in­teressante que foi descoberto pela primeira vez por James Flynn, e portanto é chamado de Efeito Flynn: há um aumento misterioso e inesperado nas porcentagens do QI com o correr do tempo. Aqui temos um gráfico mostrando resultados de testes de QI. Isso foi ti­rado de um número recente da revista Scientific American, de uma discussão do Efeito Flynn. As porcentagens aumentaram uns três por cento a cada década, não só nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, na Alemanha, na França, provavelmente em Portu­gal. O que quero dizer é que, onde quer que fosse que eles exami­nassem os dados, descobriram esse aumento. Por que o QI é uma questão polêmica na psicologia, tem havido muita discussão sobre a razão pela qual isso aconteceu: melhor nutrição, escolas melho­res, mais experiência com os testes, e assim por diante. Mas nenhu­ma dessas teorias foi capaz de explicar mais do que uma fração des­se efeito. O próprio Flynn, após 10 anos pensando sobre isso, e tes­tando todas essas explicações, chegou à conclusão que o efeito é desconcertante, não há explicação para ele na ciência convencio­nal. No entanto, é apenas o tipo de efeito que seria de se esperar com a ressonância mórfica. Não é porque as pessoas estão real­mente ficando mais inteligentes, não há nenhuma evidência inde­pendente para um aumento na inteligência. O que está acontecendo é que elas simplesmente estão mais eficientes quando fazem os tes­tes de QI, e eu acho que estão mais eficientes porque milhões de pessoas já fizeram os mesmos testes. Portanto, acredito que o que estamos vendo aqui é um efeito de ressonância mórfica, que pode­ria explicar esse fenômeno. A meu ver existem muitos fenômenos de memória coletiva que poderiam ser testados experimentalmente e, em meus livros, eu sugiro algumas maneiras de como isso pode­ria ser feito.

A idéia de memória coletiva não, é claro, unicamente associa­da com essa teoria. Com relação aos seres humanos, Jung, o psicó­logo, já tinha sugerido uma idéia semelhante com sua noção do in­consciente coletivo. Mas o que estou sugerindo é que algo como o inconsciente coletivo não é apenas um fenômeno humano, animais também o têm, todas as espécies o têm e, com efeito, acho que esse tipo de processo da memória opera em toda a natureza. Se você fi­zer um novo cristal que nunca existiu antes, não poderia existir um campo mórfico para esse cristal. Essa teoria se aplica também a cristais e a moléculas. Se você o cristalizar repetidamente o campo mórfico ficará mais forte, e ficaria mais fácil para a substância se cristalizar. Na verdade isso é um fato bem conhecido dos químicos, isso é que os novos compostos se cristalizam com mais facilidade com o passar do tempo nos vários laboratórios. A explicação des­ses químicos é que isso ocorre porque fragmentos dos cristais ante­riores são levados de um laboratório para o outro, nas barbas de químicos migrantes ou que foram transportados da atmosfera como partículas invisíveis de poeira. Mas eu estou sugerindo que isso poderia ser um efeito da ressonância mórfica e essa é uma das áreas em que ela pode ser testada. Na química existem também ou­tras áreas onde ela pode ser testada.

O quadro mais importante desse fenômeno de ressonância mórfica é que as chamadas leis da natureza podem não ser pré-fixa­das, pode ser que nem todas elas estivessem lá no momento do big bang, como uma espécie de código napoleônico cósmico. Ao con­trário, as leis da natureza podem ter evoluído com o passar do tem­po, talvez elas sejam mais como hábitos, dependendo da memória inerente na natureza. A ciência convencional é baseada na idéia de que as leis sempre foram fixas, e até a década de sessenta pensa­va-se que o cosmos era fixo e não evolucionário. Hoje temos uma cosmologia evolucionária, onde a antiga idéia de leis estabelecidas não faz realmente muito sentido. Pelo menos preci­samos considerar a idéia de que elas puderam evoluir e que isso, eu penso, é uma maneira de compreender a evolução das regularidades da natureza em termos de hábito. Mas de uma certa forma isso também tem conseqüências diretas e práticas para a compreensão do patrimônio biológico, da memória humana e de uma série bem ampla de fenômenos psicológicos. Portanto, acho que nossas men­tes se estendem não só no espaço, mas também no tempo. Que de­pendemos da memória coletiva daqueles que existiram antes de nós e, por sua vez, todos nós contribuímos para essa memória cole­tiva. Portanto, nossas mentes, em vez de serem coisas individuais isoladas na privacidade de nossos crânios, são extremamente mais interconectadas com as demais através do espaço e do tempo. São muito mais permeáveis às demais, e somos afetados pelos pensa­mentos de outras pessoas, bem como por suas ações. E por sua vez, podemos afetar outras pessoas, através de nossos pensamentos e atitudes. Isso é algo que a maioria das tradições religiosas nos ensi­naram através dos tempos, mas que é negada pela teoria da cons­ciência isolada, que se enquadrou tão bem com o atomismo social das teorias sociais do Ocidente moderno, particularmente na parte do mundo que fala inglês.

Rupert Sheldrake, PhD, é um biólogo e autor mais conhecido por sua hipótese de ressonância mórfica. 
Na Universidade de Cambridge, trabalhou em biologia do desenvolvimento como membro do Clare College. 
Ele foi o principal fisiologista de plantas no International Crops Research Institute for the Semi-Arid Tropics em Hyderabad, Índia.  De 2005 a 2010 foi Diretor do projeto Perrott-Warrick para pesquisa sobre habilidades inexplicáveis ​​de humanos e animais, financiado pelo Trinity College, Cambridge.

Leia artigo dele: O Sol é Consciente?

Finalmente, eu queria dizer que quando pensamos sobre a consciência deveríamos ampliar nossos horizontes e abandonar a preocupação tão limitada com os sistemas nervosos e cerebrais, e seres humanos e cães e gatos e assim por diante. A maioria das pes­soas que pensam na consciência diz “bem, é claro que somos cons­cientes” e, além disso, existem muitos debates hoje em dia na litera­tura sobre psicologia animal sobre se os cães são ou não conscien­tes. É claro, por muitos anos achava-se que eles não o eram, que eram supostamente máquinas. Hoje é bastante respeitável na etolo­gia cognitiva se dizer que os animais pensam, mas isso é o ponto máximo a que o debate chegou. Eu penso que é possível que haja muitas, muitas formas de consciência no universo. Acho muito di­fícil acreditar que 15 bilhões de anos de evolução cósmica tiveram como resultado unicamente a evolução da consciência humana neste planeta, com uma possível versão reduzida dela nos cães e outros animais, e enquanto isso todo o resto do universo é total­mente inconsciente. Essa é a visão que a ciência nos dá e na astro­nomia ou na cosmologia não há qualquer discussão sobre cons­ciência. Mas penso que deveria haver. Gostaria de terminar com uma nota bastante provocativa que é uma consideração da cons­ciência do sol. Ora, a idéia de que corpos celestiais possam estar vi­vos é familiar à maioria das pessoas hoje em dia através da teoria de Gaya. Se a Terra Gaya é um organismo vivo, se a Terra está viva, então será que a Terra pensa? Será que ela poderia ser conscien­te? Essa é uma questão que raramente vemos ser discutida, mas eu acho que é um tema muito importante para discussão.

Mas ainda mais relevante é a questão do sol. Todas as religiões tradicionais tratam o sol como sendo consciente. É um deus, na re­ligião grega. Na Índia, Surya é um deus e os devotos saúdam o sol de manhã. Eu mesmo faço um exercício de ioga chamada Surya namascar que é uma saudação matinal ao sol. Portanto, essas são tradições que existem em todas as partes, mas, é claro, para nós, com uma estrutura científica, o sol é apenas uma grande explosão nuclear do tipo que ocorre o tempo todo emitindo radiação. No entanto, se você pensar no assunto, mesmo aceitando o ponto de vista materialista, que a interface entre a consciência e o cérebro tem algo que ver com os padrões elétricos de atividade no cérebro, e essa é uma visão bastante geral, que esses campos elétricos mutan­tes são de alguma forma uma interface entre a estrutura física do cérebro e a consciência. E muitas vezes nos dizem que o cérebro humano é a coisa mais complexa do universo, e que somos os mais conscientes. Na verdade, em termos de padrões elétricos, nosso cé­rebro é deploravelmente atrasado em relação ao sol. O Sol, sabe­-se hoje em dia, tem uma série incrível de mutações de ressonân­cia elétrica e magnética ocorrendo em seu interior: ciclos de onze anos, explosões de manchas solares, dinâmica caótica, freqüências ressonantes. No momento existem dois programas principais inter­nacionais de observação solar, Soho e Gaun como são chamados. Um é um sistema de observatórios solares espalhados por todo o mundo, e o outro é um satélite que está observando o sol continua­mente. Atualmente esses sistemas estão monitorando, com um de­talhamento anteriormente considerado impossível, essas incríveis mudanças eletromagnéticas – minuciosas e complexas – que estão ocorrendo no sol. Bem, se padrões elétricos complexos são uma in­terface suficiente para a consciência e o cérebro humano, por que é que o sol não poderia tê-los também? Por que o sol não poderia pensar? E se ele está pensando, sobre o que estará pensando? Essas não são o tipo de questões para as quais esperamos ter uma resposta imediata, pois não são exatamente aquelas sobre as quais os manuais de astronomia irão nos ajudar, embora eu pense que os detalhes da eletrofisiologia do sol está sendo estudada de uma maneira mui­to sofisticada. Um grupo do qual fizemos parte reuniu-se na Ingla­terra no solstício de verão do ano passado, e realizamos uma confe­rência sobre a consciência do sol com alguns fisicos, cosmólogos, pessoas com tradições místicas, e discutimos esse assunto durante três ou quatro dias. Foi uma discussão fascinante já que ninguém sabe nada sobre isso. Ficamos livres de quaisquer limitações espe­cíficas, fomos forçados a lançar-nos em especulações totais e, é claro, se o sol é consciente, por que não as estrelas? E se as estrelas são conscientes, por que não as galáxias? Essas últimas teriam uma consciência de um tipo muito mais inclusivo do que a das estrelas que elas contêm. E se as galáxias, por que não os grupos de galá­xias? Então teríamos uma idéia de níveis hierárquicos de consciên­cia por todo o universo. É claro, na tradição ocidental, como em to­das as tradições, temos uma idéia exatamente desse tipo. A idéia das hierarquias dos anjos na Idade Média não era a de seres com asas, isso era apenas uma maneira bastante ingênua de represen­tá-los. Eles eram compreendidos tradicionalmente como níveis de consciência além do humano. Havia nove níveis dos quais três ou mais eram relacionados com as estrelas e com a organização de corpos celestiais. Eles eram as inteligências das estrelas e dos pla­netas, os três níveis intermediários dos anjos. Portanto, já existe a tradição no Ocidente sobre uma consciência super-humana. Mathew Fox, eu mesmo, e os principais textos ocidentais sobre anjos, e um livro nosso chamado A física dos anjos, publicado recentemente, retomam o texto principal de Santo Tomás de Aquino, Hildegard de Bingen e de Dionísio o Areopagita, as principais autoridades ocidentais em anjos, e examinam o que eles significavam, e que novo significado eles poderiam ter à luz da cosmologia moderna. Ora, como vocês podem imaginar, esse não é o tipo de livro que vai estar nas listas de leitura das universidades, e é obviamente especu­lativo, mas foi nossa tentativa de explorar essa questão, sobre a qual, a meu ver, os cosmólogos nos desapontaram bastante, de ex­plorar a questão de lidar com os níveis superiores de consciência que podem existir em todas as sociedades, que, tradicionalmente, acredita-se existirem por todo o universo. Podemos não saber mui­to sobre eles, mas, é claro, eu tampouco sei muito sobre sua cons­ciência. É um problema notoriamente difícil de se provar, até mes­mo que um outro ser humano está consciente. Portanto, se é difícil provar que o sol e a galáxia são conscientes, temos de lembrar que tampouco isso é uma coisa fácil de provar, mesmo com pessoas ou animais. Mas, penso realmente que precisamos ter uma perspecti­va ampla quando estivermos pensando sobre psicologia transpes­soal, sobre a consciência, sobre os novos paradigmas nas ciências, devemos tentar evitar o tipo de chauvinismo humano antropocên­trico, ou até mesmo o chauvinismo terrestre, e reconhecer que é possível que haja muitas formas de consciência no universo.

Penso que estamos no limiar de um período inteiramente novo de desco­bertas e investigações científicas, e creio também que esta é uma época muito estimulante para estar vivo, e estou muito contente de que seja possível discutir essas idéias. Fonte

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Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco PDF (resumo)

Rupert Sheldrake e os Campos Morfogenéticos: Uma contribuição à teoria dos Arquétipos. Jackson José de Jesus Ferreira Junior (para baixar no site)

“A suposição de que as leis da natureza são eternas é um vestígio do sistema de crença cristã que informou os primeiros postulados da ciência moderna no século XVII. Talvez as leis da natureza tenham evoluído junto com a própria natureza, e talvez ainda estejam evoluindo. Ou talvez eles não sejam leis, mas mais como hábitos.” ~ Rupert Sheldrake ~

COMO FUNCIONAM OS CAMPOS MORFOGENÉTICOS?
Os campos morfogenéticos agem sobre a matéria impondo padrões restritivos em processos de energia cujos resultados são incertos ou probabilísticos. Por exemplo, dentro de um determinado sistema um processo físico-químico pode seguir diversos caminhos possíveis. O que o sistema faz para optar para um deles? Do ponto de vista mecânico esta eleição estaria em função de diferentes variáveis físicas e químicas que influenciam no sistema: temperatura, pressão, substâncias presentes, polaridade, etc., cuja combinação decantaria o processo para determinado caminho. Se fosse possível controlar todas as variáveis em jogo você poderia predizer o resultado final do processo. Porém, não é deste modo, mas o resultado final é sujeito ao acaso probabilístico, algo quantificável só por meio de análise estatística. O Campo Morfogenético relacionado com o sistema reduz consideravelmente a amplitude probabilística do processo, levando o resultado em uma direção determinada.

Os Campos Mórficos funcionam , tal como eu explico em meu livro, a presença do passado, modificando eventos probabilísticos . Quase toda a natureza é inerentemente caótica. Não é rigidamente determinada. A dinâmica das ondas, os padrões atmosféricos, o fluxo turbulento dos fluidos, o comportamento da chuva, todas estas coisas são corretamente incertas, como são os eventos quânticos na teoria quântica. Com o declínio do átomo de urânio você não é capaz de predizer se o átomo declinará hoje ou nos próximos 50.000 anos. É meramente estatístico, Os Campos Mórficos funcionam modificando a probabilidade de eventos puramente aleatórios. Em vez de uma grande aleatoriedade, de algum modo eles enfocam isto, de forma que certas coisas acontecem em vez de outras. É deste modo como eu acredito que eles funcionam “. (Sheldrake, 1981).

ONDE SE ORIGINAM OS CAMPOS MORFOGENÉTICOS?
Um campo morfogenético não é uma estrutura inalterável, mas que muda ao mesmo tempo, que muda o sistema com o qual está associado. O campo morfogenético de uma samambaia tem a mesma estrutura que os campos morfogenético de samambaias anteriores do mesmo tipo. Os campos morfogenéticos de todos os sistemas passados se fazem presentes para sistemas semelhantes e influenciam neles de forma acumulativa através do espaço e o tempo.

A palavra chave aqui é “hábito”. Este é o fator que origina os campos morfogenéticos. Através dos hábitos os campos morfogenéticos vão variando sua estrutura dando causa deste modo às mudanças estruturais dos sistemas em que estão associados.

Por exemplo, em uma floresta de coníferas é gerado o habito de estender as raízes mais profundamente para absorver mais (e/ou melhores) nutrientes. O campo morfogenético da conífera assimila e armazena esta informação que é herdada não só por exemplares no seu entorno, mas em florestas de coníferas em todo o planeta por efeitos da ressonância mórfica.

EXPERIÊNCIAS

De acordo com Sheldrake, um modo simples para demonstrar a existência dos campos morfogenéticos é criando um novo campo mórfico para logo observar seu desenvolvimento.

Código Morse

O Dr. Arden Mahlberg, psicólogo de Wisconsin, realizou experimentos que analisam a capacidade de duas pessoas para aprender dois códigos Morse diferentes. Um deles é o padrão clássico e o segundo, inventado por ele variando as seqüências de pontos e linhas de modo que fosse igualmente difícil (ou fácil) aprender o código. A pergunta é: será mais simples aprender o verdadeiro Morse que o inventado porque milhões de pessoas já aprenderam isto? A resposta, aparentemente, é sim.

Ratos em labirinto

Esta é uma das primeiras experiências realizadas por Sheldrake, recuperada do tempo em que ele começou a considerar os campos morfogenéticos. Consiste em ensinar a um grupo de ratos determinada aprendizagem, por exemplo, sair de um labirinto, em certo lugar, para logo observar a habilidade de outros ratos em outros lugares, deixarem o labirinto. Esta experiência já foi levada a cabo em numerosas ocasiões dando resultados muito positivos.

Organização dos cupins

Mesmo separando um cupinzeiro, alterando sua forma, criando uma espécie de ferimento, os cupins, mesmo cegos reconstroem a forma original. Explicação: há um campo morfogenético que dá forma ao cupinzeiro. Os campos estão presentes em todos os sistemas vivos e/ou organizados, incluindo-se os humanos (lembraram das células tronco?)

Muitas outras pesquisas são propostas pelo biólogo Rupert Sheldrake e outros biólogos organicistas (holistas), que enfatizam a contextualização da Biologia e das pesquisas relacionadas às ciências biológicas, psicologia, física, medicina e outras.

A Ciência da Prática Espiritual
Vídeo dublado: 1º Congresso Médico Espírita Internacional Virtual, novembro de 2020.

Livros de Rupert Sheldrake

O Renascimento da Natureza: O Reflorescimento da Ciência e de Deus
Cultrix, São Paulo, 1993
The Rebirth of Nature: The Greening of Science and God (1992)

A Ciência da Prática
Cultrix Espiritual, São Paulo, 2021
Ciência e Práticas Espirituais: Experiências transformadoras e seus efeitos em nossos corpos, cérebros e saúde (2017)

Uma Nova Ciência da Vida
Cultrix, São Paulo, 2014
Uma Nova Ciência da Vida: A Hipótese da Causação Formativa (1981; Nueva edición 2009)

Ciência Sem Dogmas: A Nova Revolução Científica e o Fim do Paradigma Materialista
Cultrix, São Paulo, 2014
The Science Delusion: Freeing the Spirit of Inquiry (2012) publicado na EE. UU. Como Ciência Liberta

A física dos anjos
Aleph, São Paulo, 2008
The Physics of Angels: Exploring the Realm Where Science and Spirit Meet (2014)

A Sensacao de Estar Sendo Observado
Cultrix, Sao Paulo, 2004
The Sense of Being Stared At, And Other Aspects of the Extended Mind (2003; nueva edición 2013)

Caes Que Sabem Quando Seus Donos Estao Chegando
Objetiva, Rio de Janiero, 2000
Cães que sabem quando seus donos estão voltando para casa, e outros poderes inexplicáveis ​​dos animais (1999; nova edição 2011)

Sete Experimentos Que Podem Mudar O Mundo
Cultrix, São Paulo, 1999
Sete Experimentos Que Poderiam Mudar o Mundo: Um Guia Faça Você Mesmo para a Ciência Revolucionária (1994; edición nueva, 2002)

A Presenca do Pasado: Os hábitos da Natureza
Instituo Piaget, Lisboa, 1995
The Presence of the Past: Morphic Resonance and the Habits of Nature (1988; nueva edición 2011)

Caos, Criatividade e Retorno do Sagrado: Triálogos nas fronteiras do Ocidente
Cultrix, São Paulo, 1994
Chaos, Creativity and Cosmic Consciousness (2001)

Rupert Sheldrake: o ‘herege’ em desacordo com o dogma científico. Entrevista.

Consciência estendida de Rupert Sheldrake – parte II

Rupert Sheldrake: Consciência, Tempo & Espaço (legendado)
Rupert Sheldrake

O segundo ponto que eu quero expor sobre a consciência estendida é que nossa mente não está simplesmente localizada dentro de nossa cabeça. Acho que a idéia de que a mente está dentro de nossa cabeça nos dá uma idéia falsa de nosso relacionamento com nosso próprio corpo. As psicolo­gias tradicionais achavam que a psique, ou alma, estava espalha­da pelo corpo todo e até mesmo ao redor dele, conectando com o ambiente e até com os ancestrais. Portanto as psicologias tradicio­nais têm a idéia de que existem muitos centros psíquicos, não só a cabeça ou o córtex cerebral, mas que existem centros no coração, por exemplo. Os sistemas hindus e budistas falam de chacras, como sendo os centros psíquicos através do corpo. Na Europa Oci­dental existia também uma idéia semelhante, nas liturgias cristãs, por exemplo, ainda falamos dos “pensamentos do coração”, as pessoas falam de “sentimentos viscerais”. Portanto, a idéia de centros psíquicos ainda sobrevive e muito bem no Ocidente, embora não na agenda oficial. A partir de Descartes e da visão mecanicista, o coração passou simplesmente a ser uma bomba, não um centro de pensamentos. A idéia da psique permeando o corpo é fundamental na visão tradicional no mundo todo.

Acho que, de várias maneiras, no mundo moderno, o conceito científico que nos permite nos aproximarmos mais da idéia tradi­cional da alma é o conceito de campos. No mundo antigo as pes­soas acreditavam que o universo inteiro mantinha-se unido graças à alma do mundo, a anima mundi. Hoje acreditamos que tudo se mantém unido graças ao campo gravitacional universal, que é o que mantém as estrelas em seu lugar, e mantém o universo integra­do, portanto o campo gravitacional de Einstein ocupou o lugar da alma do mundo. Até o século dezessete as pessoas pensavam que os fenômenos elétricos e magnéticos dependiam da alma do imã.

O campo magnético da Terra era considerado um aspecto da alma da Terra. Hoje os chamamos de campos magnéticos e elétricos, e as­sim como a alma que organizava as plantas e os animais que Aris­tóteles chamava de “alma vegetativa”, uma idéia muito parecida foi incorporada desde a década de 1920 ao termo “campo morfoge­nético”, campos formativos que organizam o embrião em desen­volvimento, e o corpo, e ajudam a manter o corpo saudável, e são a base de seus processos regenerativos. Como biólogo, comecei com biologia do desenvolvimento e passei uns vinte anos trabalhando com esse tipo de biologia e a idéia dos campos morfogenéticos foi meu ponto de partida para essa investigação mais ampla.

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Quando começamos a tratar da relação do campo do corpo, que, a meu ver, podíamos imaginar como sendo uma espécie de psique, realidade psíquica, no velho sentido de alma, e, é claro, o campo do corpo e o próprio corpo, normalmente são relacionados, da mesma maneira que um campo magnético é relacionado com um imã. O campo magnético está dentro do imã, e também a seu re­dor, mexendo-se o imã, o campo se mexe. Penso, por exemplo, que o campo de meu braço está dentro de meu braço e ao redor dele. Mas, o que é interessante é que se eu perdesse meu braço, se ele ti­vesse sido cortado como resultado de um acidente ou uma opera­ção, eu ainda sentiria o braço. Pessoas que tiveram suas pernas ou braços amputados têm membros fantasmas, quase todas elas, e es­ses membros fantasmas parecem reais. Um dos grandes problemas em hospitais onde são feitas amputações de membros é que alguns dias depois da operação a pessoa tenta se levantar e andar, porque a perna ainda parece tão real que ela tenta andar apoiando-se nela, e cai no chão. Essas pernas e braços, esses fantasmas, continuam pa­recendo verdadeiros por muito tempo, na verdade, duram indefini­damente. Há pessoas ainda vivas hoje que têm braços e pernas fan­tasmas de membros que perderam na Segunda Grande Guerra, há mais de 50 anos. Quando alguém tem um braço ou uma perna falsa, uma prótese, na literatura médica o termo que usam para isso é di­zer que, quando colocam um braço falso, o fantasma do braço dá vida à prótese, encaixa-se como uma mão em uma luva. E as pou­cas pessoas que não têm fantasmas têm muita dificuldade de adap­tar-se à prótese, portanto, essa animação do membro artificial ­- animação é o próprio termo usado pelos médicos – acho que nos diz algo sobre a natureza do fantasma.

A visão médica, claro, é que o fantasma é produzido dentro do cérebro e é meramente referido ou projetado para o lugar do bra­ço, mas ainda está no interior do cérebro. Eu acredito que é possível que o braço ou perna fantasma estão, na verdade, onde parecem estar, é o campo do braço ou da perna. Normalmente não é possível sepa­rar o braço verdadeiro do campo do braço, mas no fenômeno do membro fantasma é possível separá-Ios, você tem o campo sem o braço ou perna materiais. Portanto, será que esse campo está real­mente lá? Como podemos detectar esse campo? Essa é a maneira perfeita de detectar o campo do corpo, é uma situação extraordiná­ria, maravilhosa para fazê-Io. É muito triste para os que tiveram seus membros amputados, mas é uma sorte para nós que estamos interessados nessas questões mais amplas, porque aqui temos uma separação clara entre a experiência subjetiva, o que eu chamaria de campo do membro, e a estrutura material. O que é que está real­mente lá? Há algumas pessoas que afirmam serem capazes de ver corpos sutis, auras, há outras envolvidas na chamada medicina energética, ou medicina da energia sutil, que afirmam ser capa­zes de sentir esses campos corporais. Há até algumas pessoas que praticam a técnica chamada de “toque terapêutico”, que desco­brem que podem aliviar a dor nos membros fantasmas massagean­do-os. É claro, eles estão massageando um membro que não está lá, mas eles afirmam que podem sentir o membro que, com a prática, podem realmente detectar o membro.

Bom, eu desenvolvi um experimento muito simples para testar os membros fantasmas. Esse é um experimento que desenvolvi muito recentemente. Mencionei uma versão mais antiga dele no meu livro, mas recentemente elaborei uma versão melhor que, por enquanto, só tive tempo de experimentar uma vez e o experimento não deu certo. Mencionei isso porque a técnica é simples, e é algo que alguns de vocês podem querer tentar se tiverem a oportunida­de. Acho que não funcionou porque eu estava trabalhando com um vedor, uma pessoa que normalmente procura água subterrânea ou tesouros enterrados, e ele nunca tinha feito esse tipo de coisa antes, teria sido melhor fazê-Io com algum terapeuta ou praticante de energia sutil. O experimento foi feito na casa de uma pessoa, atrás da porta pusemos pedaços de papel, seis pedaços de papel colados atrás da porta, numerados. A seguir a pessoa sem braço ficou atrás da porta com meu assistente, que jogou um dado, obtendo um nú­mero de um a seis, e a pessoa colocou o braço fantasma através da almofada da porta com o número correspondente. Imagine, então, que eu sou uma pessoa que amputou o braço e agora estou passan­do meu braço fantasma através de uma dessas almofadas, e você é um vedor ou um terapeuta de energia sutil, e você tem que me dizer o número da almofada. Se você puder fazer isso corretamente vá­rias vezes, isso seria uma boa evidência tanto para a existência de braços fantasmas quanto para o resultado dessas técnicas de diag­nósticos sutis. Portanto, é um procedimento bastante simples. No entanto, há um problema com isso: quando fizemos o experimento o vedor ficou dando as respostas erradas, que eram as respostas certas no teste anterior. Ele disse que a memória se agarrava à por­ta. Esses vedores muitas vezes dizem que a memória das coisas é um problema para eles, portanto, a solução para isso teria sido reti­rar os pedaços de papel e colocá-Ios em outra porta, e como a maio­ria das casas e instituições tem muitas portas, é possível usar uma porta nova para cada experimento.

Outro método seria tentar detectar o fantasma por meio de ins­trumentos. Se o fantasma interagir com qualquer tipo de instru­mentação, haveria uma forma de colocar isso sobre uma base cien­tífica muito mais rigorosa, porque mostraríamos que essas coisas poderiam ser detectadas não só por pessoas, mas também por meio de instrumentos. O método mais simples seria se as pessoas com membros fantasmas os colocassem dentro de vários tipos de apare­lhos científicos, por exemplo, um aparelho de televisão: se alguém colocasse seu braço fantasma no tubo catódico de um aparelho de televisão e se uma sombra de sua mão aparecesse na tela, isso seria muito dramático. Se eles os colocassem em um detector de cintila­ção ou em um espectrômetro de massa e se, em um deles, houvesse uma mudança no ponteiro, isso seria uma descoberta muito produ­tiva. Infelizmente, ainda não consegui convencer nenhuma pessoa com um membro amputado a fazer isso, porque, embora os médi­cos lhes tenham dito que é tudo imaginação e que o fantasma é uma ilusão, quando você lhes pede que coloquem o braço fantasma den­tro de um aparelho de TV eles ficam com medo de levar um choque elétrico. Essa é uma área em que fiz apenas algumas investigações preliminares, porque tenho estado muito ocupado fazendo alguns dos outros experimentos, mas o menciono porque há muitas opor­tunidades para esse tipo de pesquisa, onde é possível expandirmos nossa visão das coisas, no momento em que abandonemos as limi­tações estreitas de uma visão convencional e possamos ver que há muitas oportunidades para pesquisas científicas usando métodos estatísticos que podem ampliar nossa visão. Isso teria imensa rele­vância para as terapias alternativas bem assim como para o conhe­cimento teórico sobre a relação mente/corpo.

* * *
Penso que nossas mentes podem também influenciar o que ocorre no mundo a nossa volta. Alguns pesquisadores psíquicos estudaram fenômenos de psicocinesia, a mente controlando a ma­téria, e a estudaram em relação ao decaimento radioativo e em rela­ção aos fenômenos que envolvem processos aleatórios. A meu ver, um dos experimentos mais interessantes é aquele que foi feito por Renée Pehoc, na França, que usou galinhas, aliás, pintinhos. Ele tem uma máquina robótica que se movimenta de acordo com um gerador de números aleatórios. Ele pega pintinhos com um dia de vida e eles se fixam (imprint) nessa máquina. Como vocês sabem os pintinhos com um dia de vida se fixam em qualquer objeto mó­vel, é um de seus primeiros procedimentos de aprendizagem. Eles se fixam em pessoas, em brinquedos, em qualquer coisa que mexa. Então, eles se fixam nessa máquina. A seguir ele põe os pintinhos em uma gaiola, em um lado da sala, e a máquina no chão. Como es­tão fixados na máquina, eles querem chegar perto dela, mas os mo­vimentos da máquina são totalmente aleatórios, gerados por uma fonte aleatória. Quando os pintinhos não estão presentes, os movi­mentos da máquina pela sala são totalmente aleatórios, ela se mo­vimenta pela sala aleatoriamente. No entanto, quando os pintinhos estão na sala, a máquina vai para aquele lado e passa a maior parte do tempo perto da gaiola. O desejo deles de que a máquina che­gue mais perto influencia a máquina de tal forma que encontramos desvios padrões extraordinariamente altos nesses experimentos. Esses são experimentos fascinantes e foram repetidos por outras pessoas. Renée Pehoc também já fez o mesmo experimento com outros animais além de pintinhos, como coelhos.

Acho que esses são os resultados mais interessantes. Acho que a psicocinesia, os efeitos da mente sobre a matéria, se eles existem, ocorrerão quando as pessoas têm um motivo forte. O problema com a maioria das pesquisas parapsicológicas é que ela envolve ta­refas bastante sem sentido. Ou seja, influenciar a direção de um gráfico no computador não é muito importante para a maior parte das pessoas e adivinhar cartas de um tipo totalmente insignificante que estão sendo olhadas por um estranho em uma outra sala, pen­sem bem, não poderíamos imaginar uma situação em que a proba­bilidade da coisa funcionar fosse menor. É surpreendente que eles consigam qualquer resultado, porque os fenômenos da vida real dependem de coisas que realmente importam para as pessoas. Se estamos procurando efeitos da mente sobre a matéria, o melhor lu­gar para procurá-Ios seria nos laboratórios científicos, especial­mente laboratórios químicos, físicos e biológicos. Os cientistas têm fortes expectativas sobre o que querem encontrar. Eles têm um tabu extraordinariamente forte contra a possibilidade de que pos­sam ter qualquer influência paranormal sobre aquilo que acontece em seus experimentos e têm uma crença ingênua em sua total obje­tividade. Isso cria condições ideais para a manifestação de fenôme­nos psicocinéticos. Ora, sabemos que no domínio da psicologia e da medicina os efeitos do pesquisador são bem descritos e docu­mentados. Na medicina, o efeito placebo ocorre quando as pessoas esperam que uma pílula nova tenha poderes de cura maravilhosos, e médicos e pacientes acreditam isso. Se eles não sabem qual é a pí­lula falsa, e qual é o remédio, o efeito placebo muitas vezes funcio­na bem. É claro, se você disser às pessoas “essa é o placebo, é uma pílula falsa, e essa é o remédio maravilhoso”, as pessoas que toma­rem o placebo não se beneficiam dele. Só funciona se você não souber o que está tomando. De qualquer forma, os testes duplo-ce­gos são padrão na medicina clínica. Na psicologia, a importância de técnicas experimentais cegas é amplamente reconhecida, e há livros inteiros sobre o efeito experimental. Isso mostra que as pes­soas, os pesquisadores, podem influenciar o que ocorre. Ninguém jamais explicou por que eles têm uma influência assim tão forte so­bre o resultado de testes médicos e psicológicos, e, é claro, isso também funciona com animais. Como aqueles entre vocês que es­tudaram psicologia provavelmente sabem, Robert Rosenthal e ou­tros fizeram experimentos em que as pessoas testam ratos ou ou­tros animais, e se eles acreditam que os ratos que estão sendo testa­dos são inteligentes, astutos, os ratos têm resultados melhores no teste do que no caso em que eles acreditam que os ratos são burros, mesmo que os ratos tenham sido tirados de um mesmo grupo e selecionados aleatoriamente. Portanto, existem grandes efeitos da mente sobre a matéria na psicologia e na medicina.

E nas demais ciências? Bom, ninguém sabe. Ninguém jamais testou a influência do pesquisador nas ciências físicas e aqueles que praticam a física e a química, normalmente consideradas as mais objetivas das ciências, são totalmente ignorantes de técnicas de simulação. A fim de examinar até que ponto elas são levadas em consideração na prática da ciência normal, eu fiz um levantamen­to recentemente de publicações científicas importantes para ver quantos trabalhos publicados envolviam o uso de técnicas cegas. No primeiro grupo de publicações importantes de física e química do tipo Journal of the American Chemical Society, dos 237 traba­lhos que examinamos nenhum deles envolvia técnicas de simula­ção. Nas ciências biológicas, dos 914 trabalhos que examinamos apenas 7 envolviam essas técnicas. Em outros como o Biochemical Journal, Cell Heredity, nenhum deles. Nas ciências médicas 5,9% dos experimentos publicados envolviam técnicas cegas. Mais do que a biologia, mas mesmo assim abaixo daquilo que seria de se es­perar. Na psicologia e no comportamento animal, 4,9%, também muito menos do que seria de se esperar, considerando-se a cons­ciência que os psicologistas têm desse fenômeno. Na parapsicolo­gia foram 85%, portanto a parapsicologia está bem na frente de to­das as outras ciências no uso de metodologias objetivas e rigorosas, e nas ciências físicas as técnicas são praticamente desconheci­das. Quando fizemos um levantamento das universidades, nas onze melhores universidades na Grã-Bretanha, Oxford, Cambrid­ge, Londres, Edinburgh, e assim por diante, para ver quantos de­partamentos usavam métodos cegos em pesquisa, ou os ensinavam a seus alunos, o resultado foi o seguinte: na química inorgânica, ne­nhum em 7; na química orgânica, nenhum em 7; na física 1 em 9 e esse departamento de física só os usava porque tinham um contrato industrial que estipulava seu uso.

Não sou o tipo de pessoa que diga “vamos falar mal dos ou­tros”, acho que devemos sempre tentar encontrar uma abordagem positiva, e o experimento que estou sugerindo aqui é para ver se existem efeitos da mente sobre a matéria na ciência regular. O ex­perimento que proponho é o seguinte: em aulas práticas laborato­riais normais, do tipo que os estudantes fazem normalmente, diga­mos, uma aula prática de bioquímica – normalmente, numa aula prática desse tipo as pessoas comparam uma amostra do teste com uma amostra de controle, por exemplo, uma enzima ativada com uma enzima de controle – eu sugeriria que nessas aulas práticas metade dos alunos fizesse tudo como sempre faz, sabendo o que é o quê, e a outra metade faça um teste cego, e as amostras sejam rotu­ladas de A e B. Você verá que não há qualquer custo envolvido nis­so; estamos fazendo a aula prática normal, a única diferença é a eti­quetagem dos tubos. A seguir você faz uma análise da divergência entre os resultados para ver se há alguma diferença dos resultados do teste cego e do teste feito em condições abertas. Se os resultados nas condições cegas forem diferentes, isso mostraria a existência de um efeito do pesquisador. Essa técnica simples pode ser utiliza­da em qualquer ramo da ciência, e pode ser que em alguns ramos da física e da química não haverá efeitos do pesquisador, e então, pela primeira vez, haveria evidência experimental para a suposta objeti­vidade das ciências físicas. Mas, se existirem efeitos do pesquisa­dor, o que eu acho que haveria, então temos que ver o porquê. Será apenas tendência do observador? É porque as pessoas registram os dados de uma maneira tendenciosa, de acordo com suas expectati­vas? Ou são os próprios sistemas que dão resultados diferentes de acordo com suas expectativas? Poderia haver uma espécie de efei­to psicocinético real nas enzimas ou nos próprios sistemas sob in­vestigação, afinal de contas, já ficou demonstrado que eles influen­ciam os processos de decaimento radioativo.

Acho que esses efeitos da mente sobre a matéria, a interação entre o observador e a coisa observada, podem desempenhar um papel essencial na ciência. É claro, quando muitas pessoas esperam um resultado específico, quando se constrói um consenso científi­co, há uma tendência para que o resultado apareça repetidamente nos experimentos. Mas até que ponto a construção de consenso ci­entífico é a descoberta de uma realidade objetiva e até que ponto é a criação ou uma moldagem da realidade de acordo com nossas ex­pectativas. Ninguém sabe a resposta para essa pergunta até o mo­mento porque ninguém fez os experimentos. Acho que a mente ampliada poderia se ampliar até o próprio coração da ciência. Pu­bliquei um trabalho recentemente com esses resultados no Journal of Scientific Exploration e tenho cópias se alguém quiser.

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Entro agora em uma outra área de experimentação que acho particularmente importante e interessante. Com relação a efeitos psíquicos – efeitos da mente à distância – a maior parte das pesqui­sas até o momento foram feitas na área de parapsicologia humana. Na verdade, alguns parapsicólogos definem sua disciplina como o estudo das capacidades humanas extraordinárias. A meu ver, no entanto, estamos olhando no local errado se quisermos realmente descobrir mais sobre esses fenômenos. Acho que se essas coisas existem, elas provavelmente serão muito mais freqüentes em ani­mais do que em seres humanos. Pessoas urbanas e modernas são provavelmente o último lugar onde devemos procurar fenômenos passíveis de repetição como esses. Quando comecei a pensar no as­sunto, pensei “como estudaríamos esses fenômenos nos animais?” É claro, os comportamentalistas de animais têm os tabus normais e não estudam essas coisas em animais selvagens. As pessoas que verdadeiramente as observam são as que têm animais domésticos. Metade dos domicílios na Grã-Bretanha, provavelmente um pouco menos em Portugal, tem animais domésticos, as pessoas têm ani­mais porque gostam de tê-Ios por perto, têm algum tipo de ligação com eles. O relacionamento entre humanos e animais é algo muito antigo, e é claro, sociedades rurais tradicionais estão sempre envol­vidas com animais, gatos, cachorros, carneiros, cavalos, burros, galinhas, etc. e antes disso, nas sociedades dos caçadores-coleto­res, as atividades xamânicas eram em grande parte relacionadas com animais e espíritos de animais. Portanto, acho que essa cone­xão com animais é essencial para nossa humanidade. Tem sido as­sim por toda a história humana, e creio que nossa consciência evo­luiu junto a esse relacionamento com animais. Nas sociedades urbanas modernas as pessoas não têm necessidade de animais que trabalhem, como no caso dos agricultores, mas, apesar disso, elas têm animais domésticos em casa, embora seja um hábito caro, eles dão trabalho, têm cheiro forte, etc. As pessoas realmente querem esses relacionamentos com animais. As pessoas que têm animais domésticos os observam dia a dia, semana a semana, ano a ano, muito mais do que cientistas e laboratórios que apenas os exami­nam durante algumas horas. Donos de animais e agricultores estão estudando seus animais o tempo todo, e há um enorme corpo de in­formações sobre o comportamento animal entre esses donos. Mas essa informação foi completamente negligenciada pela ciência or­ganizada, porque acham que não pode ser levada a sério e, uma vez mais, há a questão do tabu, essa arrogância que, a meu ver, foi um mal da ciência por tanto tempo: as mentalidades arrogantes dizem: “não escutem o que dizem os donos de animais, eles são apenas pessoas ignorantes e sem instrução que querem acreditar nessas coisas sobre seus animais, porque têm esse relacionamento emo­cional antinatural com eles”. É muito fácil para as pessoas dizerem isso, e rejeitar esse conhecimento, e esse tabu significa que uma fonte preciosa de informação que pode ser oferecida pelos donos de animais foi completamente menosprezada. Nas escolas e uni­versidades veterinárias existe hoje uma área em crescimento cha­mada de “estudos de animais companheiros”, mas o único financia­mento para isso, na verdade, busca examinar o beneficio que ani­mais domésticos trazem para os seres humanos. Essa área estuda como ter animais domésticos reduz a probabilidade de ataques car­díacos ou faz as pessoas idosas se sentirem menos sozinhas, e as­sim por diante. Mas, na verdade, ela não examina os animais.

Portanto, essa área foi completamente menosprezada. Há um tabu sobre levar animais domésticos a sério, assim como sobre le­var parapsíquicos a sério. Mas quando examinamos as coisas que os donos de animais dizem, há uma fonte preciosa de informação. A maioria dos donos de animais acredita ter uma ligação telepática com seus cães ou gatos. Isso foi descoberto através de levantamen­tos, e há inúmeras histórias que podem ser coletadas, como eu ve­nho coletando, de donos de animais sobre coisas que seus animais fazem, que sugerem uma sensibilidade para com o pensamento e a intenção humanos, que podem funcionar à distância. Por exemplo, a capacidade que muitos cães ou gatos têm de saber quando seus donos estão vindo para casa. Muitas pessoas observaram que cães, gatos ou outros animais, especialmente papagaios, ficam nervosos 10, 15 minutos, meia hora, às vezes até uma hora antes de seu dono chegar em casa. Os cães normalmente vão esperar perto da porta, ou os gatos vão olhar por uma janela, ou mostrar algum comporta­mento característico que significa que parece que sabem quando seu dono está a caminho de casa. A primeira vez que eu ouvi essa história fiquei muito surpreso. Pessoalmente eu nunca tinha obser­vado isso com nenhum de meus animais, mas comecei a perguntar a amigos e parentes e descobri que isso é extremamente comum. Então fiz um apelo nos USA para que as pessoas envias­sem histórias sobre isso e colecionei muitas delas, o que me fez pensar que era um fenômeno que realmente merecia ser investiga­do. Desde então venho colocando anúncios em jornais e revistas na Grã-Bretanha, na Alemanha, na Suíça e na França solicitando his­tórias desse tipo. Hoje tenho mais de 2.000 histórias, classificadas em várias categorias, em um banco de dados informatizado e isso me dá uma história natural básica desses fenômenos com animais domésticos. Deixe-me dar um exemplo, do tipo de histórias que re­cebemos neste banco de dados, sobre um cachorro que sabe quan­do seu dono está chegando em casa. Essa é de uma pessoa no Ha­vaí: “Meu cachorro Debby sempre fica esperando na porta uma meia hora antes de meu pai chegar em casa do trabalho. Como meu pai estava no exército, ele tinha um horário de trabalho muito irre­gular. Não fazia diferença se meu pai ligava antes, e uma época eu achei que o cachorro reagia à chamada telefônica, mas isso obvia­mente não era o caso porque às vezes meu pai dizia que estava vindo para casa mais cedo, mas tinha que ficar até mais tarde. Às vezes ele nem telefonava. O cachorro nunca se enganava, portanto eu eli­minei a teoria do telefone. Minha mãe foi a primeira pessoa que no­tou esse comportamento. Ela estava sempre preparando o jantar quando o cachorro ia para a porta. Se o cachorro não fosse até a por­ta, nós sabíamos que papai ia chegar mais tarde. Se ele chegasse tarde, o cachorro mesmo assim o esperava, mas só quando ele já estivesse no caminho de casa”. Como vocês podem ver, temos agora em nosso banco de dados cerca de 580 relatos de cachorros que fa­zem isso, cerca de 300 relatos de gatos que fazem isso, com esse tipo de qualidades.

O cético de carteirinha irá dizer “bem é apenas uma rotina”, mas na maioria dos casos não é uma rotina, se fosse as pessoas nem notariam. A maioria das pessoas não é idiota, e se fosse apenas uma rotina, elas estariam conscientes dessa possibilidade. Na maior parte dos casos é óbvio que não é uma rotina. O próximo argumento do cé­tico de carteirinha é “bom, o que deve acontecer é que as pessoas da casa sabem quando o dono está vindo e com isso seu estado emocio­nal muda, e o animal capta essa mudança através de deixas sutis”. Bem, é claro que isso é possível se as pessoas realmente prevêem que alguém está vindo para casa, seu estado emocional pode mudar, elas podem ficar excitadas ou talvez deprimidas e o animal pode captar essa mudança emocional e reagir a ela. Mas, em muitos dos casos, as pessoas na casa não sabem quando a outra está vindo para casa, é o animal que lhes diz e não elas que dizem ao animal.

Quando eu estava discutindo esse assunto com Nicholas Humphrey, meu amigo cético disse: “bem, tudo isso ainda não eli­mina a possibilidade de que eles ouvem o barulho do motor do car­ro, um motor de carro familiar a 30, 40 quilômetros de distância”, e eu disse: “isso é obviamente impossível”. E ele: “pelo contrário, apenas demonstra como a audição dos cachorros é aguçada”. Foi essa discussão que levou à idéia de fazer um experimento. Eu dis­so: “OK, e se eles vierem para casa de táxi, ou no carro de um ami­go, ou de trem, ou de bicicleta da estação em uma bicicleta empres­tada, para que não haja sons familiares?” E ele disse: “nesse caso, o cachorro não reagiria”, e desde a publicação deste livro eu já des­cobri muitos cachorros, gatos e outros animais que fazem isso. Eu falarei do experimento em um momento, mas, primeiro, direi algu­ma coisa sobre o levantamento que fizemos. Já fizemos quatro le­vantamentos domiciliares usando amostras aleatórias que pergun­tavam aos donos de animais a respeito das habilidades de seus ani­mais. Vemos aqui o resultado de dois levantamentos na Grã-Breta­nha e dois nos USA, um nos subúrbios de Los Angeles e um em Santa Cruz, Califórnia, um em Londres e outro em Rams­bottom, uma cidadezinha perto de Manchester, no nordeste da Inglaterra. Telefonamos para pessoas escolhidas aleatoriamente usando técnicas padronizadas de amostragem e perguntamos se elas tinham animais. Dos donos de animais, havia mais donos de cachorros do que de gatos na maior parte das localidades, a não ser em Santa Cruz onde havia mais donos de gatos do que de cachor­ros. Perguntávamos: então “seu animal parece saber previamente quando um membro da família está vindo para casa?” Aproxima­damente 50% dos donos de cachorro em todas as localidades disse­ram que sim – em Los Angeles foram mais de 60% – e podemos ver através desses resultados que os gatos em todas as localidades fa­zem isso menos que os cachorros. Portanto há uma diferença clara entre gatos e cachorros, mas eu acho que não é necessariamente porque os gatos sejam menos sensíveis que os cães, apenas que a maior parte deles simplesmente está menos interessada. Portanto, há uma diferença óbvia entre gatos e cães, os gatos também fazem, mas no caso dos cachorros são muitos, pois cerca de 50% dos ca­chorros parecem mostrar esse comportamento prévio. Estamos fa­lando de milhões de cães só na Europa. Todas as cidades e aldeias provavelmente têm um cão que faz isso, ou vários deles. Portanto, temos aqui um fenômeno muito bem conhecido. Há uma grande quantidade de experiências que sugerem que isso realmente ocor­re, e o que estamos fazendo agora são experimentos em que real­mente testamos se os cachorros sabem quando as pessoas estão vindo para casa. Nos primeiros experimentos que foram feitos, pe­díamos às pessoas que anotassem em um caderno o comportamen­to do cachorro, mas os céticos disseram: “bem, assim você tem uma tendência subjetiva”. Portanto, agora nós fazemos uma fita de vídeo de todos os experimentos. Temos uma câmera de vídeo em um tripé, apontando para o lugar onde o cachorro ou o gato espe­ram pela pessoa que vem para casa. Há um controle de tempo na câ­mera e ela fica funcionando por horas. Então, temos horas de filme que irão mostrar se o cachorro ou o gato vão até a janela, e por quanto tempo ficam lá, um registro objetivo e perfeito. É claro, es­ses filmes não são muito interessantes de ver, centenas de horas de capachos de portas da frente não são lá um tema muito emocionan­te, mas, felizmente, há um botão para acelerar e passar rapidamente pelos pedaços em que nada está acontecendo. O que vou lhes mos­trar daqui a pouco é um vídeo de um desses experimentos que foi feito com um cachorro com que trabalhei principalmente na Ingla­terra. O cachorro chama-se JT e o nome de sua dona é Pam. Quan­do Pam sai, ela deixa JT com seus pais, que vivem no apartamento ao lado do dela. Eles observaram há muitos anos que JT sempre ia para a janela quando Pam estava a caminho de casa, ou quase sem­pre. Esse experimento foi filmado profissionalmente pela televisão estatal austríaca, e por essa razão a trilha sonora é em alemão, em­bora seja um cachorro inglês. Portanto, eu explicarei o que está acontecendo em inglês para aqueles cujo alemão não é lá muito bom. O importante, aqui, é que o experimento foi genuíno, eu con­cordei em realizar esse experimento para a televisão estatal austría­ca, se eles filmassem com duas câmeras, para que pudéssemos ver o cachorro e a pessoa que estava na rua ao mesmo tempo. E se eles escolhessem as horas de sua vinda para casa de maneira aleatória, que nem ela mesma soubesse previamente, que ninguém soubesse previamente; o operador filmando o cachorro, e nem ela nem seus pais sabiam previamente quando ela viria para casa, e ela viria para casa de táxi para eliminar a possibilidade de sons de carros familia­res. Esse, portanto, é um experimento que foi realizado dentro des­sas condições.

Na vida real, Pam não vem para casa em horas escolhidas alea­toriamente, e que ela própria desconheça previamente. Quando está no trabalho, ou quando sai para fazer compras ou visitar ami­gos, ela vem para casa em vários momentos diferentes, e nós moni­toramos regularmente as horas em que ela volta, mais de 200 expe­rimentos foram monitorados, temos dezenas deles em vídeo. O ca­chorro nem sempre reage, cerca de 85% das vezes JT realmente es­pera por ela quando ela está vindo para casa, cerca de 15% ele não o faz. Analisamos as ocasiões em que ele não faz, a maioria das vezes ocorreu quando a cadela do apartamento vizinho estava no cio. Isso mostra que JT pode se distrair. Isso também ocorreu algumas vezes quando havia visitas na casa ou outro cachorro, e algumas vezes sem nenhum motivo. De qualquer forma, JT normalmente reage quando Pam decide que vai para casa. Naquele filme vocês viram que ele não começa a reagir quando ela entra no táxi, e sim quando ela estava pronta para ir para casa. Na vida real ele não reage quan­do ela entra no carro para ir para casa, e sim quando ela começa a se despedir dos amigos e pensando “bem, vou-me embora”. Ele pare­ce captar essa intenção dela. E este é o número de segundos no pe­ríodo de dez minutos em que JT está esperando perto da janela. É bem verdade que ele vai até a janela ocasionalmente quando Pam não está a caminho de casa, normalmente porque vai latir para um gato que passa na rua ou está olhando alguma coisa que está acon­tecendo do lado de fora. Nesses gráficos incluímos todos esses ca­sos, embora fique claro no vídeo que ele não está esperando, mas como os céticos dizem que se você usar evidência seletiva isso de­monstra que você inventou a coisa toda, não fizemos nenhuma se­leção aqui. Às vezes há uns trechos barulhentos, quando ele vai até à janela de qualquer maneira, mas podemos ver que isso é a média de 12 ocasiões diferentes quando ela estava fora por mais de 3 ho­ras. O tempo que ele está esperando na janela é maior aqui e aqui, quando ela está no caminho de casa do que quando ela não está. Ve­mos um pequeno aumento antes de ela ir para casa, que, a meu ver, tem que ver com esse efeito antecipatório. O tempo em que ela está voltando é o tempo em que ela já está no carro, portanto, ela está se preparando para vir no momento imediatamente anterior a esse. Essas são ausências de tempo médio, seis ausências de tempo mé­dio e uma vez mais aqui vemos essa antecipação nos dez minutos antes de ela sair. É bastante claro, mas JT está obviamente esperan­do por ela principalmente quando ela está no caminho de casa. Essas aqui são ausências curtas, essas são alguns experimentos mais barulhentos, mas eles mostram o mesmo resultado. O que é claro nesses gráficos é que JT não vai para a janela com mais fre­qüência quanto mais tempo ela estiver fora. Ele obviamente está muito mais na janela aqui, quando ela está no caminho de volta, do que nos períodos correspondentes aqui. Esses efeitos têm uma enorme significância estatística. Vários tipos de análise mostram significâncias que vão mais além da escala de meu computador. Esses efeitos são do tipo p é menor que .00001.

Esses resultados foram amplamente publicados na Grã-Breta­nha, nos jornais, e é claro foram criticados pelos céticos, que estão sempre prontos para dizer que nada semelhante poderia ocorrer. Esses experimentos foram criticados por um dos céticos mais ati­vos na Grã-Bretanha, cujo nome é Richard Wiseman. Segundo ele, eu não tinha usado procedimentos adequados, não os tinha regis­trado de forma adequada, etc. Eu fiz também muitos experimentos com horas de retomo aleatórias. Pam tem um pager em seu bolso que eu ativei por telefone de Londres e ela vem para casa em mo­mentos verdadeiramente aleatórios, usando um desses pagers da telecom. De qualquer forma, ele criticou os detalhes, então eu dis­se: “Tudo bem, por que você mesmo não faz o experimento? Eu or­ganizo tudo para que você possa fazê-Io com o mesmo cachorro. Emprestamos uma câmera de vídeo, Pam irá onde você quiser, o seu ajudante ficará observando-a”. Na verdade, então, o próprio Wiseman filmou o cachorro e ficou no apartamento dos pais da Pam, enquanto seu ajudante ia com a Pam para pubs, ou outros lu­gares, até que em um momento determinado aleatoriamente fosse decidido que eles voltariam para casa. Eles checavam o tempo todo para garantir que não haveria chamadas telefônicas secretas, ne­nhum meio de comunicação invisível, nenhuma fraude ou trapaça.

Wiseman é um mágico, e ele é um desses céticos que está sem­pre afirmando que tudo pode ser feito por trapaça ou ilusionismo. Bem, ele mesmo esteve lá, e eles estavam se protegendo de tudo, e ele realizou três experimentos com Pam na casa de seus pais, e es­ses foram os resultados dos três experimentos que ele fez, usando todos seus controles rigorosíssimos, seu próprio procedimento ale­atório, e outras coisas mais (os resultados são exatamente iguais aos outros; o público ri). Portanto, esses resultados são sólidos, mesmo com um cético, que ao fazer o experimento na verdade não quer que ele dê certo. E agora estamos trabalhando com outros ca­chorros e gatos e encontramos resultados semelhantes, e se vocês estiverem procurando temas para projetos de pesquisas essa é uma área extremamente produtiva e interessante. As pessoas leigas acham-na fascinante, porque elas geralmente estão interessadas em animais domésticos e as implicações são enormes, mas também é simplesmente divertido e pode ser feito com um custo muito baixo, você precisa de uma câmera de vídeo pra esses experimentos, mas câmeras de vídeo são bastante baratas hoje em dia e muitas pessoas as têm. Atualmente realizo uma série de experimentos em Santa Cruz, Califórnia, com um tipo de periquito italiano que mostra o mesmo tipo de reação: eles guincham quando o dono está vindo para casa, e obtemos quase o mesmo tipo de gráficos, mostrando que os guinchos vão aumentando de intensidade quando o dono está a caminho de casa em horas aleatórias.

Portanto, provavelmente aqui em Portugal, seria possível fa­zer esses experimentos com cães e gatos, na verdade acho que essa pesquisa pode ser feita em qualquer lugar. É uma pesquisa muito, muito interessante. Como o contribuinte paga pela maior parte da ciência, e como a maior parte dos contribuintes tem ani­mais domésticos, se a ciência for refletir o interesse das pessoas que pagam por ela, esse tipo de pesquisa estaria no topo da agenda científica. Nas circunstâncias atuais chega a estar próximo ao úl­timo lugar. Mas eu acho que é o tipo de pesquisa que dá uma nova perspectiva à ciência, uma nova maneira de olhar o mundo, que faria a ciência muito mais importante e significativa, e certamen­te muito mais interessante, e daria grandes projetos para alunos de escolas e universidades.

Embora divertidos, esses experimentos nos mostram muita coi­sa sobre o comportamento animal e confirmam a maior parte das coisas que os donos de animais dizem que seus animais fazem. Isso faz com que eu leve muito mais a sério essas histórias de donos de animais. Existe conjunto enorme de experiências, cerca de 8 ou 9 fenômenos diferentes, que estamos investigando atualmente com animais domésticos, e também com cavalos. São divertidos, e tam­bém são evidência para fenômenos do tipo psíquico. Acho que esse fenômeno é semelhante à telepatia e, se quisermos estudar essas coisas, é muito melhor estudar animais do que pessoas. Uma das dificuldades da pesquisa parapsicológica tradicional é que nesses experimentos um tanto monótonos os pontos geralmente vão dimi­nuindo, porque os participantes ficam entediados. Bem, felizmente os cachorros nunca ficam entediados com a chegada de seus donos em casa, e podemos fazer esse tipo de experimento milhares de ve­zes. Esses são fenômenos muito mais sólidos do que os fenômenos meio efêmeros da parapsicologia.

Consciência estendida de Rupert Sheldrake – parte I

Rupert Sheldrake – Wikipédia, a enciclopédia livre

Rupert Sheldrake é um biólogo, bioquímico, parapsicólogo, escritor e palestrante inglês; mais conhecido por sua teoria da morfogênese. Pesquisador em bioquímica e fisiologia vegetal, descobriu junto com Philip Rubery, o mecanismo de transporte da auxina.

ResumoVejamos o paradoxo da consciência segundo a visão ci­entífica e a história do pensamento sobre a psique ou a alma, na Eu­ropa. A seguir aparesento um exame de alguns experimentos realizados recentemente que demonstram que a consciência é mui­to mais abrangente que o cérebro.

“O que você faz, o que você diz e o que você acha que pode influenciar outras pessoas por ressonância mórfa. Não há filtro imoral em ressonância magnífica, o que significa que temos que ser mais cuidadosos sobre o que estamos pensando se estamos preocupados com o efeito que temos em outros.” ~ Rupert Sheldrake ~

Introdução

Depois de um longo período em que os cientistas preferiam nem falar sobre ela, hoje a consciência retorna à pauta científica. E, por mais estranho que pareça, mesmo na psicologia, o estudo da consciência tem certo ar de vanguarda um tanto perigoso. Em uma reunião na Sociedade Britânica de psicologia a que assisti re­centemente haviam acabado de criar um grupo sobre consciência e todos os membros estavam temerosos de estarem no limite e se ar­riscando; havia muitas pessoas contrárias porque psicólogos fa­lavam sobre consciência.

Para as pessoas alheias à psicologia, isso pode parecer um estranho paradoxo, mas o fato é que, embora a consciência tenha se transformado em um tópico de moda e real­mente importante, no campo da ciência, grande parte do pensa­mento sobre a consciência ainda está limitado pela visão materia­lista que equipara consciência ao cérebro.

Como cientistas, todos nós fomos criados acreditando que a consciência está localizada dentro de nossa cabeça e na ciência institucional, a maioria das pes­soas acha que a consciência é apenas uma atividade do cérebro. É bom lembrar que, ao contrário, as tradições espirituais e religiosas sempre tiveram uma visão muito mais ampla da consciência e têm muito pouco contato com a visão científica muito mais restrita.

Falarei por alguns minutos sobre a história da visão científica e do pensamento europeu sobre a psique ou a alma. A seguir, fala­rei sobre alguns experimentos que venho realizando recentemente que demonstram que a consciência é muito mais ampla que o cére­bro e que a mente vai muito mais além do cérebro. Durante esta pa­lestra, explicarei por que acho que a mente está interconectada tan­to através do espaço quanto do tempo, e é muito mais extensa que os limites físicos do cérebro.

A idéia de que a alma – ou a psique – é muito mais que o cérebro é obviamente aceita sem discussão em qualquer parte e essa visão ampla da psique era a visão normal na Europa. Na Grécia Antiga, Aristóteles a formulou de uma maneira mais sistemática. Para ele, todos os seres vivos tinham uma psique ou alma. A alma das plantas, a alma vegetativa organizava a forma da planta e, portanto, um carvalho em crescimento era estimulado pela psique da planta a se transformar na forma madura do carva­lho. Seria algo como um plano invisível da árvore. Os animais tam­bém têm almas vegetativas, que organizam o crescimento do em­brião, o desenvolvimento do corpo e sua manutenção em um esta­do saudável. Mas, além disso, os animais tinham almas de animais relacionadas com os movimentos, a sensibilidade e os instintos. E, é claro, a palavra animal vem do latim anima que quer dizer “um ser com alma”. Nós os seres humanos, além de termos uma alma vegetativa, que nos liga a todas as plantas, teríamos uma alma ani­mal, que nos liga a todos os animais e uma alma intelectual, aquele aspecto especificamente humano da psique, que tem a ver com o pensamento, a razão e a linguagem. Essa era a visão adotada na Eu­ropa Medieval e por Santo Tomás de Aquino. Essa visão grega da psicologia foi incorporada pela teologia cristã. E essa foi também a visão dos seres humanos e da natureza que foi ensinada nas univer­sidades por toda a Europa até o século dezessete.

A revolução cartesiana no século dezessete mudou o curso do pensamento acerca da psicologia na tradição científica. Para Des­cartes, todos os animais e plantas, como todo o universo, eram ape­nas máquinas. Assim, a alma foi retirada de toda a natureza, já não havia qualquer princípio dando vida aos animais e às plantas. Por­tanto, se o mundo é uma máquina, se os animais são máquinas, po­demos ter uma ciência totalmente mecânica e essa ainda é a base em que se apóia toda a ciência institucional. Se pensarmos que os animais são máquinas sem sentimento, sem pensamentos, então, é claro, podemos tratá-Ios de qualquer maneira: cientistas podem cortá-Ios para experimentos, os agricultores podem criá-Ios em fá­bricas; o fato é que muitas das bases do pensamento moderno sobre animais, agricultura e vivisseção apóiam-se nessa visão. Para Des­cartes, a única coisa que não se enquadrava nessa visão mecânica era a mente racional dos seres humanos. O corpo humano passou a ser uma máquina como a de qualquer animal, mas, em algum lugar do cérebro, essa misteriosa mente racional interagia com o tecido nervoso de uma maneira que Descartes não conseguia entender. Ele imaginou que essa interação ocorria na glândula pineal. A teo­ria moderna da natureza humana e da consciência é essencialmente a mesma que a de Descartes e, a não ser pelo fato de que o local da alma andou uns 5 centímetros até o córtex cerebral, esse ainda é o tipo de visão que encontramos predominantemente hoje em dia. Os materialistas dizem: “bem, como ninguém pode dizer o que é essa misteriosa alma humana e como ninguém pode dizer como ela in­terage com o cérebro, vamos partir do princípio que ela simples­mente não existe, e que o cérebro é apenas maquinaria, é apenas um computador e a consciência é, de alguma forma, gerada pela ativi­dade da maquinaria computacional do cérebro”. Essa metáfora com o computador, uma versão atualizada da antiga metáfora que comparava a vida a uma máquina, passou a dominar uma grande parte do pensamento sobre consciência, particularmente nos de­partamentos de psicologia. Todas essas perspectivas, ou seja, tanto a visão interacionista, que diz que a consciência interage com uma parte do cérebro, como a visão materialista, localizam a consciên­cia dentro da cabeça. O resto do corpo é apenas maquinaria, e todo o nosso sistema médico-psicológico baseia-se nesse paradigma, ou nesse mo­delo do meio ambiente e da natureza humana.

O que vou lhes sugerir esta manhã é que essa visão é demasia­do limitada. É claro, já descobrimos muita coisa sobre o funciona­mento do cérebro e dos nervos e esse é um conhecimento valioso e importante, e obviamente a consciência está diretamente relacio­nada com o cérebro, mas acho que ela é muito mais do que isso. Para começar, gostaria que pensássemos sobre o que ocorre na consciência durante a percepção, é um começo por meio de uma experiência muito simples e direta. Usemos, como exemplo, vocês me vendo parado aqui. A explicação normal é que a luz, refletida de mim, viaja através do campo eletromagnético, através da lente de seus olhos, a imagem é invertida na retina, muda nas células reti­nianas, os impulsos seguem pelos tratos ópticos, gerando mudan­ças complexas no córtex óptico e em outras partes do cérebro. Até aí tudo bem. Tudo o que pode ser analisado, foi analisado pelos mé­todos da neurofisiologia, e assim por diante. Mas então algo muito estranho ocorre: vocês formam uma imagem subjetiva de mim, em algum lugar dentro de sua cabeça. Bem, não existe nenhuma expli­cação para que você deva formar essa imagem, na verdade, algu­mas pessoas chamariam isso de o hard problem o problema dificil da consciência. Mas ainda mais misterioso é o fato de que você não sente que a minha imagem está localizada dentro de sua cabeça. O que imagino é que você vivencia sua imagem de mim, como se ela estivesse localizada no lugar onde eu estou. O que vou sugerir ago­ra é uma idéia tão simples que fica muito difícil de entender. Essa idéia é que sua imagem de mim é uma imagem – ela está na sua mente. Mas ao mesmo tempo, sua imagem de mim está localizada exatamente onde parece estar, ou seja, aqui, e não dentro de sua ca­beça. Ela está localizada fora de sua cabeça, no ambiente, onde a imagem parece estar. Esse fato tão simples da experiência é algo que todos nós aprendemos a negar ou a rejeitar. Os dados mais ime­diatos de nossa experiência foram rejeitados a favor de uma teoria atribuída a Descartes e a outros filósofos, e o curioso é que essa vi­são das coisas domina nosso pensamento, e com isso faz com que neguemos nossa experiência mais imediata.

Os alunos de psicologia, pelo menos na Grã-Bretanha, que fo­ram criados tendo essa rejeição reforçada – no primeiro ano de seu curso lhes ensinam que, no passado, pessoas burras e ignorantes pensavam que a percepção ocorria porque algo saía de seus olhos enquanto que nós, modernos, pessoas inteligentes e instruídas, sa­bemos que ela ocorre porque a luz entra nos olhos.

A teoria da in­tromissão da percepção é tratada como se fosse a única verdade. É claro, as teorias tradicionais não negam que algo entra nos olhos, mas na maior parte do mundo acredita-se que a visão envolve um movimento para fora, bem assim como um movimento para den­tro. E essa idéia de que algo entra e sai é o que estou lhes sugerindo agora. Acho que quando vemos coisas nós projetamos imagens da­quilo que estamos vendo, que normalmente coincidem com o lugar onde as coisas que estamos vendo estão, ou seja, sua imagem de mim projetada coincide com o lugar onde eu estou. Se não fosse as­sim, ela seria uma ilusão ou uma alucinação. Eu acho que, em certo sentido, nossas mentes literalmente se estendem para tocar tudo que vemos e se olhamos as estrelas no céu à noite, nossas mentes li­teralmente se estendem por distâncias astronômicas para tocar aquilo que estamos olhando. E se isso não é apenas um jogo de pa­lavras, se nossas mentes realmente se estendem para tocar o que es­tamos olhando, nós deveríamos ser capazes de influenciar as coi­sas simplesmente olhando-as.

Quando pensei nisso pela primeira vez, pensei, “bem, como é que podemos provar isso?” E então pen­sei “bem, que tal se escolhermos algo que possa ser bastante sensí­vel, por exemplo, as pessoas”.

Será que o fato de serem olhadas po­deria influenciar as pessoas? É claro, se você vir que estou lhe olhando, você será influenciado pelas razões psicológicas nor­mais, mas e se olharmos uma pessoa pelas costas e ela não souber que estamos ali? As pessoas sentem quando estão sendo olhadas pelas costas? No momento em que você faz essa pergunta, você compreende que a sensação de ser olhada fixamente pelas costas é uma experiência cotidiana, muito comum. Levantamentos na Grã-Bretanha mostraram que 90% da população já tiveram essa experiência. Existem pequenas diferenças de gênero – mais mu­lheres do que homens tiveram a experiência de serem olhados e de se virarem e mais homens que mulheres tiveram a experiência de fazer com que outras pessoas se virassem olhando para elas. Cerca de 90 por cento da população já teve essa experiência e eu imagino que a maioria das pessoas nesta sala já vivenciou esse fenômeno de uma forma ou de outra. Temos aqui um fato muito interessante: inúmeras pessoas crêem poder influenciar outras simplesmente olhan­do para elas, ou que elas sabem quando uma outra pessoa está olhando para elas pelas costas.

O que é que a ciência tem a nos dizer sobre esse fato tão conhe­cido? A maioria dos cientistas acha que só porque a maioria das pessoas acredita nesse fato, ele deve ser falso. Isso é um argumento muito estranho: é claro que se muitas pessoas acreditam em algu­ma coisa isso não prova que ela é verdadeira, mas certamente tam­bém não prova que ela é falsa, e é uma boa justificativa, se ela é uma ilusão, pelo menos para examinar como surge essa ilusão. No entanto, esse fenômeno é uma espécie de tabu, e esteve totalmente fora da pauta científica. É possível ler toda a literatura publicada sobre esse assunto no espaço de uma única tarde ou, se lermos o su­mário dele em meu livro Seven experiments, levaremos uns 10 mi­nutos. Há menos que 10 trabalhos publicados sobre o assunto des­de 1890 e essa é uma área que foi incrivelmente negligenciada. Acho que os psicólogos a negligenciaram porque tiveram todas es­sas aulas em seu primeiro ano lhes dizendo que só pessoas burras e ridículas acreditam na idéia de que algo sai do olho, e eles não que­rem parecer burros, é claro, e por isso nunca mencionam o fato em público. Mas penso que o verdadeiro motivo para isso ter sido um tema tabu é porque, à época do Iluminismo, quando muitos intelec­tuais na Europa tiveram a idéia da marcha do progresso da ciência e da razão, o que eles queriam deixar para trás eram coisas como a re­ligião, a superstição e a irracionalidade, e esse fenômeno da in­fluência dos olhos foi classificado como superstição e rejeitado pe­los cientistas.

Acho que uma das razões que contribuiu para que ele fosse classificado como superstição é que no mundo todo existe muito folclore sobre o poder dos olhos, do olhar. Acreditam que você pode influenciar as pessoas – ou animais, ou crianças, ou coisas ­olhando para elas, apenas olhando para elas. Na Índia, acreditam que se um homem santo ou uma mulher santa olhar para você, você recebe uma bênção desse olhar, do darchan porque darchan signi­fica literalmente olhar, e, portanto, há um efeito positivo no olhar. Mas no mundo todo encontramos também muitas crenças popula­res que dizem que se uma pessoa olha para outra, ou para uma criança, ou para um animal, com raiva, ou especialmente com in­veja, o olhar dela terá um efeito prejudicial naquilo que foi olhado. Em inglês, chamamos isso de evil eye (olho mau; olho gordo); em português diz-se “mal olhado” e há um nome em quase todas as línguas para esse fenômeno. E por que existe uma crença tão forte nisso, e por que ela era tão forte em toda a Europa e ainda é forte em muitas par­tes da Europa e por todo o mundo árabe, na Índia e na África, en­contramos essa crença em praticamente todos os lugares, eu acho que essa é uma das razões pelas quais os cientistas nunca quiseram lidar com o assunto. Eles a classificaram como superstição e a reje­itaram totalmente. Acho que essa criação de tabus e rejeição de áre­as inteiras de investigação é uma das maneiras de limitar o conhe­cimento científico. O que quero dizer agora é que esse fenômeno, se é verdadeiro, tem muita coisa a nos dizer sobre a natureza da mente. Sugere que nossa mente realmente se estende para influen­ciar aquilo que estamos olhando. Se nossa mente pode influenciar outras pessoas ou outras coisas à distância, isso é uma coisa muito, muito importante a ser levada em consideração, porque mostra que a mente pode ter efeitos não-locais.

Será, então, que as pessoas realmente sabem quando estão sen­do olhadas pelas costas? É possível elaborarmos experimentos ex­tremamente simples para testar essa idéia. Em meu livro Seven experiments that could change the world, um de meus experimentos está voltado para esse fenômeno, a sensação de estar sendo olhado pelas costas. Meu objetivo no livro era pensar sobre experimentos radicais que pudessem mudar nossa visão da realidade e que pu­dessem ser realizados com orçamentos de 20 dólares ou menos porque, a não ser pela oferta maravilhosa que tivemos essa manhã da Fundação Bial, normalmente não é possível conseguir fundos para pesquisas científicas radicais. Portanto, a forma de lidar com essa situação é realizar experimentos tão baratos que não necessitem de doações. E o experimento para testar a sensação de estar sendo olhado fixamente é praticamente grátis – esse, na verdade, é de gra­ça. É algo que todos nesta sala podem fazer e tem as mais profundas conseqüências. Já foi realizado em grande escala: os resultados fo­ram extraordinariamente positivos e significativos; é um experi­mento que pode ser facilmente repetido. Eu o descreverei para vocês rapidamente. Nesse experimento básico, as pessoas trabalham em pares. Uma pessoa senta de costas para a outra; as duas usam uma venda – eu uso essas vendas da Virgin Atlantic Airways, uma forma conveniente de venda. A outra pessoa senta atrás da primeira e, em uma seqüência aleatória, elas ou olham para a nuca da outra ou não. Há uma série de 20 tentativas. Para indicar o começo de uma tentati­va elas dão um sinal, que é feito com um clique mecânico, para evitar que sejam dadas deixas – eu uso essas coisas de plástico que tiro de cabides que vêm das lojas de roupas Marks and Spencer e eles indi­cam o começo de um teste. A pessoa que está sentada ali tem de adivinhar se está ou não sendo olhada. Nos testes de olhar, a pessoa olha fixamente para a nuca da outra e nos testes de não olhar olha para o outro lado e pensa em outra coisa. Esses experimentos muito simples são os testes básicos, que eu tenho realizado. Mais tarde fa­larei sobre versões mais sofisticadas. Mas esses experimentos dão resultados incrivelmente consistentes.

Vocês podem ver aqui os resultados da percentagem de suposi­ções corretas em alguns experimentos. Esses foram os primeiros experimentos que fiz com grupos de adultos em oficinas e seminá­rios. Os resultados gerais – 50% é o nível de probabilidade e nor­malmente 55% das suposições estavam corretas e 45% erradas. Não é um efeito muito grande, mas algumas pessoas são muito mais sen­síveis que outras. Esse é um efeito médio em grandes grupos de sujei­tos não selecionados, com observadores também não selecionados, porque algumas pessoas olham melhor que as outras, têm um olhar mais intenso. Mas aqui vocês vêem uma marca muito característica desse efeito. Nos testes de olhar, os sucessos eram cerca de 60% e nos testes de não olhar é mais ou menos no nível da probabilidade. Esses experimentos foram repetidos em uma série de escolas na Ale­manha e na América, realizados por professores sob minha orienta­ção. Nesse caso vocês vêem exatamente o mesmo padrão outra vez, só que o efeito é maior. As crianças são mais sensíveis a esse teste do que os adultos e agora faço esses experimentos principalmente com crianças, porque elas são melhores.

Aqui vocês vêem uma vez mais que o efeito do olhar nos testes é grande, e que não há nenhum efeito nos testes de não olhar; os to­tais são a média dos dois. A princípio, quando pensamos nisso, fi­quei intrigado, mas faz sentido: se realmente existe uma sensação de ser olhado, é de se esperar que a sensação funcione quando a pessoa está sendo olhada. Nos testes de não olhar, nos testes de controle, você está pedindo aos participantes que descubram a au­sência de uma sensação. Na vida real, normalmente não temos prá­tica em descobrir quando não estão nos olhando. Essa é uma situa­ção completamente artificial e irrealista, e nos testes de não olhar as pessoas estão apenas adivinhando, os resultados não são melho­res que a probabilidade. Esse padrão, que é uma marca característi­ca desses resultados experimentais, é interessante de outro ponto de vista, porque também atua como um controle interno contra frau­des ou deixas sutis. Se os alunos estivessem trapaceando falando baixinho um com o outro, ou fazendo sinais, seria de se esperar que melhorassem sua contagem no caso de olhar, e também no caso de não olhar, não se poderia esperar um efeito seletivo indicando que eles só teriam trapaceado nos testes de olhar e, de alguma forma, fosse lá qual fosse o sinal, as pessoas não reconheceriam a ausência nos testes de não olhar. Isso não seria coerente nem com trapaça nem com deixas sutis. Ora, esses experimentos já foram feitos em uma escala gigantesca e eu sintetizei os resultados cumulativos, até ago­ra, um total de cerca de 18.000 suposições. Aqui estão os testes de não olhar e esses são os totais de suposições, corretas e incorretas.

Essa aqui é uma outra maneira de fazer a contagem dos resulta­dos. Aliás, estatisticamente essa é melhor, ela me foi sugerida por um cético, o Professor Nicholas Humphrey, um dos mais impor­tantes estudiosos do assunto, mas, como ele também é amigo meu, nós muitas vezes discutimos esses resultados. Ele sugeriu que a melhor maneira de fazer a contagem é a seguinte: pegar cada um dos participantes que faz 20 testes, descobrir quantos participantes obtêm 11 ou mais suposições corretas, pessoas que acertam mais vezes do que erram – quantos participantes obtêm 9 ou menos cor­retas – pessoas que erram mais do que acertam – e ignorar as pessoas que obtêm exatamente meio a meio. Quando examinamos os testes dessa maneira, os participantes que acertaram mais do que erraram por comparação aos que erraram mais do que acertaram são os dos testes de olhar.

A significância estatística desse efeito é 1 em 10 elevado a 37 que representa uma probabilidade de trilhões e trilhões contra um. São efeitos incrivelmente significativos. No caso dos testes de não olhar, a significância foi nula. Então, nesse caso, temos uma enor­me significância e no outro nenhuma significância, essa é uma di­ferença dramática. E nesses resultados aqui, que, é claro, são a combinação dos outros dois, o efeito geral, a significância é de 102 para I, contra a possibilidade de casualidade. Portanto, aqui temos um método experimental que é extremamente fácil de ser repetido, que não custa nada, que pode ser feito nas salas de aula dos colé­gios ou universidades e já está sendo realizado em escolas em todo o sistema escolar do estado de Connecticut na América, e na Grã-Bretanha em escolas no norte da Inglaterra como uma aula prática padrão para as crianças explorarem fenômenos que não es­tão no mapa psicológico comum. As crianças adoram fazer esses experimentos porque estão interessadas no fenômeno, todas elas já ouviram falar dele. Os professores também gostam porque as crianças têm um experimento que realmente querem fazer. Todo mundo gosta porque é de graça, e eu gosto porque obtenho mui­tos dados produzidos de graça, porque as pessoas me enviam seus dados. Se algum de vocês quiser fazer esses experimentos, com seus amigos ou alunos, pode baixar o procedimento completo, inclusive as folhas para a contagem dos pontos já ponderadas, do meu site na Internet e eu gostaria de encorajá-Ios a tentar fazer o experimento porque é um procedimento que pode ser repetido. É claro, para obter resultados estatísticos são necessárias amostragens bem grandes. O resultado não seria estatisticamente significativo com apenas dez ou vinte pessoas fazendo o teste uma única vez, seria preciso um pouco mais do que isso, mas se alguém aqui fizer o experimento, por favor, me mande os resultados. Sobre os dados que eu incluí aqui, os céti­cos dizem: “Bem, se as pessoas mandaram os resultados, então elas só irão mandar se obtiverem resultados positivos, e com isso você te­ria um viés”. Na verdade, os dados que incluí aqui são aqueles em que eu tinha séries completas. Em Connecticut, a universidade es­tadual fez com que os professores realizassem esse experimento como parte do curso e com isso eu tenho todos os dados de lá, e em meus próprios experimentos eu incluí todos esses dados. Portanto, esse fenômeno é realmente passível de repetição.

Recebi muitos comentários de céticos sobre isso e um desses comentários é um argumento sutil, que diz que se as pessoas estão na mesma sala poderia haver mudanças na respiração, pequenos sons, etc. Portanto, para testar essa possibilidade, fizemos os últi­mos experimentos através de janelas. Colocamos as crianças em uma sala de aula e as outras crianças sentadas na outra direção, a uns 100m de distância, usando aquelas máscaras, portanto não há possibilidade de que elas possam ouvir ou ver as crianças na sala de aula ou sentir o cheiro delas e esses efeitos funcionam através de ja­nelas, funcionam através de espelhos, e até mesmo através da tele­visão de circuito fechado. Esses experimentos agora já foram reali­zados em um número de universidades através da televisão de cir­cuito fechado e em vez de perguntarem às pessoas se elas estão sen­do olhadas ou não, monitora-se a resistência de sua pele automati­camente. E há mudanças na resistência da pele quando as pessoas estão sendo olhadas de uma tela de televisão por alguém numa ou­tra sala. O interessante é que na vida real há muito conhecimento sobre esse efeito. Entrevistei alguns detetives particulares, pessoal da vigilância na polícia, pelotões antiterrorismo da Irlanda do Nor­te e outras pessoas cujo negócio é olhar outras pessoas. A maioria das pessoas fica constrangida de olhar fixamente para outra pessoa durante muito tempo, mas há pessoas cujo trabalho é fazer exata­mente isso o dia todo e, é claro, elas têm muito mais experiência que a maioria. A maior parte dessas pessoas que são observadores profissionais dos demais está muito consciente desse fenômeno, e alguns daqueles que operam sistemas de segurança em shoppings, edifícios, aeroportos e hospitais também estão muito conscientes desse efeito. Em uma das principais lojas de departamento de Lon­dres, os detetives da loja disseram que podiam olhar as pessoas na loja através de uma TV e quando viam alguém roubando, um gatu­no, muitas vezes perceberam que se olhassem para essa pessoa muito intensamente pela tela da TV, a pessoa começava a olhar a seu redor procurando as câmeras escondidas e depois devolvia o que tinha tirado e saía da loja. Um segurança em um hospital disse que onde isso dava mais certo era com uma câmera oculta que co­bria uma área onde as pessoas iam fumar, embora não fosse permi­tido fumar no hospital, mas quando ele observava os fumantes atra­vés da televisão de circuito fechado eles imediatamente começa­vam a parecer constrangidos e apagavam seus cigarros e saíam dali. Portanto, há muitas experiências práticas. No SAS britânico, que são as forças especiais usadas para tomar de assalto terroristas em embaixadas e lugares semelhantes, parte do treinamento ensina que se você está se aproximando cuidadosamente de uma pessoa por trás, para esfaqueá-Ia nas costas, você não deve olhar fixamen­te para as costas dela, porque é quase certo que, se o fizer, ela vai se virar e lhe fazer alguma coisa horrível. E a primeira lição que um detetive particular aprende sobre seguir alguém é que você não olha para quem está seguindo, porque se olhar ele vai se virar e seu disfarce terá sido descoberto, a pessoa o verá e você já não poderá segui-Ia. Por isso, não se deve olhá-Ios fixamente.

Existe uma enorme quantidade de experiências práticas sobre esse fenômeno. Pessoas comuns já o vivenciaram, e existe também muita experiência individual. Tenho coletado relatos que as pes­soas fazem desse fenômeno. Portanto há uma grande quantidade de história natural, há forte evidência experimental, e acho que se existem no reino humano, também existem entre os animais. Co­mecei recentemente alguns experimentos nos quais examino pás­saros e outros animais para ver se eles sabem quando estão sendo olhados. Parece que sim. Acabei de mencionar o procedimento que elaboramos para isso: temos uma câmera de vídeo, para uma situa­ção real, que fica ligada continuamente observando pássaros, por exemplo; a seguir, um observador se esconde em algum lugar, ou fica atrás de um espelho de duas faces ou de vidro enfumaçado, e esse observador fica olhando os pássaros por um minuto e depois não olha por um minuto; com isso você terá uma seqüência aleató­ria de testes de um minuto. Ao analisar o vídeo depois, que pode ser contado por uma terceira pessoa neutra, você descobre se os pássa­ros ficaram mais agitados durante os períodos em que estavam sen­do olhados do que quando não estavam. Os resultados preliminares sugerem que ficam. Animais parecem ser sensíveis ao olhar e, no momento em que você pensa nisso, você vê que os animais sabem quando outros animais estão olhando para eles, e se uma presa sou­ber quando um predador está olhando para ela, isso teria valor evi­dente para a sobrevivência. E isso é de importância fundamental no reino animal provavelmente porque as pressões da seleção seriam muito fortes para que eles desenvolvessem essa sensibilidade. Ela poderia estar presente por pelo menos cem milhões de anos, ou, tal­vez, 200 milhões de anos, desde a evolução dos olhos. Eu acho que o que a princípio parece uma curiosidade, um fenômeno secundá­rio na vida humana, essa sensação de ser olhado pelos outros, pode ter uma importância biológica significativa. É claro, na evolu­ção dos relacionamentos presa/predador, se as presas ficassem boas demais na arte de saber quando os predadores estavam olhando para elas, os predadores passariam fome. Portanto, é de se esperar que os predadores desenvolvem meios de não se trair, talvez eles possam atuar como os membros do SAS britânico, ou como deteti­ves particulares, não olhando demasiado. Mas, essa é uma área a qual não se dá muita atenção, a etologia animal, portanto só pode­mos depender de relatos de naturalistas. Mas aqui há uma enorme área de biologia, de história natural, de psicologia que não foi ex­plorada cientificamente e que poderia ser explorada sem grandes gastos e que tem imensas conseqüências para nossa compreensão da natureza da mente.

Acho que essas áreas são a conexão entre a pessoa que está olhando e aquilo que está sendo olhado, o que ocorre através daqui­lo que poderíamos chamar de campo perceptual, e no meu caso, eu penso neles como sendo campos mórficos e são um aspecto da mi­nha hipótese geral sobre campos mórficos, campos que conectam coisas que formam um todo. O observador e o observado, como os físicos muitas vezes nos dizem, estão conectados um ao outro. Na física já não é heresia dizer que o observador e o observado têm uma conexão entre eles. Na biologia, é claro, isso ainda é herético, mas, é claro, isso é realmente senso comum. E esses experimentos ajudam bastante a trazer o fenômeno para a biologia oficial e pen­so, portanto, que a idéia da mente, da percepção, precisa ir mais além da noção de que tudo se passa dentro da cabeça, e precisamos ver o processo como um processo muito mais amplo. Bem esse é meu primeiro argumento, a primeira noção que aponta para a idéia da mente ampliada, ou consciência estendida. Fonte

Rupert Sheldrake: Consciência, Tempo & Espaço | Consciousness, Time & Space Leg. (Usem o tradutor de legenda do vídeo).

“Criatividade dá novas formas, novos padrões, novas ideias, novas formas de arte. E nós não sabemos onde vem a criatividade. É inspirado acima? Withing up de baixo? Pegou do ar? O que? A criatividade é um mistério onde quer que você o encontre.” ~ Rupert Sheldrake ~

Momento de Reflexão – 100 livros em PDF de Auto Ajuda…

Livraria Lello vai ter entrada livre na véspera de Natal

1 12 regras para a vida

221 chaves para a realização pessoal

3 – 21 hábitos anti-procrastinação. Como deixar de ser preguiçoso

  • Onde a gente foca, aquilo floresce. Preste atenção onde você está focando!

4Estratégias para vencer qualquer debate – A arte de ter razão

5 52 maneiras de ganhar mais dinheiro

6 60 estratégias práticas para ganhar mais tempo

  • Aceite a si mesmo antes de qualquer outra coisa nesta vida. Aceite seu corpo, sua mente e seus sentimentos. Aceite que você é da maneira como realmente é. Mude apenas o que for possível.

7100 segredos das pessoas felizes

8 Livre-se da Ansiedade

9A arte de viver

  • Sempre que a caminhada ficar difícil ou penosa demais, não hesite em pedir que alguém lhe estenda a mão. Quando temos com quem contar, os passos automaticamente se tornam mais seguros e certeiros. Sempre estarei por perto, pode contar comigo!

10APRENDENDO A VIVER

11O Poder da Presença

12O poder do agora (Eckhart Tolle)

Pin em O investidor de sucesso

13A importância da auto estima

14 Linguagem do Corpo

15A prática infinita – uma jornada através da alma

  • Às vezes é preciso retirar-se por um tempo para o processo de cura. Uma perda, uma tristeza, uma doença ou um desânimo não podem sempre ser encarados como superficiais. Algumas feridas são profundas e chegam até nossa alma. Nestes casos permita-se sofrer, mas com a certeza de que é uma situação passageira. Tão logo a cura se faça, volte para a vida, pois ela te espera com ansiedade.

16A Única Coisa – o Foco Pode Trazer Resultados Extraordinários para Sua Vida

17Intuição – O saber além da lógica – Osho

18Antes que você morra – Osho

19Aqui e agora – Osho

20Conheça os seus sentimentos

21Ansiedade – como enfrentar o mal do século

22 A Arte de Respirar

  • Sempre que sentir necessidade, pare a sua vida o tempo que precisar para ajudar a si mesmo. Medite, faça algo que te faz bem, encontre os amigos e dê uma volta por aí. É preciso cuidar de si mesmo para que a vida ande. Não tenha medo de se mimar.

23As 5 faces do perdão

24Inocência e conhecimento

25As 7 Leis Espirituais do Sucesso

26 O Poder Da Resiliência

  • Nem tudo vai acontecer da forma que você quer e muito menos na velocidade que você pretende. É preciso ter uma boa dose de paciência em sua alma e outra de persistência. A vida pode ser caprichosa e cheia de artimanhas, mas ela é justa. Tenha paciência e colherá frutos suculentos, caso contrário pode saborear frutas verdes e insossas.

27As Armas da Persuasão_ Como Influenciar e Não Se Deixar Influenciar

28As regras da vida

29As Coisas Que Você Só Vê Quando Desacelera – O mundo pede um pouco mais de calma

30Aprendendo a silenciar a mente

31Atitude mental positiva

  • Viva uma vida simples: menos é mais!

32A transformação da mente

33 Consciência

34 Autoestima, autoconfiança e responsabilidade

  • Se a sua vida for a melhor coisa que já te aconteceu, acredite, você tem mais sorte do que pode imaginar.

35Autoestima

36Autosuperação

37Como ser protagonista da sua vida

38Como ter uma memória superpoderosa

  • Não deixe que as pessoas te façam desistir daquilo que você mais quer na vida. Acredite. Lute. Conquiste. E acima de tudo, seja feliz!

39Como ter uma vida normal sendo louca

40 Consciência. Tudo o que não contaram para você sobre a realidade

41Frases Inteligentes para lembrar e usar

Livrarias | César Seabra | NSC Total
Acredite que você pode, assim você já está no meio do caminho!

42Desenvolvendo o poder mental

43Se um coração vibrar – Osho

44Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes 

45 Despertar no sonho

46Desperte a sua vitória

47Desperte o gigante interior

  • Foque na solução e não no problema!

48É tudo tão simples

49Eu escolho ser feliz

50A Culpa é das Estrelas

51Os segredos da Mente Milionária

52Faça amor, não faça jogo

  • Acredite, existem pessoas que não procuram beleza, mas sim coração!!!

53Inocência, Conhecimento e Encantamento

54Vislumbres de uma infância dourada

55Vida, amor e riso

56Mãos de Luz – Bárbara Ann Brennan

  • Recomece! Se refaça! Relembre o que foi bom. E se um dia lá na frente, a vida der uma ré, Recupere a sua fé, e recomece novamente. ~ Bráulio Bessa

57Amar e ser livre

58Liberdade de expressão

59 Inércia_ a Geração Y No Limite do Tédio

60Movido pela força da esperança

  • Nada é definitivo, exceto a mudança. Quem é nascido do sol, não definha no calor!

61Muito além de marte e vênus

62Mude seu padrão mental e descubra do que você é capaz

63Nunca desista dos seus sonhos

  • Perceba seus pontos cegos (sozinha ou com ajuda de outros).
  • A mentira enfraquece e a verdade nos faz forte, para suportar qualquer dor, e para sarar qualquer corte. ~ Bráulio Bessa

64O algoritmo da vitória

65O Cérebro Ansioso – Aprenda a Reconhecer, Prevenir e Tratar o Maior Transtorno Moderno

66O ciclo do sucesso: Como descobrir suas reais metas de vida e chegar aonde você quer

67A Última Grande Lição – Mitch Albom

67 Poder Sem Limites – Anthony Robbins

6823 Hábitos Anti-Procrastinação: Como Deixar de Ser Preguiçoso e Ter Resultados Em Sua Vida

69O milagre da manhã

70O óbvio que ignoramos

71O poder do hábito

72Os Segredos que Vão Mudar Sua Vida

73O poder do subconsciente

74O que realmente importa

  • Você é mais forte do que imagina. Acredite!

75Use Sua Mente: Como desenvolver o poder do seu cérebro

76Lavagem Cerebral: Como as Universidades Doutrinam a Juventude

77Você Mais Inteligente – Augusto Cury

78O homem mais feliz do mundo

79Olhe mais uma vez. Em cada situação uma oportunidade

  • Tire pequenas pausas durante o dia e uma grande pausa a cada 30 dias.
  • O segredo da vida não é ter tudo que você quer. Mas Amar tudo que tem!

80O livro da vida

81Aprendendo Inteligência: Manual de Instruções do Cérebro para Estudantes Em GeralPierluigi Piazzi

82Carl Jung – O Psiquiatra que acreditava na experiência de quase morte

83Psicologia-e-alquimia

84A Arte de Viver – Epicteto

85A-Energia-Psiquica

  • Querer ser outra pessoa é uma completa perda de tempo da pessoa que você é. ~ Kurt Cobain

86 A Lei do Triunfo – Napoleon Hill

87Os cinco níveis de apego

88Sobre a arte de viver

89O sabor da vida

90Pare de pisar em ovos

91Pare de reclamar e concentre-se

92Pare de se sabotar e dê a volta por cima

  • Simplifique sua vida. Desapegue. Minimalize!!!
  • Não consulte seus medos, mas suas esperanças e sonhos. Não pense sobre suas frustrações, mas sobre seu potencial não desenvolvido. Não se preocupe com os fracassos, acredite naquilo que você ainda realizará.

93Propósito e coragem de ser quem somos

94Quem ama, educa

95Hermann Hesse Para Desorientados – Allan Percy

96Supercérebro_ Como Expandir o Poder Transformador da Sua Mente

Degraus levam à vitória
  • Se você quer vencer não fique olhando a escada, comece a subir degrau por degrau até chegar no topo!

97Talvez você deva conversar com alguém

98Técnicas para elevar sua autoestima

99As 7 Leis Espirituais do Sucesso – Deepak Chopra

100Um Novo Mundo – Eckhart Tolle

  • Você não precisa estar sempre certo. Não entre em discussões desnecessárias.
Um passo de cada vez
Pausa para se reconectar com quem somos e com nossos sonhos - Infográficos  - Estadão
  • O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz!
  • O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete!
  • O menor desvio inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança.
William Edwards Deming (1900-1993) – Jorge Horácio "Kotick" Audy

A Consciência sem Limites…

Ken Wilber

Com mais de 25 livros traduzidos em mais de 30 países, Ken Wilber é o autor acadêmico americano mais traduzido na atualidade.

Pela natureza básica e pioneira de seus insights, ele tem sido chamado de “Einstein da CONSCIÊNCIA”.

Revelar a realidade sem limites é revelar to­dos os conflitos como sendo ilusórios. Essa compreensão final é chamada nirvana, moksha, desprendimento, liberta­ção, iluminação, satori – livre dos pares, livre da visão fasci­nante da separação, livre das cadeias de limites ilusórios da pessoa. E com essa compreensão, estaremos prontos para vivenciar essa consciência sem limites, a chamada “consciência da unidade”, Ken Wilber.

A consciência da unidade é a simples consciência do ver­dadeiro território sem limites. Para explicá-Ia, não precisa­mos de truques, de fetiches, de jargão místico ou de miasmas de ocultismo. Se a realidade é de fato uma condição sem li­mites – e para negar isso temos de dar as costas à Teoria da Relatividade, às ciências ecológicas, à filosofia do organis­mo e à sabedoria do Oriente – se a realidade é uma condi­ção sem limites, então a consciência da unidade é o estado na­tural da consciência que reconhece essa realidade. Em resu­mo, a consciência da unidade é a consciência sem limites.

Por mais simples que possa parecer, no entanto, é ex­tremamente difícil discutir adequadamente a consciência sem limites ou a consciência da unidade. Isso ocorre porque nossa linguagem – o meio no qual toda discussão verbal deve flu­tuar – é uma linguagem de limites. As pala­vras, os símbolos e os próprios pensamentos são na realidade apenas limites, pois toda vez que pensamos ou usamos uma palavra ou nome, já estamos criando limites. Mesmo quando dizemos “a realidade é consciência sem limites”, ainda criamos uma distinção entre limite e não-limite! Portanto, devemos ter em mente a grande dificuldade acarretada pela linguagem dualística. Sim, “a realidade é sem limites”, contanto que nos lembremos que a consciência sem limites é uma cons­ciência direta, imediata e não-verbal e, de modo algum, uma mera teoria filosófica. É por essas razões que os sábios mís­ticos enfatizam que a realidade encontra-se além de nomes e for­mas, palavras e pensamentos, divisões e limites. Além de todos os limites está o verdadeiro mundo da Qüididade, o Vazio, o Dharmakaya, o Tao, o Brahman, a Divindade. E no mundo da qüididade não há nem bom nem mau, nem santo nem pecador, nem nascimento nem morte, pois nesse mundo não há limites.

Principalmente, não há limites entre sujeito e objeto, eu e não-eu, observador e observado. Eu enfatizo esse pon­to, e me alongarei nele por todo este artigo, porque de todos os limites que o homem constrói, o limite entre o eu e o não-eu é o mais fundamental. É o limite que mais relutamos em abandonar. Afinal, foi o primeiro limite que traçamos. E o nosso limite mais estimado. Investimos anos para forta­lecê-Io e defendê-Io, para torná-Io seguro. É o próprio limite que estabelece nossa noção de sermos um ente separado. E, à medida que envelhecemos, cheios de anos e memórias, e começamos a entrar no nada final da morte, esse é o últi­mo limite que abandonamos. O limite entre o eu e o não-eu é o primeiro que traçamos e o último que apagamos. De to­dos os limites que construímos, esse é o limite primário.

Luzes do Mundo - Ken Wilber

Tão fundamental é o limite primário entre o eu e o não-eu que todos os nossos outros limites dele dependem. Não so­mos capazes de distinguir limites entre coisas até que tenha­mos nos distinguido das coisas. Todo limite que nós criamos depende de nossa existência separada, isto é, de nosso limi­te primário entre eu e não-eu.

Certamente, todos e quaisquer limites são obstáculos à consciência da unidade; mas já que todos os nossos outros li­mites dependem deste limite primário, ver através dele é ver através de todos. Num certo sentido, isso é extremamente oportuno, pois, se tivéssemos de lidar com todos os nossos limites em separado, um por um, levaríamos toda uma vida, talvez várias, para dissolvê-Ios e obter a “libertação dos pa­res”. Contudo, ao focalizar o limite primário, nossa tarefa toma-se enormemente simplificada. É como se nossos di­versos limites constituíssem uma pirâmide invertida de blo­cos, todos eles repousando no bloco da extremidade. Se re­tirarmos esse bloco, o edifício todo desmorona.

Luzes do Mundo - Ken Wilber

Podemos analisar esse limite primário sob muitos ân­gulos e sob muitos nomes. Ele é a separação irredutível en­tre aquilo que chamo eu e aquilo que chamo não-eu, eu aqui e os objetos lá. É a ruptura entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido. É aquele espaço entre meu organismo e o meio ambiente. É a brecha entre o “eu” que agora lê e a página lida. No todo, é a brecha entre a pessoa que vivencia e o mundo vivenciado. Portanto, parece que, no lado de “den­tro” do limite primário, existe o “eu”, o sujeito, o que pensa, sente e vê, e do outro lado, há o não-eu, o mundo dos obje­tos lá fora, o meio ambiente, estranho e separado de mim.

Na consciência da unidade, na percepção sem limites, a noção do eu expande-se de modo a incluir sem omissões tu­do o que antes foi considerado como não-eu. A noção que a pessoa tem de identidade transfere-se para o universo in­teiro, para todos os mundos, superiores ou inferiores, ma­nifestos ou não-manifestos, sagrados ou profanos. E, é óbvio, isso não pode ocorrer enquanto o limite primário que separa o eu do universo é erroneamente interpretado como sendo verdadeiro. Mas, uma vez compreendida a ilusão que o limite primário representa, a noção de eu que a pessoa tem passa a envolver o Todo – então não há mais nada fora da pessoa, nem lugar algum onde traçar qualquer tipo de limite. Assim, se em certa medida conseguimos começar a ver através do limite primário, a noção da consciência da unidade não estará muito longe de nós.

A partir do que foi dito, é bastante fácil chegar à con­clusão errônea de que tudo o que devemos fazer para entrar na consciência da unidade é destruir o limite primário. Falan­do grosseiramente, isso é verdadeiro, mas a situação real é muitíssimo mais simples. De fato, não precisamos ter o tra­balho de tentar destruir o limite primário, por uma razão extremamente elementar: o limite primário não existe.

Como todos os limites, ele é apenas uma ilusão. Ape­nas parece existir. Fingimos que existe, supomos que exis­te, comportamo-nos como se ele existisse. Mas não é o caso. E se formos em busca do limite primário, não descobriremos dele qualquer vestígio, pois os fantasmas não têm sombra.

Neste exato momento, e quero dizer bem agora, enquanto você está lendo isto, não existe um limite primário verda­deiro, e portanto, neste exato momento, não há uma bar­reira à consciência da unidade.

Logo, não sairemos à procura do limite primário para depois tentar destruí-Io. Na verdade, isso seria um grave erro, ou, pelo menos, uma colossal perda de tempo, pois não se pode destruir o que não existe. Tentar destruir o limite pri­mário é como estar no meio de uma miragem agitando os braços furiosamente numa tentativa de fazê-Ia desaparecer ­apesar da intensa agitação que tal atividade pode criar, ela não deixa de ser algo totalmente fútil. Não se pode erradi­car uma ilusão. Podemos apenas compreendê-Ia e ver atra­vés da própria ilusão. Sob este ponto de vista, mesmo a ten­tativa de destruir o limite primário através de atividades ela­boradas tais como a ioga, a concentração mental, as preces, o ritual, os cânticos, o jejum – tudo isso simplesmente su­põe a realidade do limite primário, e, portanto reforça e per­petua a própria ilusão que pretende destruir. Como disse Fe­nelon, Arcebispo de Cambrai: “Não há ilusão mais perigosa do que as fantasias através das quais as pessoas tentam evi­tar as ilusões.”

Em vez de supor que o limite primário é real e depois tomar providências para tentar eliminá-Io, primeiro iremos em busca do limite primário propriamente dito. E, se de fato é uma ilusão, nunca acharemos um vestígio dele. Poderemos então compreender espontaneamente que aquilo que pen­sávamos estar obstruindo nossa consciência da unidade nunca existiu. E, esse insight já é um vislumbre da percepção sem limites.

Agora, o que realmente significa procurar o limite pri­mário? Procurar o limite primário é procurar muito cuida­dosamente a sensação de ser um eu separado, um ente que vivencia e sente, permanecendo distinto das experiências e sentimentos. Estou sugerindo aqui que, se procurarmos cuida­dosamente esse “eu”, não o encontraremos. E, já que esse sentimento de ser um eu isolado parece ser o maior obstá­culo à consciência da unidade, procurá-lo e não o encontrar é, ao mesmo tempo, vislumbrar a própria consciência da unidade. Vejamos o que diz o grande sábio budista Padma Sambhava: “Se o próprio ser que procura, ao procurar-se, não puder ser encontrado, o objetivo e também o próprio fim da busca terão sido atingidos.”

No início de tal experiência, devemos ser bem claros com relação ao que realmente significa essa “ausência do eu” ou “ausência do limite primário”. Não significa uma per­da de todas as sensibilidades; não é um estado de transe, caos, tumulto, ou comportamento descontrolado. Não se trata de uma explosão de minha mente e corpo, que a seguir fundem-se em Uma Grande Massa Informe de algum tipo em algum lu­gar. Não tem nada em comum com a regressão esquizofrê­nica, que não transcende de modo algum o limite do eu/não-eu, mas, ao contrário, embaralha-o e confunde-o.

Quando falamos de “perda do eu” queremos dizer isto: a sensação de ser um ente separado é uma sensação que foi mal-compreendida e mal-interpretada, e é a dispersão dessa interpretação errônea que nos interessa. Todos temos aque­la sensação, aquele sentimento radical de ser um ente iso­lado separado de nosso fluxo de experiência e separado do mundo à nossa volta. Todos nós temos de um lado o sen­timento do “eu” e de outro o sentimento do mundo exter­no. No entanto, se observarmos cuidadosamente a sensação de “eu aqui dentro” e a sensação de “mundo lá fora”, ve­rificaremos que essas duas sensações são de fato uma e a mes­ma. Em outras palavras, aquilo que agora sinto ser o mun­do objetivo lá fora é a mesma coisa que sinto ser o eu subje­tivo aqui dentro. A separação entre a pessoa que vivencia e o mundo das vivências não existe, e, portanto não pode ser encontrada.

Luzes do Mundo - Ken Wilber

De início, isso pode soar muito estranho, porque esta­mos acostumados a acreditar em limites. Parece óbvio que eu seja aquele que ouve os sons, aquele que tem sentimen­tos, aquele que vê cenas. Mas, por outro lado, não é estra­nho que eu me descreva como o observador que observa as coisas observadas? Ou o ouvinte que ouve os sons ouvidos? Será a percepção assim tão complicada? Será que realmen­te envolve três entidades – um observador, a observação e o que é observado?

Com certeza, não existem aqui três entidades separa­das. Será possível a existência de um observador sem o ato de observar ou sem algo a ser observado? Será possível exis­tir o ato de observar sem um observador ou sem algo a ser observado? O fato é que o observador, a observação e o que é observado são todos aspectos de um só processo – nunca, em tempo algum, um deles é encontrado sem os outros.

Nosso problema é que temos três palavras – “obser­vador”, “observar” e “observado” – para designar uma úni­ca atividade, a experiência de ver. Poderíamos também des­crever um único curso de água como “a corrente corre a cor­renteza”. Isso é completamente redundante e introduz três fatores onde na verdade só existe um. No entanto, hipnoti­zados como estamos pela magia verbal de Adão, supomos a existência de uma entidade separada, o “observador” que, através de algum tipo de processo chamado “observar”, adqui­re conhecimento de uma outra coisa ainda chamada o “obser­vado”. Então supomos naturalmente que somos apenas o observador, totalmente divorciados do observado. Nosso mun­do, que nos foi dado apenas uma vez, é assim separado bem ao meio, com o “observador aqui dentro” confrontando, do outro lado de um abismo profundo, as coisas “observadas lá fora”.

Mas vamos voltar ao comecinho do próprio processo de vivência e verificar se o que vivencia é de fato completa­mente distinto do vivenciado. Comecemos com o sentido da audição. Feche os olhos e preste atenção ao verdadeiro processo de ouvir. Note todos os sons diferentes flutuando por aí – pássaros cantando, carros roncando, grilos cricrilan­do, crianças rindo, a televisão gritando. Mas, com todos esses sons, note que há uma coisa que você não pode ouvir, não importa quão atentamente escute cada som. Você não pode ouvir o ouvinte. Isto é, para além de todos esses sons, você não consegue ouvir um ouvinte daqueles sons.

Não conseguimos ouvir o ouvinte porque ele não existe. O que nos ensinaram a chamar de “ouvinte” é, na verdade, apenas a própria experiência de ouvir, e não somos capazes de ouvir o ouvir. Na realidade, há apenas um fluxo de sons, e esse fluxo não se divide em sujeito e objeto. Não há limi­tes aqui.

Se deixarmos a sensação de ser um “ouvinte” que ha­bita dentro do crânio dissolver-se no próprio ato de ouvir, poderemos descobrir o nosso “eu” fundindo-se com a tota­lidade do mundo dos “sons de fora”. Como explicou um mestre zen, referindo-se ao momento de sua iluminação, “quando ouvi o sino do templo tocando, de repente não ha­via mais sino nem eu, apenas o som”. Foi através de uma experiência assim, diz-se, que Avalokitesvara recebeu tam­bém sua iluminação; ao tornar consciente o processo de ou­vir, ele percebeu que não havia um eu separado, nem um ouvin­te, distinto do próprio fluxo de audição. Quando tentamos ouvir o ouvinte subjetivo, tudo o que encontramos são sons objetivos. E isso significa que não ouvimos sons, nós somos esses sons. O ouvinte é todo som ouvido, e não uma enti­dade separada que recua e ouve o ouvir.

O mesmo é verdadeiro com respeito ao processo da vi­são. Quando olhamos cuidadosamente o campo visual, ele parece quase suspenso no espaço, suspenso no nada. Con­tudo, consiste em um padrão infinitamente rico de luzes en­trelaçadas, cores e nuanças, formando tudo isso uma monta­nha aqui, uma nuvem ali, um riacho acolá. Mas, entre todas as cenas visíveis, há ainda uma coisa que não podemos ver, não importa o quanto forçamos a vista. Não podemos ver o observador desse campo visual.

Quanto mais tentamos ver o observador, mais nos intri­ga a sua ausência. Durante anos, supusemos com toda a na­turalidade que nós éramos o observador que via as cenas. Mas no momento que passamos a buscar o observador, não encontramos vestígio dele. De fato, insistindo em tentar ver o observador, tudo o que encontramos são coisas vis­tas. Isso apenas quer dizer que eu, o “observador”, não vejo cenas – antes, eu, o “observador”, sou idêntico a todas aque­las cenas agora presentes. O assim chamado observador é na­da mais que tudo o que é visto. Ao olharmos uma árvore, não há uma experiência chamada “árvore” e outra experiên­cia chamada “vendo a árvore”. Há apenas a experiência única de ver-a-árvore. Não vemos esse ver, assim como não senti­mos o olfato ou não degustamos o paladar.

Parece que, onde quer que procuremos um eu separado da experiência, ele desaparece dentro dela. Quando procura­mos o experimentador, descobrimos apenas outra experiên­cia – o sujeito e o objeto sempre demonstram ser uma só coisa. Essa é uma realidade bastante perturbadora e, por isso, você pode estar se sentindo muito confuso, sentado aí pen­sando nisso tudo. Mas levemos a coisa adiante só mais um pouco. Enquanto você está aí pensando sobre isso, pode tam­bém encontrar o pensador que realiza essa atividade?

Em outras palavras, existirá um pensador que pensa o pensamento “estou confuso”, ou existirá apenas o pensa­mento “estou confuso”? Há, com certeza, apenas o pen­samento; se houvesse também um pensador, será que você pensaria sobre o pensador que está pensando o pensamento? Parece óbvio que aquilo que erroneamente acreditamos ser um pensador é na verdade nada mais que o presente fluxo de pensamentos.

Logo, quando o pensamento foi “estou confuso”, você não estava ao mesmo tempo consciente do pensador que es­tava pensando “estou confuso”. Havia apenas o pensamento presente – “estou confuso”. Quando, então, você procurou o pensador desse pensamento, tudo o que encontrou foi ou­tro pensamento, isto é, “estou pensando que estou confuso”. Nunca encontrou um pensador separado do pensamento, o que quer dizer apenas que os dois são idênticos.

É precisamente por isso que os sábios aconselham-nos a não tentar destruir o “eu”, mas apenas a procurá-Io, por­que toda vez que o procuramos tudo o que encontramos é a sua prévia ausência. Mas, mesmo já tendo começado a com­preender que não existe um ouvinte, nem um degustador, nem um observador, nem um pensador isolado, ainda é pro­vável que encontremos dentro de nós um sentimento nuclear, irredutível, de que somos entes separados e isolados. Ainda há aquela sensação de ser separado do mundo lá fora. Há ainda aquele sentimento íntimo que de algum modo conheço como sendo meu “eu” interior. Mesmo se não posso ver, de­gustar ou ouvir a mim mesmo, definitivamente posso sentir a mim mesmo.

Bem, será que você pode encontrar, além do sentimen­to que agora chama de seu “eu”, um sentidor que está fazen­do o sentimento? Se parece que você consegue isso, será que você pode sentir o sentidor que está fazendo o sentimento? Novamente, essa sensação nuclear de ser um sentidor que tem sentimentos é ela própria apenas um outro sentimento. O “sentidor” não passa de um sentimento, assim como o pensador é apenas um pensamento e o degustador é apenas o gosto. Também nesse caso, não há um sentidor separado e diferente dos sentimentos – e nunca houve.

Assim, a conclusão inevitável começa a nos ocorrer: não existe um eu separado do mundo. Sempre supusemos haver um vivenciador separado, mas no momento em que realmen­te partimos à sua procura, ele desapareceu dentro da expe­riência. Como afirma Alan Watts, “Há apenas a experiência. Não existe algo ou alguém experimentando a experiência! Não sentimos sentimentos, nem pensamos pensamentos, ou sentimos sensações, assim como não ouvimos a audição, nem vemos a visão, nem cheiramos o olfato. ‘Estou ótimo’ quer dizer que um sentimento ótimo está presente. Não significa a existência de uma coisa chamada ‘eu’ e de outra coisa se­parada chamada ‘sentimento’, de modo que, quando colo­cadas juntas, esse ‘eu’ sinta os sentimentos ótimos. Não exis­tem sentimentos que não os sentimentos presentes, e qual­quer sentimento presente é um ‘eu’. Ninguém jamais encon­trou um ‘eu’ separado de uma experiência, ou uma experiência separada de um ‘eu’ – o que quer apenas dizer que os dois são a mesma coisa”.

Agora, quando você começa a compreender que não existe uma brecha entre “você” e suas experiências, será que não começa a se tornar óbvio o fato de não haver brecha en­tre “você” e o mundo que é vivenciado? Você não tem a sen­sação de um pássaro, mas é a sensação de um pássaro. Você não tem a experiência de uma mesa, você é a experiência da mesa. Você não ouve o som do trovão, você é o som do trovão. A sensação interior chamada “você” e a sensação exterior chamada “o mundo'” são uma mesma sensação. O sujeito interior e o objeto exterior são dois nomes para um único sentimento, e isso não é algo que você deve sentir, é a única coisa que você pode sentir.

Isso significa que seu estado de consciência neste mo­mento, quer você se dê conta quer não, é consciência da uni­dade. Neste momento, você já é o cosmo, você já é a tota­lidade de sua experiência atual. Seu estado atual é sempre o de consciência da unidade, porque o eu separado, que parece ser o grande obstáculo a essa consciência, é sempre uma ilu­são. Não precisamos tentar destruir o eu separado, já que, para início de conversa, ele não existe. Tudo o que precisa­mos fazer é procurá-Io, e não seremos capazes de encontrá-Io. O próprio fato de não o encontrar é um reconhecimento da consciência da unidade. Em outras palavras, toda vez que pro­curamos nosso “eu” e não o encontramos, momentaneamen­te caímos em nosso estado anterior e real de consciência da unidade.

Por mais estranho que tudo isso possa parecer à pri­meira vista, a percepção interior de que não existe um eu separado sempre foi óbvia para os místicos e sábios de todas as épocas, e constitui um dos pontos centrais da filosofia perene. Embora existam inúmeras citações que poderiam ilustrar essa percepção, o decantado resumo dos ensinamen­tos de Buda exprime tudo:

  • Só o sofrimento existe, ninguém que sofra;
  • O feito existe, mas não quem o faça;
  • O Nirvana existe, mas ninguém que o procure;
  • O Caminho existe, mas ninguém que o percorra.

Essa exata compreensão é universalmente considerada a libertação de todo sofrimento. Podemos afirmá-Io positi­vamente: quando compreendemos que nosso eu é o Todo, então não há nada fora de nós mesmos que possa causar so­frimento. Não há nada fora do universo contra o qual possa­mos chocar-nos. E podemos afirmá-Io negativamente: essa compreensão é uma libertação de todo sofrimento porque é, a priori, uma libertação frente à idéia de que há um eu que pode sofrer. Como afirma Wei Wu Wei:

  • Por que você está infeliz?
  • Porque 99,9 %
  • De tudo o que você pensa e
  • De tudo o que você faz
  • É para você mesmo –
  • ­E você não existe.

Apenas as partes sofrem, não o Todo. E essa conclu­são, quando afirmada “negativamente” pelos místicos, diz: “Tornamo-nos livres do sofrimento quando percebemos que a parte é uma ilusão – não existe um eu separado, pronto para sofrer.” Quando afirmada “positivamente”, diz: “So­mos sempre o Todo, conhecendo apenas a liberdade, o des­prendimento e o esplendor. Perceber o Todo é escapar do destino reservado às partes, que é apenas o sofrimento, a dor e a morte.” O Budismo Hinayana enfatiza a primeira colo­cação, o Hinduísmo e o Cristianismo a segunda, e o Budis­mo Mahayana parece estabelecer um equilíbrio satisfatório entre ambas. Contudo, todas essas correntes são testemu­nhas da mesma percepção interior.

Quando compreendemos que não existe a parte, caímos no Todo. Quando percebemos que não existe eu algum (e isso ocorre neste exato momento), percebemos que nossa verdadeira identidade é sempre a Identidade Suprema. À luz onipresente da consciência sem limites, aquilo que anterior­mente consideramos o eu isolado e interior revela-se como parte integrante do cosmos lá fora. E esse é o nosso verda­deiro eu. Para onde quer que olhemos, veremos nossos ros­tos originais em toda a parte.

“Voltei à sala [assim um mestre zen explicou a sua pri­meira visão do sem-limite] e estava prestes a voltar ao meu lugar quando toda a perspectiva mudou. Quando olhei ao meu redor, para cima e para baixo, o universo todo com seus muitos obje­tos sensíveis parecia completamente diferente; o que antes era repugnante, juntamente com a ignorância e as paixões, era agora visto apenas como o transbordar de minha natureza mais íntima, que, nela mesma, permanecia clara, verdadeira e trans­parente.”

Tat tvam asi, dizem os hindus. “És Isso. O teu verdadeiro Eu é idêntico à Energia suprema da qual todas as coisas no universo são uma manifestação.”

Esse eu verdadeiro recebeu, das diversas tradições mís­ticas e metafísicas, dezenas de nomes diferentes durante a história da humanidade. É conhecido como o Filho Divino, al-insan al-Kamil, Adam-kadmon, ruarch adonai, Nous, Pneuma, Purusha, Tathagatagarbha, o Homem Universal, a Hóstia, o Brahman-Atman, ipseidade. E, de um ponto de vista leve­mente diferente, ele é sinônimo de Dharmadhatu, de Vazio, de Qüididade e de Divindade. E todas essas palavras são apenas símbolos do verdadeiro mundo do sem-limites.

Freqüentemente nos referimos ao verdadeiro eu usan­do algum tipo de designação que sugere ser ele o núcleo “mais íntimo” do homem, predominantemente subjetivo, interior, pessoal, não-objetivo. Os místicos nos dizem, unânimes, que “o Reino dos Céus está dentro de nós”, que devemos bus­car nas profundezas de nossa alma até descobrir, oculto em nossa porção mais íntima, o Verdadeiro Eu de toda a exis­tência. Como costumava dizer Swami Prabhavananda: “Quem, o que você pensa que é? Absoluta, básica e fundamentalmen­te, bem lá no fundo?”

Encontramos, com freqüência, referências ao eu verda­deiro como sendo algo semelhante à “Testemunha interior”, o “Cognoscente e Observador Absoluto”, a “Natureza mais Íntima” de uma pessoa, a “Subjetividade Absoluta”, e assim por diante. Por isso, Shankara, mestre do Hinduísmo Vedan­ta, diria que “há uma Realidade auto-existente, que é a base de nossa consciência de ego. Essa Realidade é a Testemunha dos três estados de consciência [vigília, sonho e sono pro­fundo], e é diferente dos cinco sentidos. Essa Realidade é Cognoscente de todos os estados de consciência. É ciente da presença ou da ausência da mente. É Atman, o Ser Su­premo, o antigo”. Consideremos esta excelente citação do mestre zen Shibyama:

Ela (a Realidade) é “Subjetividade Absoluta”, que trans­cende tanto a subjetividade como a objetividade e livremente cria e usa de ambas. É “Subjetividade Fundamental”, que nunca pode ser objetivada ou conceitualizada, e é completa em si pró­pria, contendo a plena significação da própria existência. Cha­má-Ia por esses nomes constitui já um erro, um passo em di­reção à objetivação e à conceituação. O Mestre Eisai obser­vou, nesse sentido, que “ela é sempre inominável”.

A Subjetividade Absoluta que nunca pode ser objetivada ou conceituada é livre das limitações de espaço e tempo; não está sujeita à vida e à morte; vai além do sujeito e do obje­to e, apesar de viver num indivíduo, não se restringe a ele.

Mas dizer que o verdadeiro eu é o Verdadeiro Obser­vador, a Testemunha Interior ou a Subjetividade Absoluta dentro de cada um de nós parece contraditório à luz do que dissemos até agora sobre a consciência da unidade. Isso porque, por um lado, vimos que o verdadeiro eu é uma percepção sem limites e sempre presente na qual o sujeito e o objeto, o observador e o observado, o vivenciador e o vivenciado formam um único continuum. No entanto, por outro lado, acabamos de descrever o verdadeiro eu como sendo a Tes­temunha interior, o Cognoscente fundamental. Dissemos que é o Observador e não o observado, o interior e não o exterior. O que fazer então dessa aparente contradição?

Em primeiro lugar, precisamos reconhecer as dificul­dades que o místico enfrenta ao tentar descrever a inefável experiência da consciência da unidade. Ocupando posição de destaque, há o fato de que o verdadeiro eu é uma percepção sem limites, enquanto todas as nossas palavras e pensamen­tos são apenas limites. Entretanto, isso não é um defeito res­trito a uma língua em particular, mas é inerente a todas as línguas devido à sua própria estrutura. Uma língua possui utilidade apenas na medida em que pode construir limites. Uma língua sem limites não constitui língua alguma, e assim o místico que tenta falar lógica e formalmente sobre a cons­ciência da unidade está fadado a parecer paradoxal ou contra­ditório. O problema é que a estrutura de qualquer língua não consegue captar a natureza da consciência da unidade, assim como um garfo não consegue apanhar o oceano.

Logo, o místico deve contentar-se em apontar e indi­car um Caminho através do qual todos nós possamos viven­ciar por nós mesmos a consciência da unidade. Nesse sentido, o caminho místico é puramente experimental. O místico pede que não acreditemos em algo apenas com base na fé cega, que não aceitemos autoridade alguma a não ser a auto­ridade de nossa compreensão e experiência. Ele nos pede ape­nas que tentemos empreender algumas experiências de per­cepção, que observemos atentamente nosso atual estado de existência e que tentemos ver nosso eu e nosso mundo da forma mais clara possível. Não pense, apenas olhe!, excla­mou Wittgenstein.

Mas, olhar para onde? É essa a questão a que os mís­ticos universalmente respondem dizendo, “Olhe para den­tro. Bem lá no fundo, pois o verdadeiro eu está dentro de nós”. O místico não está descrevendo o verdadeiro eu co­mo algo que existe dentro de nós – ele está apontando pa­ra dentro de nós. Na verdade, está dizendo para olharmos para dentro, não porque a resposta final esteja de fato dentro de nós e não fora, mas porque, quando olhamos para dentro cuidadosa e consistentemente, cedo ou tarde acabaremos encontrando o exterior. Em outras palavras, percebemos que o interior e o exterior, o sujeito e o objeto, o observador e o observado são a mesma coisa, e assim ingressamos esponta­neamente em nosso estado natural. Portanto, o místico co­meça a falar do verdadeiro eu de um modo que parece con­traditório em relação a tudo o que dissemos anteriormente. Mas se o seguirmos até o fim, a conclusão – como veremos ­será idêntica.

Consideremos de início o que pode significar algo co­mo “Subjetividade Absoluta” ou “Testemunha Interior”, pelo menos segundo o modo pelo qual o místico utiliza esses termos. A Subjetividade Absoluta seria aquilo que nunca, em tempo algum, em circunstância alguma, pode ser um obje­to particular que pode ser visto, ouvido, conhecido ou per­cebido. Assim como o Observador Absoluto, ela nunca pode ser vista. Assim como o Cognoscente absoluto, ela nunca po­de ser conhecida. Lao Tzé fala sobre isso da seguinte forma:

  • Porque o olho contempla mas não consegue vislumbrá-lo,
  • Ele é chamado evasivo.
  • Porque o ouvido escuta mas não consegue ouvi-Io,
  • Ele é chamado o rarefeito.
  • Porque a mão sente mas não consegue encontrá-Io,
  • Ele é chamado o infinitesimal.

A fim de entrar em contato com esse eu verdadeiro ou Subjetividade Absoluta, a maioria dos místicos, portanto pro­cede de modo mais ou menos semelhante ao descrito por Sri Ramana Maharshi: “O corpo grosseiro, composto dos sete humores, não sou eu; os cinco órgãos do sentido que captam seus respectivos objetos, não sou eu; até a mente que pensa, não sou eu.”

Mas então o que poderia ser esse eu verdadeiro? Como Ramana demonstrou, ele não pode ser meu corpo, porque posso senti-Io e conhecê-Io, e aquilo que pode ser conheci­do não é o Cognoscente absoluto. Ele não pode ser meus de­sejos, esperanças, medos e emoções, pois até certo ponto posso observá-Ios e senti-Ios, e aquilo que pode ser observado não é o Observador absoluto. Ele não pode ser minha mente, minha personalidade, meus pensamentos, pois tudo isso po­de ser testemunhado, e aquilo que pode ser testemunhado não é a Testemunha absoluta.

Ao procurar persistentemente o eu verdadeiro dentro de nós, na verdade estamos começando a perceber que ele não pode mesmo ser encontrado dentro de nós. Costumávamos pensar sobre nós mesmos como o “pequeno sujeito” aqui dentro que observava todos aqueles objetos lá fora. Mas o místico nos mostra claramente que esse “pequeno sujeito” na verdade pode ser considerado um objeto! Não é um ver­dadeiro sujeito, não é o meu eu verdadeiro.

No entanto, aqui se encontra, de acordo com o místico, o nosso principal problema. A maioria de nós supõe que pode sentir-se, conhecer-se ou perceber-se, ou pelo me­nos ter de certa forma consciência de nós mesmos. Te­mos essa sensação até mesmo agora. No entanto, responde o místico, o fato de que posso ver, ou conhecer, ou sentir meu “eu” neste momento, leva-me a concluir que esse “eu” não pode de modo algum ser meu verdadeiro eu. É um falso eu, um pseudo-eu, uma ilusão, um engodo. Inadvertidamen­te identificamo-nos com um complexo de objetos, todos conhecidos ou passíveis de ser conhecidos. Esse complexo de objetos cognoscíveis não pode ser o verdadeiro Cognos­cente ou verdadeiro Eu. Nós nos identificamos com nosso corpo, mente e personalidade, imaginando que esses obje­tos constituem nosso verdadeiro “eu”, e passamos a vida in­teira tentando defender, proteger e prolongar aquilo que é apenas uma ilusão.

Somos vítimas de um caso epidêmico de identidade tro­cada, e nossa Identidade Suprema, silenciosamente, espera ser descoberta. O místico quer apenas nos acordar para aquilo que na verdade e para sempre somos, sob o manto de nosso pseu­do-eu, e anterior a ele. Dessa maneira, o místico nos pede que deixemos de nos identificar com esse falso eu e percebamos que tudo aquilo que podemos conhecer, pensar ou sentir a respeito de nós mesmos não pode ser o nosso Eu verdadeiro.

Minha mente, meu corpo, meus pensamentos, meus desejos – nada disso constitui o meu verdadeiro Eu, nem tampouco as árvores, as estrelas, as nuvens e as montanhas, pois posso testemunhar todos esses objetos com igual acerto. Prosseguindo desse modo, torno-me transparente para o meu Eu verdadeiro, e percebo que, de algum modo, aquilo que sou vai muito além desse organismo isolado, limitado pela pele. Quanto mais penetro dentro de mim mesmo, mais me deixo para trás.

À medida que essa investigação avança, ocorre aquilo que o Lankavatara Sutra chama de “uma reviravolta na base mais profunda da consciência”. Quanto mais procuramos o Observador absoluto, mais percebemos que não pode­mos encontrá-lo na forma de um objeto. E a razão por que não conseguimos encontrá-lo na forma de um determina­do objeto é porque ele é todo objeto! Não conseguimos sen­ti-lo porque ele é tudo o que sentimos. Não conseguimos vivenciá-lo porque ele é tudo o que é vivenciado. Nada do que podemos observar é o Observador – porque Ele é tudo o que vemos. A medida que penetramos dentro de nós mes­mos para procurar nosso verdadeiro eu, encontramos ape­nas o mundo. ­

Mas algo estranho ocorreu agora, pois percebemos que o verdadeiro eu dentro de nós é na verdade o mundo exte­rior, e vice-versa. O sujeito e o objeto, o lado de dentro e o lado de fora são e sempre serão a mesma coisa. Não exis­te limite primário. O mundo é nosso corpo, o lugar de onde observo e aquilo que observo.

Já que o verdadeiro eu não está nem dentro nem fora, já que o sujeito e o objeto na verdade não são coisas distin­tas, o místico pode falar da realidade de muitas maneiras diferentes, contraditórias apenas na aparência. Pode dizer que em toda a realidade não existe objeto algum. Pode afir­mar que a realidade não contém sujeito algum. Pode negar a existência tanto do sujeito como do objeto. Pode falar de uma Subjetividade Absoluta que transcende, mas que tam­bém inclui o sujeito relativo e o objeto relativo. Isso tudo constitui simplesmente modos diferentes de dizer que o mun­do interior e o mundo exterior são apenas dois nomes dife­rentes para o mesmo estado único e sempre presente de cons­ciência sem limites.

Talvez agora se torne óbvio que, apesar das formula­ções teóricas complexas que com freqüência cercam a filo­sofia perene, a essência da mensagem mística é clara, sim­ples e objetiva. Fazendo uma recapitulação: a realidade é uma união de opostos, ou “não-dual”. Como são os limites e os mapas simbólicos que parecem fa­zer dos opostos inimigos conflitantes, dizer que a realidade é não-dual é dizer que a realidade é sem limites.

Viver no Mundo sem ser do Mundo

O mundo real não é uma coleção de coisas separadas e independentes, divorciadas en­tre si no tempo e no espaço. Cada coisa e acontecimento no cosmos interdepende de e inter-relaciona-se com todas as ou­tras coisas e acontecimentos no cosmos. E, mais uma vez, já que são nossos limites e mapas simbólicos que nos dão a ver a ilusão de entidades independentes, dizer que o mundo real não contém coisas separadas é dizer que o mundo real é sem limites.

A descoberta do mundo real sem limites é a consciência da unidade. Não é que na consciên­cia da unidade estejamos olhando para o verdadeiro território sem limites. Não; a consciência da unidade é o verdadeiro ter­ritório sem limites. A realidade, segundo dizem todos, é cons­ciência sem limites – isso, apenas isso, é o nosso Eu Verda­deiro. Para citar o fundador da mecânica quântica, Erwin Schroedinger, “podemos atirar-nos por inteiro sobre o solo, estirados sobre a Mãe Terra, com certeza absoluta que nós e ela somos a mesma coisa. Somos tão firmes, tão estabele­cidos, tão invulneráveis quanto ela, ou, ainda, mil vezes mais firmes e invulneráveis. Ela certamente nos engolirá amanhã, assim como nos trará de volta novamente para novas lutas e novos sofrimentos. E isso não ocorrerá ‘num certo dia’: agora, hoje, todos os dias, ela nos traz de volta, não uma, mas mi­lhares de vezes, e, do mesmo modo, ela nos engole milhares de vezes todos os dias. Isso porque eternamente e sempre há apenas o agora, um único agora; o presente é a única coisa que não tem fim”. Fonte

Ken Wilber: 1ª entrevista brasileira com “O Einstein da Consciência”

Percurso para uma visão integral

Ken Wilber é uma figura difícil de definir. Pensador contemporâneo com uma proposta de integrar todo o conhecimento humano, ele trabalha com ciência, filosofia, ética, espiritualidade e arte.

As contribuições wilberianas no campo da psicologia, por exemplo, tiveram tal impacto cultural que a crítica o aclamou como o “Einstein da psicologia moderna”. Com 23 livros traduzidos para mais de 30 idiomas, ele é um dos poucos autores vivos presenteados com suas “Obras completas”, em 9 volumes ao melhor estilo enciclopédico.

Nascido em Oklahoma City, EUA, em 1949, viveu em diversas cidades ao longo de sua vida já que seu pai pertencia à força aérea americana. Assim que completou o segundo grau em Lincoln, Nebrasca, começou o curso de Medicina na universidade de Duke. Logo no primeiro ano de curso perdeu o interesse pela carreira médica e começou a estudar psicologia e filosofia por conta própria. Posteriormente, voltou a Nebraska e completou um mestrado em bioquímica, abandonando em seguida a carreira acadêmica para se dedicar aos estudos e a prática da meditação.

Até 1998 Wilber era tido como uma figura arredia optando por não lecionar e não aparecer em eventos sociais. Preocupava-se estritamente em escrever e conduzir suas pesquisas. Foi nesse ano que fundou o Integral Institute para fomentar pesquisa, educação e filantropia. O Integral Institute hoje desenvolve um trabalho em 26 áreas do conhecimento humano e conta com mais de 400 pesquisadores.

Posteriormente, criou uma universidade e um centro dedicado à discussão ecumênica, atuando assim por meio de três frentes institucionais. Wilber e a equipe de assessoria política do Integral Institute trabalharam com Al Gore, Clinton, Bush e Tony Blair. Gore e Clinton, por exemplo, declararam publicamente a admiração pela obra wilberiana.

Wilber começou sua trajetória intelectual fazendo um estudo sistemático das escolas de psicologia ocidentais e das tradições de sabedoria orientais, o que deu origem ao seu primeiro livro, O Espectro da Consciência, escrito quando o filósofo tinha 23 anos. A evolução da obra escrita de Wilber é indissociável do amadurecimento do próprio filósofo, marcado por grandes rupturas, tanto teóricas quanto pessoais.

Como integrar Freud e Buda?

“I have one major rule: everybody is right. More specifically, everybody—including me—has some important pieces of the truth, and all of those pieces need to be honored, cherished, and included in a more gracious, spacious, and compassionate embrace.”

Tradução livre: “Eu tenho uma grande regra: todo mundo está certo. Mais especificamente, todo mundo – eu incluso – possui alguns importantes pedaços da verdade, e todos precisam ser honrados, valorizados e incluídos em um abraço gracioso, espaçoso e compassivo.”

Em seus primeiros estudos, Wilber chegou a um impasse. Deparou-se com Freud dizendo que para ser feliz você precisa fortalecer seu ego enquanto Buda ensinava que para ser feliz você deve, metaforicamente, morrer para o seu ego. Ou seja, duas afirmações aparentemente contraditórias. Qualquer pessoa diria que Freud está certo e Buda errado ou vice-versa.

A originalidade de Wilber está na percepção profunda desse impasse. Diante de dois gênios da humanidade, ele não conseguia aceitar que um deles pudesse estar completamente errado. A solução foi afirmar que ambos estão certos, mas parcialmente certos.

Tal insight norteou todo o pensamento wilberiano no sentido de que ninguém erra 100%, todos tem alguma contribuição para dar. Seu esforço intelectual, então, se concentrou na tarefa de como integrar as verdades parciais de quase todos os saberes da humanidade (da física à sociologia) num sistema explicativo, numa matriz que respeite a hierarquia e o senso de proporção de cada proposta.

Link YouTube | Ken Wilber fala sobre espiritualidade e ciência.

Consciência – Amit Goswami…

Unindo Ciência e Espiritualidade - Amit Goswami | Spaltron.net

Introdução

Capra iniciou este debate há quase 30 anos. Contudo, apesar de ter realizado um tra­balho inestimável, e de ser um físico culto e informado, ele não fazia parte da or­todoxia da física acadêmica, o que já não ocorre com Amit Goswami, que pode­mos chamar de seu sucessor.

Desenvolvimento

Amit Goswami vive nos Estados Unidos e é Ph.D. em física quântica, autor de numerosos artigos científicos clássicos, além de pro­fessor titular de física no Instituto de Física Teórica da Universidade do Oregon. Recentemente, Goswami sacudiu o mundo da física ao postular que, através dos paradoxos surgidos no início do século XX, com o nascimento da física quânti­ca, é possível afirmar exatamente o oposto do que metade do presente livro afir­mou até agora, ou seja, é a consciência que cria a matéria, e não o oposto.

Amit foi rotulado de místico por alguns setores da comunidade científica, porém, acal­mou os críticos através de várias publicações técnicas que dão respaldo e credi­bilidade às suas idéias. Amit Goswami tem procurado demonstrar que o univer­so carece de uma consistência matemática, e que sem a existência de um conjun­to superior, no caso uma consciência cósmica organizadora, ou mesmo Deus, tor­na-se paradoxal explicar o funcionamento do cosmo.

A relação corpo-mente no passado distante acreditava na dualidade entre matéria (corpo) e mente (espírito). Com o advento das neurociências, atualmente é inquestionável que a nossa intricada mente sur­ge da crescente complexidade da integração neuronal. Quanto mais neurônios e quanto mais sinapses, mais complexa é a nossa mente. Sendo assim, mente/cons­ciência é um conceito dependente da matéria. Neste ponto entra Goswami, ques­tionando o nível molecular da matéria. Se o encéfalo é o forjador das mentes, quem é o forjador dos encéfalos?

No nível molecular, as dúvidas geradas pelas partículas subatômicas são inúmeras, mas é exatamente através dessas dúvidas, fortemente alicerçadas sobre uma miríade de fórmulas matemáticas inquestioná­veis até o presente momento, que Goswami afirma: a mente não é a consciência. A consciência vai além da mente, e é ela a responsável por fixar a matéria no cos­mo. Explicar os conceitos de Goswami em algumas linhas é uma tarefa inglória. Contudo, arriscaremo-nos nesta pequena empreitada.

A parte I de seu livro, “O universo autoconsciente“: como a consciência cria o mundo material, é iniciada com uma crítica cáustica a nossa atual for­ma de pensar:

“Um nível crítico de confusão satura o mundo contemporâneo. Nossa fé nos componentes espirituais da vida – na realidade vital da consciência. dos valores e de Deus – está sendo corroída sob o ataque implacável do materialismo científico. Por um lado, recebemos de braços abertos os benefícios gerados por uma ciência que assume a visão mundial materialista. Por outro, essa visão, predominante, não consegue corresponder às nossas intuições sobre o significado da vida.

Nos últimos 400 anos, adotamos gradualmente a crença de que a ciência só pode ser construída sobre a idéia de que tudo é feito de matéria – os denominados átomos. em um espaço vazio. Viemos a aceitar o materialismo como dogma, a despeito de sua incapacidade de explicar as experiências mais simples de nossa vida diária. Em suma, temos uma visão de mundo incoerente. As tribulações em que vivemos alimentaram a exigência de um novo paradigma – uma visão unificadora do mundo que integre mente e espírito na ciência. Nenhum novo paradigma, contudo, emergiu até agora.”

Para Goswami, a consciência pode ser definida como: o agente que afeta objetos quânticos para lhes tornar o comportamento apreensível pelos sentidos. Talvez, para uma melhor compreensão, tenhamos que adentrar nas definições concedidas aos objetos classificados de clássicos ou quânticos.

Desde a época de Newton, nossa física adequa-se a um sistema filosófico conhecido como realista-materialista. Os físicos materialistas, também conheci­dos como físicos clássicos, acreditavam que, se conhecêssemos um determinado ponto no espaço, poderíamos facilmente prever o seu comportamento em qual­quer momento futuro. Sendo assim, Deus nada mais era do que o maior dos ma­temáticos. O universo começou a ser verdadeiramente decifrado através da genia­lidade de Isaac Newton.

O cosmo passou a ser encarado como um gigantesco re­lógio, e acreditava-se que, no futuro, o homem chegaria a uma equação do Tudo, a uma equação que provasse a existência Dele. Einstein passou grande parte de sua vida em busca da equação divina, mas só conseguiu equações menores, mui­to embora absolutamente revolucionárias: E=m.c2 explicita um dos maiores sal­tos intelectuais de todos os tempos.

No entanto, Einstein viveu as glórias de sua teoria da relatividade e as dú­vidas perturbadoras oriundas da física quântica. O sistema filosófico, que jun­to com a relatividade mudou nossa forma de encarar o universo, introduziu o caos onde outrora habitava a ordem inabalável do grande relógio universal de Newton.

Na medida em que físicos como Bohr e Heisenberger penetravam no inte­rior da matéria, desvendando as interações entre as partículas subatômicas, eles foram apresentados a um universo evasivo, fugaz, escorregadio e absolutamen­te imprevisível:

1) Partículas supostamente feitas de matéria, como um elétron, apre­sentavam, e ainda hoje continuam apresentando, comportamen­tos que absolutamente negam todos os pressupostos de nossa fi­losofia realista-materialista: a física clássica. Melhor dizendo, implodem, sem nenhum pesar, nossa arrogância matemática des­tinada a realizar previsões 100% corretas.

2) Um objeto quântico pode estar em mais de um lugar no mesmo instante, e isso é inadmissível para as leis do grande relógio. Se quisermos afirmar que o elétron de fato existe, precisamos levar em conta a presença de um observador, de uma consciência.

3) É sabido que, dependendo do tipo de pesquisa e do tipo de apa­relho utilizado para se investigar o comportamento de um único elétron, podemos afirmar que ora o mesmo é uma partícula, ora comporta-se como uma onda no espaço. É impossível afirmar que um objeto quântico se manifesta no espaço-tempo até que o observemos como uma partícula, e, neste ponto, a consciência produz o colapso da onda.

4) Um objeto quântico parece saltar os limites do espaço-tempo. Isso significa dizer que quando um elétron recebe uma determi­nada quantidade de energia, pode saltar para outras camadas per­tencentes ao átomo em questão, para outras eletrosferas.

Contu­do, nas medições realizadas nos modernos laboratórios de físi­ca, não se consegue detectar o trajeto do elétron através do es­paço interveniente, e a isso se denomina salto quântico. Falando de uma forma mais simples, o comportamento desse minúsculo ponto de matéria é absolutamente estranho, e o que se assemelha ao fato de você estar em São Paulo e simplesmente aparecer em Vitória do Espírito Santo, sem que necessite transitar pelo já ci­tado espaço interveniente.

Por que os pressupostos da física quântica não nos fazem pensar mais profundamente nessas questões? Provavelmente, a resposta alicerça-se no fato de que a física quântica só pode ser averiguada no microuniverso perten­cente ao reino dos átomos e dos elétrons. Somente investigadores afins aca­bam sendo tocados por essas interessantes constatações, que geram terremo­tos filosóficos em suas mentes. Pouquíssimas pessoas estão aptas a discu­tir com fundamento as questões quânticas do universo, e alguns físicos che­gam mesmo a afirmar que as repercussões filosóficas a respeito de nós mes­mos são tão intensas e perturbadoras, que muitos de nós não teríamos estru­tura psicológica suficiente para lidar com as questões geradas no cerne des­sas descobertas.

“Agora, passemos à questão importante: por que há tanto consenso? Por duas razões, o mundo fenomenal parece esmagadoramente objetivo. Em primeiro lugar, corpos clássicos possuem massas imensas, o que significa que suas ondas quânticas se espalham com grande lentidão. O pequeno espalhamento torna bem previsíveis as trajetórias do centro da massa de macro objetos (sempre que se olha encontramos a lua onde se espera que ela esteja), criando, dessa maneira, uma aura de continuidade. Continuidade adicional é imposta pelo aparato perceptual de nosso próprio encéfalo-mente.”

A palavra transcendência tem sido empregada com certa freqüência nos trabalhos de física. Não como se costuma empregá-Ia, de forma rotineira e mui­tas vezes inconseqüente, no afã de explicar o que para nós é inexplicável. Para os físicos, transcendência passa a ser um conceito, até certo ponto, matematica­mente provado. Para onde vai o elétron no momento do salto quântico? Não se sabe ao certo, mas matematicamente está provado que o mesmo não está nem em nosso conhecido espaço, nem tão pouco em nosso velho amigo tempo. Sendo as­sim, alguns físicos afirmam que o elétron transcendeu o espaço-tempo. A diferen­ça de um texto de física quântica para um texto esotérico sem fundamentação é que o primeiro não faz afirmações descabidas a respeito do suposto universo para o qual o elétron transcendeu. Os físicos costumam parar no abismo da transcen­dência, assumindo humildemente suas limitações intelectuais na compreensão de tão perturbadora questão.

Se para uma pessoa comum, um indivíduo não versado em ciências, essas questões não perturbam, é pelo fato de que esses conceitos não che­gam facilmente aos veículos de divulgação científica. Note como a evolu­ção de um conceito micro atinge facilmente o macro:

  • átomos são compos­tos, dentre outras coisas, de elétrons;
  • elétrons transcendem o espaço-tempo conhecido;
  • átomos unidos formam moléculas;
  • é lícito supor que parte das moléculas transcende o espaço-tempo em algumas ocasiões;
  • moléculas uni­das formam pedras, plantas, animais.

Sendo assim, parte da matéria, ora está aqui, ora não está; ora está presente, ora está ausente. Não podemos afirmar que a física quântica vale para um átomo e não para uma molécula, pois os mesmos elétrons que compõem o átomo isolado compõem a molé­cula em questão.

Nagarjuna, filósofo da tradição budista mahayana, costumava dizer:

  • Ela não existe.
  • Ela não não existe.
  • Ela não existe e não não existe simultaneamente.
  • Nem ela não existe nem não não existe.

A quem Nagarjuna se refere? À realidade última. E o que é real é uma história longa que estamos desenvolvendo desde os primeiros tempos. O elétron é onda ou é partícula? O elétron está no espaço-tempo ou não está no espaço-tempo? Essas questões vibram em nossa mente, assim como os vrttis de Patañjali. A dualidade onda-partícula intriga os físicos quânticos de hoje, assim como a dualidade mente-corpo intrigou Patañjali há séculos atrás. A diferença entre ambos é que Patañjali era um intuitivo e os físicos atuais atingiram o abis­mo através da lógica matemática.

Um dos mentores da física quântica, Niels Bohr, é um dos defensores do princípio da complementaridade:

“Bohr descreveu uma maneira nova de estudar o paradoxo da dualidade onda-partícula. As naturezas de onda e partícula do elétron não são dualísticas, nem simplesmente polaridades opostas, disse Bohr: São propriedades complementares, que nos são reveladas em experimentos complementares. Quando tiramos uma foto de duração de um elétron, estamos revelando-lhe a natureza de onda; quando lhe seguimos a trajetória em uma câmara de condensação, observamos-lhe a natureza de partícula. Os elétrons não são ondas nem partículas. Poderíamos chamá­-los de “ondículas”, porquanto sua verdadeira natureza transcende ambas as descrições. Este é o principio da complementaridade.

Uma vez que pensar que o mesmo objeto quântico tem atributos aparentemente tão contraditórios com ondulação e fixidez pode ser perigoso para a nossa sanidade mental, a natureza nos forneceu um tampão. O princípio de complementaridade de Bohr assegura-nos que, embora os objetos quânticos possuam os atributos de onda e partícula, só podemos medir um único aspecto da ondícula com qualquer arranjo experimental, em qualquer dada ocasião. Pela mesma razão, escolhemos o aspecto particular da ondícula que queremos ver ao escolher o apropriado arranjo experimental.”

Amit Goswami tem proposto que, uma vez a matéria sendo instável e transcendente, torna-se necessária a existência de uma consciência para paralisá-­Ia momentaneamente, criando assim a ilusão da estabilidade. A natureza é dinâ­mica e complementar, como sugeriu Bohr. A espiritualidade já afirma a instabili­dade da natureza há muitos anos. Na literatura vedanta da Índia, a palavra rupa significa a forma imanente da natureza, sendo a palavra nama usada para dar sig­nificado aos arquétipos transcendentes. Para muito além de nama e rupa, brilha a luz de Brahman, a grande consciência universal, o fundamento de todo ser. Na fi­losofia budista, os reinos das idéias e material são denominados Sambhogakaya e Nirmanakaya, respectivamente. Todavia, pairando sobre esses reinos, encontra­-se a consciência única, Dharmakaya, que ilumina ambos. O símbolo taoísta do ying e yang também explicita o reino transcendente da matéria e o reino imanente da mesma, sendo Tao o princípio organizador que ora permite a luz, ora as trevas. A física quântica, muito embora menos poética que a literatura espiritual, transi­ta, ora como onda, ora como partícula, ora identificando o elétron, ora perdendo-­o para um suposto universo que transcende o espaço-tempo conhecido, sendo a responsável pela fixação da “realidade”, a consciência do observador.

Para Amit Goswami, a vida apresenta-se para os seres humanos como uma película de cinema. Entre cada foto, existe um abismo transcendente da não-foto. Contudo, a velocidade de nossa percepção não nos permite perceber as constan­tes trocas entre fotos e não-fotos; percebemos somente a continuidade do filme. Assim como no cinema, o mundo material é instável, oscilando através das re­gras quânticas. Contudo, nossa percepção é incapaz de perceber essa instabilida­de da matéria, pois a consciência maior fixa nossa percepção em somente uma das possibilidades.

No ano de 2001, Amit Goswami participou do programa Roda Viva, da TV Cultura. Suas idéias foram explicitadas com clareza diante de uma bancada de entrevistadores formada por físicos, jornalistas, psiquiatras, filósofos, psicó­logos e teólogos. Amit se esforçou por deixar claro que continua a transitar pela ciência ortodoxa, mas afirmou que a mesma passa por um período de crise exis­tencial, e que sua proposta é, através dos pressupostos teóricos da física quân­tica, inserir a noção de Deus como fator fundamental na matemática probabi­lística da nova física, estreitando, assim, as lacunas entre ciência e religião. Al­gumas de suas idéias foram por mim escolhidas para representar sua filosofia, o idealismo monista:

“Esta mudança da ciência de uma visão materialista para uma visão espiritualista, foi quase totalmente devida ao advento da física quântica. Ao mesmo tempo, houve algumas mudanças em psicologia transpessoal, em biologia evolucionista e em medicina. Mas acho que é correto dizer que a revolução que a física quântica causou na física, na virada do século XX, seria baseada nessas transições contínuas, não apenas movimento contínuo, mas também descontínuo. Não- localidade. Não apenas transferência local de informações, mas transferência não-local de informações. E, finalmente, o conceito de causalidade descendente. É um conceito interessante, pois os físicos sempre acreditaram que a causalidade subia a partir da base: partículas elementares, átomos, para moléculas, para células, para encéfalo. E o encéfalo é tudo. O encéfalo nos dá consciência, inteligência, todas essas coisas. Mas descobrimos, na física quântica, que a consciência é necessária, o observador é necessário. É o observador que converte as ondas de possibilidades, os objetos quânticos, em eventos e objetos reais. Essa idéia de que a consciência é um produto do encéfalo nos cria paradoxos. Em vez disso, cresceu a idéia de que é a consciência que também é causal.

Assim, cresceu a idéia da causalidade descendente. Eu diria que a revolução que a física quântica trouxe, com três conceitos revolucionários, movimento descontínuo, interconectividade não- localizada e, finalmente, somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana normal, o conceito de causalidade descendente, a consciência escolhendo entre as possibilidades, o evento real. Esses são os três conceitos revolucionários. Então, se houver causalidade descendente, se pudermos identificar essa causalidade descendente como algo que está acima da visão materialista do mundo, então, Deus tem um ponto de entrada. Agora sabemos como Deus, se quiser, a consciência, interage com o mundo: através da escolha das possibilidades quânticas.”

Que fique claro que, no presente momento, consciência não é sinônimo de mente. Para as neuro­ciências, a interação dos neurônios, fruto de sua herança genética e suas experiências cotidianas, pode criar o conceito de mente. Todavia, a matemática quântica pro­posta por Goswami concede à consciência a primazia de preceder o encéfalo e, segundo ele, o encéfalo material só existe pelo fato dessa consciência escolhê-Io dentre as possibilidades vigentes.

Os próprios físicos quânticos fizeram todo o esforço possível no intuito de negar a importância de um observador nos fenômenos físicos, todavia, atualmen­te é consenso entre eles que os objetos quânticos são matematicamente inconsis­tentes e inexistem sem a introdução da consciência:

“Na física quântica, por sete décadas, tentou-se negar o observador. De alguma forma, achava-se que a física deveria ser objetiva. Se dessem um papel ao observador, a física não seria mais objetiva. A famosa disputa entre Bohr e Einstein, a que se refere essa disputa, basicamente, sempre terminava com Bohr ganhando a discussão, mostrando que não há fenômeno no mundo, a menos que ele seja registrado. Bohr não usou a consciência, mas, atualmente, vem crescendo o consenso, muito lentamente, de que a física quântica não está completa, a menos que concordemos que nenhum fenômeno é um fenômeno, a menos que seja registrado por um observador, na consciência de um observador. E isso se tornou a base da nova ciência. É a ciência que, aos poucos, mas com certeza, vem integrando os conceitos científicos e espirituais.”

Talvez seja interessante reproduzir, com as palavras do próprio Amit, a sua compreensão do conceito de Deus, pois não são poucas as pessoas que, de forma impulsiva, classificam cientistas como Goswami de místicos somente pelo fato desses pesquisadores introduzirem conceitos divinos em um mundo que se acos­tumou a viver uma objetividade que, no presente, não se sustenta mais:

“Os conceitos da física clássica, no início, não separavam Deus, como disse, mas então, aos poucos, descobriu-se que Deus não era necessário. Depois que Deus estabeleceu o movimento do mundo, ele passou a ser guardião de seu jardim, e isso é o que a maioria dos físicos clássicos pode fazer. Mas, na física quântica, há o problema da medição. Como as possibilidades tornam-se eventos reais, temos espaço para uma consciência, e ela deve ser uma consciência cósmica. Há uma semelhança com o modo como Deus é retratado, pelo menos na subespiritualidade tradicional, não na mente popular. A mente popular considera Deus um imperador um super-­humano sentado no céu. Essa imagem de Deus não é científica, e espero que esteja claro que não estamos falando em Deus desta forma, mas Deus nessa consciência mais cósmica, nessa forma mais estrutural. Esse tipo de Deus está retornando porque, o debate entre teólogos e cientistas sempre foi: Deus é o guardião ou Deus intervém? Teólogos afirmam que Deus intervém nos seres biológicos.

E então surgiu Darwin. Foi um grande golpe nos teólogos, porque antes, apesar de Newton, os teólogos podiam citar o exemplo da biologia, cujo propósito é muito óbvio, pelo menos, óbvio para a maioria. Mas a teoria de Darwin foi um golpe porque se dizia que a evolução ocorria… Mas ela era natural? Darwin disse que ela era natural. Oportunidade e necessidade. Não há necessidade de Deus na evolução, e não há necessidade de Deus na biologia. Então, no século XX, surgiu o behaviorismo e a idéia de que temos livre-arbítrio subjetivo. Essa idéia também foi superada, porque experimentos mostraram que somos muito condicionados, não há livre-arbítrio. Contra tudo isso, vejam só, a física quântica também cresceu ao mesmo tempo em que o behaviorismo, e a física quântica tem uma coisa peculiar: o princípio da incerteza. O mundo não está determinado como imaginamos. Deus não é o guardião. O princípio da incerteza levou à onda de possibilidades, depois o colapso da onda de possibilidades para a introdução da idéia do colapso da consciência. Paradoxalmente, fomos criados contra essa idéia, mas nos anos 90, eu, Henry Stab, Fred Allan Wolf, Nick Herbert, todos mostramos que esse paradoxo pode ser resolvido.

Não há paradoxo se presumirmos que a consciência que causa o colapso da onda de possibilidades em eventos reais é uma consciência cósmica. E o evento do colapso em si nos dá a separação matéria-objeto do mundo. Assim, não só resolvemos o problema da medição quântica como também demos uma nova resposta de como a consciência de um torna-se várias. Como ela se divide em matérias e objetos, para poder ver a si mesma. E essa idéia de que o mundo é um jogo da consciência, um jogo de Deus, que é uma idéia muito mística, voltou à tona. Então, podemos voltar à biologia. Deus intervém na biologia? Deus intervém na vida das pessoas? Essas perguntas continuam tendo respostas muito positivas. Vi, em um jornal sobre biologia evolucionista, que há muitos furos conhecidos na teoria darwiniana. Esses furos são chamados sinais de pontuação. A teoria da evolução de Darwin explica alguns estágios homeostáticos da evolução, ou seja, como as espécies adaptam-se a mudanças ambientais. Mas não explica como uma espécie torna-se outra. Essa especiação, mudança de uma espécie em outra, é uma nova mudança na evolução, não está na teoria de Darwin. Experimentalmente, isso é demonstrado em lacunas de fósseis. Não temos uma continuidade de fósseis mostrando como um réptil tornou-se um pássaro.

A idéia é que sejam sinais de pontuação: estágios muito rápidos de evolução. Eu sugiro que isto seja um salto quântico, um salto quântico na evolução. Nesse salto quântico, a consciência interveio, não de um modo subjetivo, de um modo caprichoso, mas de um modo muito objetivo, muito objetivo, e essas idéias objetivas ficam claras com o trabalho de Rupert Sheldrake e outros, o modo como isso pode ser objetivo. Mas, sem dúvida alguma, há uma intervenção da causalidade descendente. Não se pode explicar a biologia evolucionista só com a causalidade ascendente. Essa é a coisa mais interessante, a partir do pensamento original dos físicos de que Deus deve ser o guardião, pois tudo pode ser explicado e tudo é determinado, que não precisamos de Deus. Agora, estamos fechando o círculo, e vemos que não só precisamos de Deus: há movimentos descontínuos no mundo para os quais não existe explicação matemática ou lógica. Ainda assim, é totalmente objetivo, não é arbitrário. Deus age de forma objetiva, bem definida. A consciência cósmica não é subjetiva, não é a consciência individual que afeta o mundo.

Isso ocorre de forma cósmica, podemos discutir objetivamente. A ciência detém seu poder, sua objetividade e, ainda assim, temos agora a descontinuidade, temos a interconectividade e podemos falar sobre vários assuntos dos quais os místicos tradicionalmente falam.”

As idéias de Amit Goswami parecem absolutamente sem fundamenta­ção empírica. Contudo, em seu livro, Goswami fundamenta todos os seus pressu­postos com base em experimentos absolutamente científicos advindos dos labo­ratórios de física, assim como dos laboratórios de neurociências espalhados pelo mundo. No entanto, manter-se informado sobre tudo o que está acontecendo no planeta Terra, nas mais diversificadas áreas do saber, e ainda tentar tecer coeren­temente a teia do conhecimento é um trabalho que demanda anos. Cada cientis­ta tem trabalhado de forma aparentemente isolada, e somente “gênios” da ciência têm o poder e a coragem de, ao se expor, propor visões unificadoras. São muitos os exemplos que embasam as propostas de Goswami, e ele mesmo explicita um deles, advindo das neurociências:

“Em 1993 e 1994, o neurofisiologista mexicano Jacob Grinberg-­Zylberbaum e
seus colaboradores fizeram um experimento, no qual havia dois observadores meditando por 20 minutos, com o propósito de terem comunicação direta. Comunicação direta no estilo de não-localidade. Sinais não-locais ocorrendo entre eles, e ainda assim eles teriam comunicação. Certo, eles meditaram juntos. Pediu-se que mantivessem o estado meditativo durante o resto do experimento. Mas então, um deles é levado para outro recinto. Eles ficam em câmaras de Faraday, onde não é possível a comunicação eletromagnética. Os encéfalos deles são monitorados. Uma das pessoas vê uma série de ‘flashes’ brilhantes, o encéfalo dele responde com atividade elétrica, obtém-se o potencial de resposta muito claro, picos muito claros, fases muito claras. O encéfalo da outra pessoa mostra atividade, a partir da qual obtém-se um potencial de transferência que é muito semelhante em força e 70% idêntico em fases ao potencial de resposta da primeira pessoa. O mais interessante é que, se você pegar duas outras pessoas, duas pessoas que não meditaram juntas, ou pessoas que não tinham a intenção de se comunicar, para elas, não há potencial de transferência. Mas para pessoas que meditam juntas, invariavelmente, muitas vezes, um em cada quatro casos, obtém-se o fenômeno de potencial de transferência. E Peter Fenwick, na Inglaterra, há dois anos, confirmou isso, repetindo o experimento.”

Mais uma vez, fica explícita a velocidade com que a ciência tem transita­do em nossos dias. Michael Persinger sequer chegou a ser conhecido mundial­mente pelos seus trabalhos de comunicação através do eletromagnetismo, e no­vas pesquisas já evidenciam a possibilidade de uma comunicação não-local entre dois encéfalos. Por não-local entenda-se não pontuada por nenhum tipo de sinal conhecido por nós. O experimento a que Amit Goswami faz referência identifi­cou padrões de comunicação entre dois encéfalos isolados de todo e qualquer si­nal eletromagnético. Que fique claro para o leitor que essa pesquisa não invalida as evidências propostas por Persinger, sendo que Persinger transitaria, por assim dizer, nas novas possibilidades de comunicação no reino imanente, e Jacob Grin­berg-Zylberbaum inicia a identificação de uma suposta comunicação não-local. Ao que parece, comunicação que transcende o espaço-tempo conhecido.

Durante o programa Roda Viva, pôde-se perceber a resistência de alguns dos entrevistadores às idéias sugeridas por Amit Goswami. Um dos entrevistado­res chegou mesmo a afirmar que Amit Goswami não é mais um físico. Contudo, Goswami acredita que a história da ciência se repetirá mais uma vez, e que o tem­po se incumbirá de trazer à tona a massiva verificação empírica dessas idéias:

“Eu acredito que as idéias se verificarão por si mesmas, serão confirmadas nos laboratórios e serão úteis. A ciência tem dois critérios fundamentais. Por isso Galileu é chamado de pai da ciência moderna, pois ele enunciou claramente esses dois critérios. Um é que a ciência deve ser verificável. Ela deve ser verificada experimentalmente. E a segunda idéia é que a ciência deve ser útil. No aspecto da verificação, já apresentei alguns experimentos a vocês, pois o tempo é curto, não entrarei em outros experimentos, mas digo que há um número enorme de experimentos sendo realizados, graças à parapsicologia e aos interessados em parapsicologia. Mas também em biologia, e a medicina é uma grande área de verificação experimental de algumas de nossas idéias. Mas a questão da utilidade é a mais importante. Deepak Chopra ficou famoso por um livro que escreveu chamado Cura Quântica, lançado há 10 anos. Ele começou a revolucionar a medicina, de certa forma, pois há um fenômeno chamado “efeito placebo” para o qual os cientistas não têm explicação. E esse trabalho que é muito semelhante à minha forma de pensar, e eu tenho lido trabalhos citando a conexão entre as nossas idéias… Mas veja as implicações disso. Se, de fato, houver cura quântica, se houver medicina mental, o efeito da mente sobre a cura, então as pessoas serão de fato ajudadas, não apenas no campo da psicologia, mas no campo da verdadeira saúde física.

A saúde física real, que importa para muito mais pessoas do que a saúde mental, ainda não estamos esclarecidos o bastante para levar a saúde mental tão a sério. Mas todos se preocupam com a saúde física, levam muito a sério. É a aplicação da nova ciência a essas áreas, especialmente na área da saúde, que vai trazer a revolução de que Deus é importante, a consciência é importante, a criatividade é importante, observar o livre-arbítrio e responsabilidade é importante, que temos um paradigma cientifico que pode unir todas essas coisas, trazê-Ias para junto da velha ciência e ter formas objetivas de proceder e prever. Será uma ciência previsível, poderá ser verificada e também será útil. Isso é o que mudará a percepção do público. A percepção dos cientistas, também. Fonte